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quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Futebol, uma "escola" de Intolerância, Fanatismo e Selvajaria?



Longe vão os tempos em que era costume a família reunir-se e aproveitar a visita da sua equipa ao adversário doutro lugar, para passear, visitar os sítios mais interessantes desse lugar, antes de entrar no estádio, com um piquenique pelo meio.

Longe vão os tempos em que os pais levavam os filhos a ver um jogo para aprofundar o convívio familiar e com amigos.

Um estádio de futebol, em Portugal, e um pouco por esse mundo fora, é hoje um lugar pouco recomendável, onde já ninguém está à vontade para levar os filhos ou a família, a não ser que se seja da mesma “qualidade” dos energúmenos que lideram as claques, autênticos bandos de arruaceiros organizados (e financiados pelos clubes!!).

As claques de futebol são hoje verdadeiros alforges de criminosos, arruaceiros e miseráveis, liderados por gangs de traficantes, candidatos a líderes da extrema direita e falhados de toda a espécie.

Por isso não me surpreendeu o que sucedeu no estádio do Vitória de Guimarães, repetindo, aliás, o que se passa todos os fins de semana por esses estádios fora.

A diferença desta vez foi que houve um jogador, Marega, do Futebol Clube do Porto, que teve a coragem de “dar um murro na mesa”.

Não que os adeptos do Porto, tal como os do Benfica ou do Sporting, sejam mais recomendáveis do que os de Guimarães, só que, a partir de agora tudo passará a ser diferente e deixa de haver desculpa por parte das autoridades, as desportivas e as oficiais, para continuarem a agir com passividade ou condescendência face ao comportamento da banditagem que tomou conta das bancadas dos estádios de futebol.

Condescendência e exemplo que já tinha sido dado por um tribunal de Lisboa em relação a uma acusação de ofensa contra um delegado de jogo contra um treinador, cujo juiz (uma classe que se tem revelado das mais retrógradas do país, neste e noutros casos…), considerou não ter provimento porque esse comportamento, apesar de traduzir “falta de educação” e “baixeza moral”, sendo “contra as regras éticas desportivas”, era “tolerado nos bastidores da cena futebolística”.

Essa vergonhosa sentença, proferida há quatro meses pelos juízes da 9ª Secção Criminal do tribunal da Relação de Lisboa revelou que, para o tribunal “insultar alguém num jogo de futebol é uma coisa, insultar fora de um campo de futebol é outra” (Jorge Miguel Matias, “Tribunal aceita que se possa insultar no futebol”, in Público de 18 de Fevereiro de 2020).

Contra essa sentença insurgiu-se na altura o presidente do Comité Olímpico de Portugal, José Manuel Constantino que, então na sua página do facebook, considerou que “a dignidade humana é um bem a defender em todos os contextos”, “mesmo nos recintos desportivos” pois estes “não podem ser “ uma espécie de offshore onde se pode praticar o que no exterior é criminalizado”, acrescentando que essa atitude do juiz “derruba qualquer esforço de professores, pais e autoridades desportivas para a regulação dos comportamentos em situação competitiva”, considerando que o exemplo transmitido pelo tribunal “é socialmente muito negativo”.

Se juntarmos a esse comportamento lamentável de um tribunal a boçalidade generalizada do comentário desportivo na comunicação social, a agressividade e intolerância fanatizada de dirigentes desportivos, claques e adeptos, não é de admirar o que aconteceu em Guimarães.

O próprio comportamento de muitos pais frente aos filhos nas bancadas deixa também muito a desejar.

Numa crónica que ouvi recentemente na Antena 1, o comentador contava um caso a que assistiu entre adeptos do Benfica, no estádio da Luz (…e eu sou “benfiquista”, para que não haja dúvidas sobre o que vou escrever): uma criança, assistindo a um jogo ao lado do pai, desferia todo o rol de asneiras que conhecia em direcção à equipa adversária, perante a passividade e até atitude “colaborativa” do pai. Pior ainda, quando, numa atitude racista idêntica à que vimos em Guimarães o “puto” se pôs aos urros a imitar um macaco, o pai, orgulhoso, passou ternamente a sua mão pela cabeça da criança…

Perante este tipo de exemplos, só é de espantar como é que foi preciso chegar ao acto corajoso de Marega para toda a gente se aperceber daquilo que se passa nos estádios de futebol.

O abjecto acto racista em Guimarães é “apenas” mais um a juntar a tantas outras atitudes impunes de claques, adeptos e dirigentes desportivos.

É tempo de dizer basta, condenado exemplarmente os adeptos envolvidos, mas indo ainda mais longe, seguindo a atitude da direcção do Sporting, retirando todo o apoio às claques, extinguindo-as até, porque é o primitivo  espírito tribal fomentado por elas que transforma um pacato cidadãos, bem comportado em sociedade e em família, num arruaceiro intolerante, xenófobo, fanático e extremista, preparando-o até para extravasar essa atitude para a sociedade.

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