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quarta-feira, 10 de maio de 2017

Baptita Bastos : Homenagem a um homem decente


“Não há mortes naturais. Todas as mortes são injustas como uma culpa infundada, e inúteis como uma heresia”.
Baptista Bastos, in Diário de Notícias , 23 de Janeiro de 2008.
 

Baptista Bastos foi o último de uma geração de grandes jornalistas, daqueles que já não se fabricam, formados na “tarimba”, cultos, com um alto sentido ético e…estético.

Homem coerente, frontal, justo, amigo, Baptista Bastos é uma imortal.

Só a ignorância, a má-fé, a intolerância e a mesquinhez,  que grassa actualmente no mundo do jornalismo, permitiram que ele tenha acabado os seus dias quase esquecido e relegado a escrever crónicas no “Correio da Manhã”

Baptista Bastos foi um dos últimos cultores de uma atitude humanista e iluminista no jornalismo, caracterizado pela sua personalidade multifacetada; grande cinéfilo (começou por escrever crónicas de cinema no “Século Ilustrado), autor de ficção, professor de língua e literatura, colaborador em projectos de televisão e cinema, escritor de obras literárias injustamente esquecidas por muitos.

Foi um grande exemplo na luta pela liberdade.

Como ele próprio escreveu um dia “ser livre é muito difícil”. A sua luta pela liberdade custou-lhe a perseguição antes do 25 de Abril, tendo sido despedido, por razões políticas, do jornal “O Século” e, mais tarde, da RTP.

A situação voltou a repetir-se em 2014 quando o Diário de Notícias o despediu, juntamente com outros jornalistas, não sendo de estranhar as suas crónicas bastante críticas para o poder de então, num jornal que sempre se caracterizou pela sua fidelidade aos poderes do  momento.

Mas foi no “Diário Popular”, onde trabalhou entre 1965 e 1988, que se consolidou como um grande jornalista de reportagem e entrevistas. Aliás o seu estilo como entrevistador tem sido exemplo a seguir em escolas de jornalismo onde o seu livro “A Palavra dos Outro”, de 1969, é de leitura obrigatória, uma espécie de “Bíblia” desse género jornalístico.

Aliás , foi o título de uma série de entrevistas realizadas para a SIC que tornaram “viral” a frase “onde estavas no 25 de Abril?”.

Na crónica foi autor maior, sem seguidores à altura na actualidade (aliás, a “crónica” deu lugar ao “comentário político”, na esmagadora maioria da imprensa actual). Nessas crónicas revelou sempre um profundo conhecimento da língua portuguesa, um sentido literário profundo, uma cultura vasta e diversificada e um grande sentido de humanidade.

Foi ainda autor de mais de uma dezena de títulos de ficção, que têm geralmente Lisboa por cenário, revelando uma sensibilidade e uma escrita viva. O seu contributo para a literatura portuguesa tem sido injustamente esquecido.

Referindo-se à grande ternura que emanava da sua obra literária, BB afirmou que, para ele, a escrita era “ uma mulher com cheiro de mulher, indomável mas aberta a quem a ama e atenta a quem a respeita”( Diário de Notícias de 5 de Julho de  2008).

Pessoalmente cruzei-me, há uns trinta anos, com Baptista Bastos, que se tinha deslocado a Torres Vedras, à escola onde eu lecionava, para falar da sua obra literária. Na altura já eu tinha lido quatro das suas obras (“O Secreto Adeus”, “Cão Velho entre Flores”, “Viagem de um pai e de um filho pelas ruas da amargura” e “Elegia para um caixão vazio”), visões poéticas sobre o quotidiano lisboeta dos seus personagens, que incluíam algumas das mais belas páginas eróticas, escritas com uma ternura rara nesse tipo de escrita.

Lembro-me que Baptista Bastos ficou muito sensibilizado por encontrar em mim um então raro leitor da sua obra literário, autografando-me entusiasticamente os livros que levava, depois de me revelar todos os seus dotes de grande conversador.

É uma imagem de simpatia, humanidade  e humildade que guardo desse encontro e que registo aqui como homenagem  a um dos últimos homens decentes do jornalismo português.
 
As Crónicas de Baptista Bastos forma várias vezes o tema da nossa rubrica "O Respigo de Semana", e podem ser consultadas AQUI.

Em baixo reproduzo uma biografia de Baptista Bastos, recentemente publicada no “Jornal de Negócios”, como algumas frases soltas retiradas de crónicas suas, respigadas do site “citador”.

Até sempre amigo Baptista Bastos.
 
“Baptista Bastos Cronista

“Considerado um dos maiores prosadores portugueses contemporâneos, Baptista-Bastos (Armando Baptista-Bastos) nasceu em Lisboa, no Bairro da Ajuda (que tem centralizado em vários romances e numerosas crónicas), em 27 de Fevereiro de 1934. Frequentou a escola de Artes Decorativas António Arroyo e o Liceu Francês.
Começou o seu percurso profissional em «O Século», matutino em representação do qual viajou por numerosos países. N’«O Século Ilustrado», de que foi subchefe de Redacção com, apenas, 19 anos, assinou uma coluna de crítica cinematográfica, «Comentário de Cinema», que se tornou famosa pelo registo extremamente polémico. Em Abril de 1960 é despedido de «O Século» por motivos políticos (esteve envolvido na Revolta da Sé, 1959, na decorrência da candidatura Delgado, de que foi activista), e, devido às circunstâncias, trabalhou na RTP numa semi-clandestinidade e com um nome suposto: Manuel Trindade. Com esse pseudónimo redigiu noticiários, e assinou textos de documentários para Fernando Lopes [«Cidade das Sete Colinas», «Os Namorados de Lisboa», «Este Século em que Vivemos»], e para Baptista Rosa, «O Forcado», com imagem de Augusto Cabrita, e música de Miles Davies, «Scketchs of Spain.» Seis meses decorridos foi despedido da RTP, porque o então secretário nacional da Informação, César Moreira Baptista, mais tarde ministro do Interior no governo de Marcelo Caetano, deu instruções nesse sentido, dizendo, num ofício: «Esse senhor é um contumaz adversário do regime.»
Em épocas distintas Baptista-Bastos pertenceu, também, aos quadros redactoriais de «República», «Europeu», «O Diário»; e aos das revistas «Cartaz», «Almanaque», «Seara Nova», «Gazeta Musical e de Todas as Artes», «Época» e «Sábado». Foi, igualmente, redactor em Lisboa da Agence France Press.
Porém, é no vespertino «Diário Popular», onde trabalhou durante vinte e três anos (1965-1988), e no qual desempenhou importantes funções, que marca, «com um estilo inconfundível» [Adelino Gomes] o jornalismo da época. Naquele diário publicou «algumas das mais originais e fascinantes reportagens, entrevistas e crónicas da Imprensa portuguesa da segunda metade do século» [Afonso Praça]. «Um dos maiores jornalistas portugueses de sempre» [David Lopes Ramos, in «Público]. Tanto no jornalismo como na literatura situa-se na primeira linha da narrativa portuguesa contemporânea.
Colaborou, ou ainda colabora, como cronista [«um dos grandes escritores da cidade de Lisboa», Eduardo Prado Coelho, in «O Cálculo das Sombras»], em «Jornal de Notícias», “A Bola”, «Tempo Livre»; e, também, no «JL – Jornal de Letras artes e Ideias», no «Expresso», no «Jornal do Fundão» e no «Correio do Minho». Foi fundador do semanário «O Ponto», no qual, entre outros grandes textos e reportagens, realizou uma série de oitenta entrevistas que assinalaram uma renovação naquele género jornalístico e marcaram a época. Escreveu e leu crónicas para Antena Um e Rádio Comercial. Foi o primeiro dos comentadores de «Crónicas de Escárnio e Maldizer», famosa e popular rubrica da TSF – Rádio Jornal. Colunista do «Público» e do «Diário Económico».
Foi docente na Universidade Independente, onde leccionou a disciplina de Língua e Cultura Portuguesas.
Realizou uma série de entrevistas para as revistas «TV Mais» e TV Filmes». Presença frequente em debates nas televisões apresentou, no Canal SIC, de Novembro de 1996 e Janeiro de 1998, e a convite de Emídio Rangel, um programa, «Conversas Secretas», com assinalável êxito. De Janeiro a Agosto de 2001 fez, para a SIC-Notícias, um programa de entrevistas, «Cara-a-Cara.»
Percorreu, profissionalmente, todo o Portugal Continental e Insular, e viajou e escreveu sobre Espanha, Canárias, França, Itália, Bélgica, Irlanda, Brasil, Uruguai, Argentina, Suíça, Luxemburgo, Grécia, Áustria, Turquia, República Democrática Alemã, República Federal da Alemanha, Checoslováquia, URSS, Marrocos, Suécia, Dinamarca, Finlândia, Nigéria, Angola, Moçambique, Cabo Verde, etc.
Um dos seus livros de textos jornalísticos, «As Palavras dos Outros», é considerado «um clássico» e «uma referência obrigatória na profissão» [Adelino Gomes e Fernando Dacosta], sendo recomendado como «leitura indispensável» no I Curso de Jornalismo organizado pelo sindicato da classe.
Todos os livros de Baptista-Bastos (romances, crónicas, entrevistas, reportagens, ensaio cinematográfico) estão antologiados em volumes de ensino de Português, e seleccionados por temas em obras representativas das modernas correntes literárias. Está traduzido em checo, búlgaro, russo, alemão, castelhano e francês. Os romances «Cão Velho entre Flores» e «Viagem de um Pai e de um Filho pelas ruas da Amargura» são geralmente considerados obras-primas. O primeiro foi indicado como leitura obrigatória no Curso de Literatura Portuguesa Contemporânea da Sorbonne, sendo professor o Dr. Duarte Faria, e catedrático o Prof. Dr. Paul Teyssier. Este romance foi, também, lido na Rádio Comercial, em 1979, numa produção de Fernando Correia.
Os livros de Baptista-Bastos têm servido de estudos e para teses de licenciatura em universidades portuguesas e estrangeiras.
Em Abril de 1999, a Direcção do matutino «Público» convidou-o a realizar uma série de dezasseis entrevistas, subordinadas ao tema: «Onde é que Você Estava no 25 de Abril?», que desencadeou grandes polémicas e constituiu um assinalável êxito jornalístico. Doze dessas entrevistas (com Álvaro Guerra, Carlos Brito, D. Januário Torgal Ferreira, Emídio Rangel, Fernando de Velasco, Hermínio da Palma Inácio, João Coito, Joshua Ruah, general Kaúlza de Arriaga, Manuel de Mello, padre Mário de Oliveira e Pedro Feytor Pinto) foram inseridas num CD-Rome (que teve uma tiragem de 55 mil exemplares), juntamente com a edição de 25 de Abril de 1999 daquele jornal.
Pela mesma ocasião, a Direcção do «Diário de Notícias» também convidou Baptista-Bastos a escrever o enquadramento do capítulo «O Efémero», da edição especial «O MILÉNIO», iniciativa daquele matutino.


BAPTISTA-BASTOS RECEBEU OS SEGUINTES P
"Considerado um dos maiores prosadores portugueses contemporâneos, Baptista-Bastos (Armando Baptista-Bastos) nasceu em Lisboa, no Bairro da Ajuda (que tem centralizado em vários romances e numerosas crónicas), em 27 de Fevereiro de 1934. Frequentou a escola de Artes Decorativas António Arroyo e o Liceu Francês.

"Começou o seu percurso profissional em «O Século», matutino em representação do qual viajou por numerosos países. N’«O Século Ilustrado», de que foi subchefe de Redacção com, apenas, 19 anos, assinou uma coluna de crítica cinematográfica, «Comentário de Cinema», que se tornou famosa pelo registo extremamente polémico. Em Abril de 1960 é despedido de «O Século» por motivos políticos (esteve envolvido na Revolta da Sé, 1959, na decorrência da candidatura Delgado, de que foi activista), e, devido às circunstâncias, trabalhou na RTP numa semi-clandestinidade e com um nome suposto: Manuel Trindade. Com esse pseudónimo redigiu noticiários, e assinou textos de documentários para Fernando Lopes [«Cidade das Sete Colinas», «Os Namorados de Lisboa», «Este Século em que Vivemos»], e para Baptista Rosa, «O Forcado», com imagem de Augusto Cabrita, e música de Miles Davies, «Scketchs of Spain.» Seis meses decorridos foi despedido da RTP, porque o então secretário nacional da Informação, César Moreira Baptista, mais tarde ministro do Interior no governo de Marcelo Caetano, deu instruções nesse sentido, dizendo, num ofício: «Esse senhor é um contumaz adversário do regime.»

"Em épocas distintas Baptista-Bastos pertenceu, também, aos quadros redactoriais de «República», «Europeu», «O Diário»; e aos das revistas «Cartaz», «Almanaque», «Seara Nova», «Gazeta Musical e de Todas as Artes», «Época» e «Sábado». Foi, igualmente, redactor em Lisboa da Agence France Press.

"Porém, é no vespertino «Diário Popular», onde trabalhou durante vinte e três anos (1965-1988), e no qual desempenhou importantes funções, que marca, «com um estilo inconfundível» [Adelino Gomes] o jornalismo da época. Naquele diário publicou «algumas das mais originais e fascinantes reportagens, entrevistas e crónicas da Imprensa portuguesa da segunda metade do século» [Afonso Praça]. «Um dos maiores jornalistas portugueses de sempre» [David Lopes Ramos, in «Público]. Tanto no jornalismo como na literatura situa-se na primeira linha da narrativa portuguesa contemporânea.

"Colaborou, ou ainda colabora, como cronista [«um dos grandes escritores da cidade de Lisboa», Eduardo Prado Coelho, in «O Cálculo das Sombras»], em «Jornal de Notícias», “A Bola”, «Tempo Livre»; e, também, no «JL – Jornal de Letras artes e Ideias», no «Expresso», no «Jornal do Fundão» e no «Correio do Minho». Foi fundador do semanário «O Ponto», no qual, entre outros grandes textos e reportagens, realizou uma série de oitenta entrevistas que assinalaram uma renovação naquele género jornalístico e marcaram a época. Escreveu e leu crónicas para Antena Um e Rádio Comercial. Foi o primeiro dos comentadores de «Crónicas de Escárnio e Maldizer», famosa e popular rubrica da TSF – Rádio Jornal. Colunista do «Público» e do «Diário Económico».

"Foi docente na Universidade Independente, onde leccionou a disciplina de Língua e Cultura Portuguesas.

"Realizou uma série de entrevistas para as revistas «TV Mais» e TV Filmes». Presença frequente em debates nas televisões apresentou, no Canal SIC, de Novembro de 1996 e Janeiro de 1998, e a convite de Emídio Rangel, um programa, «Conversas Secretas», com assinalável êxito. De Janeiro a Agosto de 2001 fez, para a SIC-Notícias, um programa de entrevistas, «Cara-a-Cara.»

"Percorreu, profissionalmente, todo o Portugal Continental e Insular, e viajou e escreveu sobre Espanha, Canárias, França, Itália, Bélgica, Irlanda, Brasil, Uruguai, Argentina, Suíça, Luxemburgo, Grécia, Áustria, Turquia, República Democrática Alemã, República Federal da Alemanha, Checoslováquia, URSS, Marrocos, Suécia, Dinamarca, Finlândia, Nigéria, Angola, Moçambique, Cabo Verde, etc.

