Pesquisar neste blogue

sábado, 1 de fevereiro de 2020

BREXIT ou EUREXIT?



Para além do espectáculo pop-pimba, dado pelo Parlamento Europeu na hora da despedida da Grã-Bretanha, após  47 anos de “casamento” por conveniência, o grande receio dos burocratas de Bruxelas e da Troika que nos governa (Comissão Europeia, Eurogrupo e BCE) é mesmo se a Grã Bretanha, após uma dúzia de anos difíceis, acabe por se sair bem de tudo isto.

A arrogância manifestada por essa Troika nos últimos 3 anos face à Grã-Bretanha, justifica-se pela necessidade de fazer da “desgraça” britânica um exemplo para os que contestam o seu poder.

Claro que, internamente, o governo britânico tem de enfrentar a contestação das elites económicas, financeiras e intelectuais que mais beneficiavam com os negócios no continente, bem como as ameaças independentistas escocesas e irlandesas, legitimas e históricas.

Claro que os graves problemas sociais que existem na Grã-Bretanha, iniciados com o governo neoliberal de Thactcher, e que os seus cidadãos atribuem à União Europeia, se não forem resolvidos agora, tiram poder de manobra e legitimidade aos defensores do Brexit.

Mas mesmo esta situação pode tornar-se um grande problema para os burocratas de Bruxelas, pois, se aceitarem, por vingança ou interesse próprio, a independência da Escócia e a integração da Irlanda do Norte na República da Irlanda, deixarão de ter legitimidade para negar o direito à independência da Catalunha, para além de terem de enfrentar muitas outras situações idênticas  no próprio seio do espaço Europeu.

Além disso, em muitos casos, a prazo, é a União Europeia que perde.

A Grã-Bretanha tem, obviamente, como língua oficial o inglês, que continua a ser, no seio da União Europeia, a única língua de entendimento num espaço com mais de vinte línguas, embora não exista agora um único país da EU que tenha o inglês como língua oficial.

A Grã-Bretanha tem moeda própria, a libra, uma das mais antigas do mundo, mais consolidada do que o euro, uma das 4 mais importantes a nível mundial (dólar, euro, libra e o iene).

A Grã-Bretanha tem um dos três exércitos mais poderosos da Europa, sendo que ou outros dois estão fora da UE, o Russo e o Turco.

A Grã-Bretanha tem em Londres o maior centro financeiro da Europa e um dos maiores do mundo, e nada nos leva a acreditar que o vai deixar de ter.

A Grã-Bretanha já não pertencia ao Tratado de Schengan antes do Brexit, pelo que o problema da fronteira com a Irlanda é um falso problema.

Ou seja, a Grã-Bretanha tem todas as condições para, depois de uns anos de instabilidade e algumas dificuldades, se poder tornar uma potência mais atractiva do que uma União Europeia que não cresce, desigual (veja-se as disparidades no seio de países do euro, entre salários, pensões, preços e condições de vida), com uma classe média com crescentes dificuldades de sobrevivência, alimentando o populismo de extrema-direita (que já governa países como a Hungria e a Polónia e, em coligação, outros países da UE), totalmente submetida aos ditames do poder financeiro, em prejuízo dos direitos socias dos cidadãos europeus, incapaz de resolver eficazmente o drama dos imigrantes, sem politica internacional autónoma (a reboque dos Estados Unidos e da NATO).

Se os líderes europeus se preocuparem mais em castigar a Grã-Bretanha do que a interrogarem-se sobre as razões do Brexit, a prazo, para mal de todos nós, diga-se, voltaremos a ver o triste espectáculo pimba no Parlamento Europeu, mas desta vez as lágrimas correrão pelo…Eurexit!

Sem comentários: