Para além do espectáculo pop-pimba, dado pelo Parlamento Europeu na
hora da despedida da Grã-Bretanha, após 47
anos de “casamento” por conveniência, o grande receio dos burocratas de
Bruxelas e da Troika que nos governa (Comissão Europeia, Eurogrupo e BCE) é
mesmo se a Grã Bretanha, após uma dúzia de anos difíceis, acabe por se sair bem
de tudo isto.
A arrogância manifestada por essa Troika nos últimos 3 anos face à
Grã-Bretanha, justifica-se pela necessidade de fazer da “desgraça” britânica um
exemplo para os que contestam o seu poder.
Claro que, internamente, o governo britânico tem de enfrentar a contestação
das elites económicas, financeiras e intelectuais que mais beneficiavam com os
negócios no continente, bem como as ameaças independentistas escocesas e
irlandesas, legitimas e históricas.
Claro que os graves problemas sociais que existem na Grã-Bretanha, iniciados com o governo neoliberal de Thactcher, e que os seus cidadãos atribuem à União Europeia, se não forem resolvidos agora, tiram poder de manobra e legitimidade aos defensores do Brexit.
Mas mesmo esta situação pode tornar-se um grande problema para os
burocratas de Bruxelas, pois, se aceitarem, por vingança ou interesse próprio,
a independência da Escócia e a integração da Irlanda do Norte na República da
Irlanda, deixarão de ter legitimidade para negar o direito à independência da
Catalunha, para além de terem de enfrentar muitas outras situações idênticas no próprio seio do espaço Europeu.
Além disso, em muitos casos, a prazo, é a União Europeia que perde.
A Grã-Bretanha tem, obviamente, como língua oficial o inglês, que
continua a ser, no seio da União Europeia, a única língua de entendimento num
espaço com mais de vinte línguas, embora não exista agora um único país da EU que
tenha o inglês como língua oficial.
A Grã-Bretanha tem moeda própria, a libra, uma das mais antigas do
mundo, mais consolidada do que o euro, uma das 4 mais importantes a nível
mundial (dólar, euro, libra e o iene).
A Grã-Bretanha tem um dos três exércitos mais poderosos da Europa,
sendo que ou outros dois estão fora da UE, o Russo e o Turco.
A Grã-Bretanha tem em Londres o maior centro financeiro da Europa e um
dos maiores do mundo, e nada nos leva a acreditar que o vai deixar de ter.
A Grã-Bretanha já não pertencia ao Tratado de Schengan antes do Brexit,
pelo que o problema da fronteira com a Irlanda é um falso problema.
Ou seja, a Grã-Bretanha tem todas as condições para, depois de uns anos
de instabilidade e algumas dificuldades, se poder tornar uma potência mais
atractiva do que uma União Europeia que não cresce, desigual (veja-se as
disparidades no seio de países do euro, entre salários, pensões, preços e
condições de vida), com uma classe média com crescentes dificuldades de
sobrevivência, alimentando o populismo de extrema-direita (que já governa
países como a Hungria e a Polónia e, em coligação, outros países da UE),
totalmente submetida aos ditames do poder financeiro, em prejuízo dos direitos
socias dos cidadãos europeus, incapaz de resolver eficazmente o drama dos
imigrantes, sem politica internacional autónoma (a reboque dos Estados Unidos e
da NATO).
Se os líderes europeus se preocuparem mais em castigar a Grã-Bretanha
do que a interrogarem-se sobre as razões do Brexit, a prazo, para mal de todos
nós, diga-se, voltaremos a ver o triste espectáculo pimba no Parlamento
Europeu, mas desta vez as lágrimas correrão pelo…Eurexit!
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