"Um dos seus livros de textos jornalísticos, «As Palavras dos Outros», é considerado «um clássico» e «uma referência obrigatória na profissão» [Adelino Gomes e Fernando Dacosta], sendo recomendado como «leitura indispensável» no I Curso de Jornalismo organizado pelo sindicato da classe.

"Todos os livros de Baptista-Bastos (romances, crónicas, entrevistas, reportagens, ensaio cinematográfico) estão antologiados em volumes de ensino de Português, e seleccionados por temas em obras representativas das modernas correntes literárias. Está traduzido em checo, búlgaro, russo, alemão, castelhano e francês. Os romances «Cão Velho entre Flores» e «Viagem de um Pai e de um Filho pelas ruas da Amargura» são geralmente considerados obras-primas. O primeiro foi indicado como leitura obrigatória no Curso de Literatura Portuguesa Contemporânea da Sorbonne, sendo professor o Dr. Duarte Faria, e catedrático o Prof. Dr. Paul Teyssier. Este romance foi, também, lido na Rádio Comercial, em 1979, numa produção de Fernando Correia.

"Os livros de Baptista-Bastos têm servido de estudos e para teses de licenciatura em universidades portuguesas e estrangeiras.

"Em Abril de 1999, a Direcção do matutino «Público» convidou-o a realizar uma série de dezasseis entrevistas, subordinadas ao tema: «Onde é que Você Estava no 25 de Abril?», que desencadeou grandes polémicas e constituiu um assinalável êxito jornalístico. Doze dessas entrevistas (com Álvaro Guerra, Carlos Brito, D. Januário Torgal Ferreira, Emídio Rangel, Fernando de Velasco, Hermínio da Palma Inácio, João Coito, Joshua Ruah, general Kaúlza de Arriaga, Manuel de Mello, padre Mário de Oliveira e Pedro Feytor Pinto) foram inseridas num CD-Rome (que teve uma tiragem de 55 mil exemplares), juntamente com a edição de 25 de Abril de 1999 daquele jornal.

"Pela mesma ocasião, a Direcção do «Diário de Notícias» também convidou Baptista-Bastos a escrever o enquadramento do capítulo «O Efémero», da edição especial «O MILÉNIO», iniciativa daquele matutino".


"BAPTISTA-BASTOS RECEBEU OS SEGUINTES PRÉMIOS:

### Prémio Feira do Livro de 1966
### Prémio Artur Portela (Casa da Imprensa) de 1978
### Prémio Nacional de Reportagem / Prémio Gazeta de 1985, atribuído pelo
Clube de Jornalistas
### Prémio Urbano Carrasco de 1986
### Prémio Casa da Imprensa: Prémio Prestígio
– Orgulho de uma Profissão, de 1986
### Prémio O Melhor Jornalista do Ano (1980 e 1983)
### Prémio Porto de Lisboa de 1988
### Prémio Pen Clube de 1987 - «A Colina de Cristal»
### Prémio Cidade de Lisboa de 1987 - «A Colina de Cristal»
### Prémio da Crítica 2002 (Atribuído, em 2003, ao romance
«No Interior da Tua Ausência», e como consagração
de uma obra literária)
### Grande Prémio da Crónica da APE (Associação Portuguesa de
Escritores), atribuído, em 2003, ao livro «Lisboa Contada pelos Dedos»,
publicado em 2001
### Prémio Gazeta de Mérito, atribuído, por unanimidade, pelo Clube de
Jornalistas, em 2004.
### Prémio de Crónica João Carreira Bom/Sociedade de Língua Portuguesa,
atribuído por unanimidade, em 2006.
### Prémio Alberto Pimentel do Clube Literário do Porto, pelo conjunto da
obra, em 2006

"Por ocasião dos cinquenta anos do seu percurso de jornalista, e em comemoração da edição do seu primeiro romance, o Primeiro Acto promoveu, em 13 de Setembro de 2005, no Fórum Lourdes Norberto, uma sessão de homenagem, muito concorrida. Falaram Adelino Gomes e Paulo Sucena, respectivamente sobre a actividade jornalística e literária de BB. Carlos do Carmo associou-se à homenagem, cantando os fados preferidos de BB.

"DO AUTOR:

Ensaio:
O Cinema na Polémica do Tempo / 1959
O Filme e o Realismo / 1962 / Duas edições

Ficção:
O Secreto Adeus / 1963 / Seis edições
O Passo da Serpente / 1965 / Duas edições
Cão Velho entre Flores / 1974 / Oito edições
Viagem de um pai e de um Filho pelas Ruas da Amargura / 1981 / Cinco
edições
Elegia para um Caixão Vazio / 1984 / Quatro edições
A Colina de Cristal / 1987 / Quatro edições [Prémio Pen Clube e Prémio Cidade de Lisboa]
Um Homem Parado no Inverno / 1991 / Quatro edições
O Cavalo a Tinta-da-China / 1995 / Quatro edições
No Interior da Tua Ausência / 2002 /Quatro edições [Prémio da Crítica, da Associação Internacional de Críticos Literários]
As Bicicletas em Setembro / 2007
A Bolsa da Avó Palhaça (conto, com ilustrações de Mónica Cid) / 2007
Jornalismo:
As Palavras dos Outros / 1969 / Quatro edições
Cidade Diária / 1972
Capitão de Médio Curso / 1979
O Homem em Ponto / 1984
O Nome das Ruas / 1993 (Em colaboração com António Borges Coelho) José Saramago: Aproximação a um Retrato / 1996
Fado Falado / 1999
Lisboa Contada pelos Dedos (Edição do Montepio Geral) / 2001 / Duas edições

Disco:
O Sinal do Tempo / 1973 / Crónicas ditas pelo Autor, com música
especial de António Victorino d’Almeida (Edições Zip)

Entre 2000 e 2002 as Edições ASA publicaram os nove volumes de ficção do autor, sob o título geral de Biblioteca Baptista-Bastos. Em 2007 foi lançado As Bicicletas em Setembro.

[Baptista-Bastos é, também, o autor do texto e da entrevista do filme «Belarmino», realização de Fernando Lopes, geralmente considerado como um dos clássicos do Cinema Novo português. Para este realizador escreveu, também, além dos textos acima mencionados, «As Palavras e os Fios», um filme de publicidade que se encontra depositado na Cinemateca. Para os realizadores Rogério Ceitil e Fernando Matos Silva escreveu, respectivamente, os textos de fundo dos documentários «Ribatejo» e «Alentejo», destinados á RTP].


"ALGUMAS OPINIÕES SOBRE O AUTOR:


MANUEL DA FONSECA - «Um grande escritor português do nosso tempo.»

MANUEL FERREIRA - «Um dos nossos maiores prosadores vivos.»

MÁRIO DIONÍSIO - «Um escritor de primeira água.»

ANTÓNIO RAMOS ROSA - «Um grande escritor e um grande jornalista. O que é raro.»

MARIA LÚCIA LEPECKI - «É obrigatório ler este livro.» [A propósito do romance «Elegia para um caixão vazio»].

ÓSCAR LOPES - «Com este romance, Baptista-Bastos produziu o livro dos livros novelísticos da sua geração, senão de toda a literatura portuguesa de aquém 1950.» [A propósito de «Viagem de um Pai e de um Filho pelas Ruas da Amargura»].


JORGE DE SENA - «Um dos grandes narradores portugueses do nosso tempo, no que a palavra narrador contém de reinvenção reflexiva e demiúrgica de uma língua (...) Os seus livros distinguem-se, como poucos, dessa massa parda de pretensiosismo medíocre, e certa economia retórica é o que mais me interessa neles. Também neles me interessa uma crueldade seca e irónica.»

JOSÉ RODRIGUES MIGUÉIS - «Um grande e singularíssimo escritor.»

MÁRIO-HENRIQUE LEIRIA - «Os teus livros são um trajecto fascinatório.»

URBANO TAVARES RODRIGUES - «Um livro excepcional. Obra das mais fortes e belas da literatura portuguesa deste século. Uma prosa enxuta, cada vez mais depurada, mais rítmica e mais rica em analogias. Um edifício verbal solidamente construído.» [A propósito de «Cão Velho entre Flores].

«Uma obra-prima. Um livro sublime.» [A propósito de «Viagem de um Pai e de um Filho pelas Ruas da Amargura»].

CARLOS DE OLIVEIRA - «Os livros desertos não interessam a este “bebedor” de quotidiano. Um estilo original: deflagrar de flashes, remíntones, telexes; e a expressão popular, a palavra fora de uso, a moderna argúcia literária. Quer dizer: uma escrita veloz e densa, ao mesmo tempo.»

LUIZ PACHECO - «Jornalismo feito literatura. Isto é, ascendendo ao plano da literatura: na contenção irónica, na capacidade de denúncia e intervenção, obrigando-nos à exploração psicológica dos tipos, no humor dos circunlóquios, principalmente no poder de síntese. Leiam o livro todo. São trabalhos jornalísticos exemplares. Há talento, há verve, há ousadia, há um homem, há um escritor.» [A propósito de «As Palavras dos Outros»]".
in site do Jornal de Negócios

 
FRASES SOLTAS DE BAPTISTA BASTOS:
 
“A nossa sociedade está a desmoronar-se e ninguém lhe acode. Os laços sociais estão a desaparecer, substituídos por um sistema de valores em que impera a vacuidade, o poder da «competitividade» como força motriz - e não é. Há tempo para tudo, diz o Eclesiastes. Mas a verdade é que os «tempos» foram pulverizados pela urgência de não se sabe bem o quê. A frase mais comum que ouvimos é: «Não tenho tempo para»; para quê? A correria mina as relações de civismo e de civilidade; está a roer os alicerces da família; a família deixou de ser o núcleo das nossas próprias defesas; e vamos perdendo o rasto dos nossos filhos, dos nossos amigos, dos nossos camaradas, dos nossos companheiros. A azáfama nos locais de trabalho é o sinal das nossas fragilidades e dos nossos medos. Estamos com medo de tudo, inclusive de confiar em quem, ainda não há muito, seríamos capazes de confidenciar o impensável.”
in Jornal de Negócios / 2009/11/20
 
“A degradação da vida empresarial resulta dessa cartografia de horrores que consiste nos objectivos a atingir, nas etapas que se tem de percorrer, e dos lucros que terão de ser rápidos e vultosos. O «gestor» é muitíssimo bem pago para ser um cão-de-fila. Um universo sem paixões, gelado, uma mistura de indiferença humana com uma selvajaria abstracta”.
in Jornal de Negócios / 2009/10/09

“insistência doentia, quase hora a hora, no futebol, nos comentários, nas previsões, nas análises remove do português comum qualquer reflexão acerca da sua própria situação social. As agendas dos jornais, os alinhamentos e as opções das televisões e das rádios merecem uma vigilância crítica dos próprios profissionais. O que não existe. Manifesta-se uma total subserviência aos imperativos do que dizem ser as exigências do público. É uma velha pecha e uma desculpa fatigante de quem abdicou do dever mais sagrado da comunicação social: informar e esclarecer para formar”.
in Jornal de Negócios / 2009/04/03

“Há qualquer coisa de podre, há qualquer coisa de decadente e de vil neste tempo. Repare-se no rosto dos que estão no poder, e no daqueles que estão preparados para os substituir. Sempre aquelas caras que pouco se alteram. Sempre os mesmos hábitos. Sempre o mesmo sarro da aldrabice, da dissimulação, do desdém por todos nós”.
in Jornal de Negócios / 2009/02/27

“O afastamento das pessoas da política e do acto cívico resulta do facto de os dirigentes não se distinguirem uns dos outros - a não ser no modo de vestir”.
in Diário de Notícias / 2009/01/21
 
“Os grupos de pressão podem, durante períodos escassos ou longos, provocar o esquecimento, cultivar a omissão, propagar os amigalhaços. Mas não possuem um poder eterno: as coisas recompor-se-ão, e os melhores virão à tona”.
in Jornal de Negócios / 2008/11/14
 
“O mundo actual semelha-se ao mito de Sísifo. Anda de baixo para cima e de cima para baixo, infinitamente sem encontrar o recto caminho, e carregado pelo peso de um rochedo que, mais tarde ou mais cedo, irá rolar pela encosta. Há muitos anos que não dispomos de dirigentes à altura das mudanças do mundo. Guiam-se, todos, à Direita e à Esquerda, pela mesma cartilha. Removeram a ideologia e as convicções do calendário político. Ao contrário de Sísifo, que recusa, obstinadamente, a derrota, eles submeteram-se às consequências desta união no vazio”.
in Jornal de Negócios / 2008/09/12
 

“A globalização é um dado adquirido. A unilateralidade do processo deu origem a uma brutalidade que, por vezes, atinge a selvajaria. Só não vê quem não quer. Os retrocessos sociais são impressionantes. E a derrota dos conceitos de Esquerda absolutamente notórios.”
in Jornal de Negócios / 2008/05/16

“Não pertenço à falange dos que lisonjeiam a juventude como bálsamo para todos os males. Essa de os jovens serem o futuro, tem que se lhe diga. Na verdade, o futuro da juventude – é a velhice. E há quem nasça velho. Mas gosto muito dos mais novos, do irrespeito sem planificação que corporizam, da ignorância atrevida que não dissimulam, da sua inteligência mais demolidora do que crítica. (...) Gosto muito dos mais novos porque não permitem que eu envelheça.”
in Jornal de Negócios / 2007/08/31

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

A "última" crónica de Baptista Bastos : "Ponto final" - DN


Mais um jornal que cai, definitivamente,  nas mãos dos grandes interesses financeiros, o Diário de Notícias.

Claro que, hoje em dia, um jornal com as dimensões do histórico Diário de Notícias só pode sobreviver tendo atrás de si uma estrutura financeira sólida.

O problema é que, cada vez mais, essa estrutura financeira é dirigida por quem olha para um jornal, não como uma produto cultural que pode garantir o prestígio do próprio proprietário, que era muitas vezes um grande capitalista culto, interessado pelo "produto" jornalistico, mas por gente anónima, inculta, a nadar em dinheiro, que vê no jornal apenas mais uma mercadoria a rentabilizar, a usar para fazer propaganda ao seu modelo de sociedade e favores ao poder político que lhe pode garantir os negócios e o lucro.

Longe vai o tempo em que um jornal era fundado e mantido por gente que tinha paixão pelo jornalismo.

Hoje qualquer pequeno jornal, para sobreviver, tem de ter atrás de si uma estrutura financeira controlada por accionistas que apenas olham para os lucros e as audiências, ávidos de prestigio e lucro fácil, a maioria dos quais desconhecendo o que é um jornal, muitos sem hábitos de leitura jornalistica ou literária.

Por isso é natural que, quando esses interesses financeiros nos lançam na autêntica guerra civil social em que vivemos se procurem livrar rapidamente de vozes incómodas.

Foi o que aconteceu agora com Baptista Bastos, despedido sem apelo nem agravo das páginas do Diário de Notícias, onde mantinha uma das mais lucidas crónicas de opinião.

Aliás, Baptista Bastos faz igualmente parte de uma geração de cronistas de imprensa que está em vias de extinção, substituídos por "comentadores" e "opinion makers" que têm como principal tarefa isso mesmo, levar-nos ( e "lavar-nos")  a aceitar as decisões do pensamento único neoliberal dominante, 

Baptista Bastos é talvez o ultimo grande cronista dessa geração de gente culta, informada, de espírito crítico e livre, incorruptiveis, que não se venderam aos modismos dominantes, combativos e corajosos, de que faziam parte outros brilhantes jornalistas que, noutros tempos, frequentavam as páginas do "Diário de Lisboa", do "República", de "A Capital" ou do "Diário Popular", talvez não por acaso já todos desaparecidos na voragem do final do século passado.

Augusto Abelaira, Jacinto Baptista, Acácio Barradas, Adelino Cardoso, Norberto Lopes, Mário Mesquita, Artur Portela filho, Frenando Assis Pacheco, Mário Castrim, Urbano Tavares Rodrigues, Luís Stau Monteiro, José Cardoso Pires, José Saramago, Eduardo Prado Coelho, Álvaro Guerra, José Gomes Ferreira, Manuel António Pina, foram alguns desses grandes cronistas, muitos também grandes jornalistas e escritores, que encheram as páginas daqueles jornais com as suas opiniões livres e frontais.

Hoje restava Baptista Bastos, obrigado a por um ponto final nas suas crónicas exemplares.

É essa crónica de despedida, ontem publicada no DN, que pode ser lida em baixo:

Ponto final - Opinião - DN (clicar para ler).

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

O RESPIGO DA SEMANA - somos todos "insustentáveis"...A crónica de Baptista Bastos

"OS INSUSTENTÁVEIS
por Baptista Bastos


"Aguiar-Branco chegou e disse. Na cara de generais, coronéis e afins, decretou que a tropa, tal como está, é financeiramente insustentável. A afirmação caiu mal, ainda por cima porque pressupunha a redução drástica de efectivos. É um sinal dos tempos. Desde que este Governo ascendeu ao poder, fomos sabendo, com sobressalto e resignação, que a pátria é insustentável. Na saúde, na educação, na assistência social, na justiça, na segurança, nos transportes públicos, na RTP, na RDP, nas pensões e nas reformas, sem a supressão dos subsídios de férias e do décimo segundo mês, com a manutenção da tolerância de ponto no Carnaval, a pátria não consegue sustentar-se a si mesma. Pergunta-se: então, como se aguentou, até agora? Com dívidas, golpadas, ardis e manigâncias?

"Nesta teoria de "insustentabilidade", os próprios portugueses estão incluídos. O Governo não sabe o que fazer deles, e incita-os a emigrar, com o descaramento de quem é incapaz de solucionar o problema e assim dissimula a sua incompetência política e ética.

"Mas as coisas complicam-se. E as decepções vão-se acumulando. A solidariedade parece estar desempregada na Europa. O imigrante é olhado de soslaio. Uma das facetas essenciais do neoliberalismo é reduzir a democracia às funções de "superfície" e estimular o individualismo. O "estrangeiro" é o inimigo. A possibilidade de escolha, apanágio das sociedades democráticas, dissolveu-se: não há oásis; o conceito de pluralidade transformou-se numa hostilidade que ronda a abjecção. O jornalista Noé Monteiro, correspondente na Suíça da RTP, foi o autor, no domingo, p.p., de uma pungente reportagem sobre portugueses que tentaram fugir à fome e à miséria e entraram num outro crisol do inferno. A Suíça, outrora acolhedora, embora áspera e burocrática, ela própria feita de politeísmo de culturas e de valores, é uma incerteza irredutível. O neoliberalismo impôs a normalização das estruturas e dos comportamentos. O mundo, hoje, é um lugar de vazio, de afronta e de desumanização.

"Em Portugal, ameaçados pelas contingências de uma filosofia política que alastrou como endemia, os portugueses não sabem que fazer. Aliás, como as hesitações, as derivas e as perplexidades de quem nos governa. Esta gente quer-nos levar para aonde?

"Parece que ninguém possui capacidade e talento para enfrentar a realidade circundante. "Todos somos culpados." A frase, utilizada por quem, realmente, é responsável, serve de encobrimento a uma experiência político-económica que deixou a Europa de rastos e promoveu a mediocridade como norma. O surgimento de Merkel e de Sarkozy pertence a essa lógica do absurdo, incapaz de resolver a complexidade criada pela sua própria irracionalidade.

"Estamos num ponto da História em que todos somos "insustentáveis"".

in Diário de Notícias – 8 de Fevereiro de 2012

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

O Respigo da Semana - a crónica de Baptista Bastos : O Assalto à Democracia

O assalto à democracia
por Baptista Bastos

"Temos de aceitar tudo o que nos é imposto com fatalista resignação? A violência das obrigações imputadas autoriza-nos a reagir com semelhante atitude, exactamente porque o que poderá ser legal perdeu a legitimidade por excesso e atropelo. Ninguém sabe o que nos espera no final desta longa e penosa travessia: nem mesmo aqueles que para ela nos impeliram. Temos de reflectir nas actividades políticas de um Governo que não parece muito animado em aspirações sociais e em equilíbrios éticos. Um Governo declaradamente inclinado em nos empobrecer, em estancar qualquer manifestação de cidadania e pouco preocupado em sacrificar legiões de desempregados e de excluídos. A justiça económica da livre troca é uma monstruosa falácia. Todos os dias sofremos ou temos conhecimento dessa fraude ideológica, mas não conseguimos mobilizar as forças da nossa inteligência e o domínio da nossa razão a fim de enfrentar o embuste que nos desgraça.
"O poder perdeu (se alguma vez os teve) o pudor e a respeitabilidade. O exemplo recente das nomeações para a EDP tem o carimbo da coligação; mas, antes, o PS procedeu de igual ou pior forma. Eis a ressurreição do rotativismo do séc. XIX. Não há meio de alterar este pêndulo. O assunto da deslocação de Alexandre Soares dos Santos para a Holanda, reprovável no que comporta de moralmente indigno, define o tratado de hipocrisia dos que desencadearam a "polémica". Então, e os antecessores do processo?, são anjos imaculados ou pertencem todos a uma hagiografia de tratantes? Os mesmos preopinantes que, nos jornais, em bravas elucubrações, esgarçam o projecto socialista e, por antinomia, constituem-se como indefectíveis paladinos do capitalismo, viram-se, agora, contra quê?
"O sistema que os procriou é aquele que colonizou as mentes e favorece quem o protege e preserva. Passem os olhos pelos rostos dos que dominam o Governo, mas não mandam no País. Assustam. As ordens procedem de fora. E as rodas dentadas da grande engrenagem movem-se através dessas cumplicidades ocultas. Lenta mas perseverantemente foram roubando o nosso já de si tão ausente protagonismo. Deixámos, há muito, de decidir o nosso destino; mas, pelo menos, possuíamos uma noção de presente, por obscuro que fosse. A marcha de José Mário Branco: "Qual é a tua, ó meu / andares a dizer / quem manda aqui sou eu?" - é o apogeu simbólico e trágico da nossa derrota. Andámos quase sempre enganados; no entanto, talvez aprendêssemos que podíamos ser livres no opróbrio. O regresso ao passado talvez forme novos resistentes.
"O Governo a nada acede; não se trata de ceder, sim de aceder. E desrespeita a concertação social, simplesmente ignorando-a, e insultando os sindicatos com a soberba da omissão. Não restam dúvidas de que o assalto à democracia está em andamento acelerado".
In Diário de Notícias, 11 de Janeiro de 2012

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O RESPIGO DA SEMANA - Baptista Bastos: A Mentira e o Desprezo.

A Mentira e o desprezo
por Baptista Bastos
in Diário de Notícias, 21 de Dezembro de 2011
“Parece que há excesso de portugueses em Portugal. Para remediar tão desgraçada contrariedade, o Governo decidiu minguar-nos tomando decisões definitivas. Há semanas, um secretário de Estado estimulou a emigração de estudantes. Há dias, o primeiro-ministro alvitrou que os professores desempregados ou com dificuldade em empregar-se deviam encaminhar-se para os países lusófonos, nos quais encontrariam a felicidade que lhes era negada na pátria. O dr. Telmo Correia, sempre inteligente e talentoso, elogiou, na SIC-Notícias, a sabedoria cristã de tão arguta ideia.
“Acontece um porém: e os velhos? Que fazer dos velhos que enchem os jardins e a paciência de quem governa? Os velhos não servem para nada, nem sequer para mandar embora, não produzem a não ser chatices, e apenas valem para compor o poema do O'Neill, e só no poema do O'Neill eles saltam para o colo das pessoas. Os velhos arrastam-se pelas ruas, melancólicos, incómodos e inúteis, sentam--se a apanhar o sol; que fazer deles?
“Talvez não fosse má ideia o Governo, este Governo embaraçado com a existência de tantos portugueses, e estorvado com a persistência dos velhos em continuar vivos, resolver oferecer-lhes uns comprimidos infalíveis, exactos e letais. Nada que a História não tivesse já feito. Os celtas atiravam os velhos dos penhascos e seguiam em frente, sem remorsos nem pesares. Mas há outro problema. A fome. A fome que alastra como endemia, toca a quase todos, abate-se nos velhos e, agora, nos miúdos. Os miúdos das escolas chegam às aulas com as barrigas vazias: pais desempregados, famílias desgarradas, "a infância, ah!, a infância é um lugar de sofrimento, o mais secreto sítio para a solidão", disse-o Ruy Belo; e as escolas já não têm o que lhes dar. As cantinas reabrem, mesmo durante as férias, e sempre se arranja uma carcaça, um leite morno, nada mais, oferecidos por quem dá o pouco que não tem.
“Vêm aí mais fome, mais miséria, mais desespero, mais assaltos, mais violência, mais velhos desamparados, mais miúdos espantados com tudo o que lhes acontece e não devia acontecer. Mais desemprego, num movimento cumulativo, mecânico a automático, como nos querem fazer crer. Diz o Governo. Como se esta realidade fosse natural; como se a semântica moderna da sociedade explicasse a amoralidade da eliminação da justiça e a inevitabilidade do que sucede.
“Para que serve este Governo?, a quem favorece, a quem brinda, a quem satisfaz? Podem, em consciência, os seus panegiristas passar ao lado das infâmias a que assistimos, e continuar omissos ou desbragadamente cortesãos? Podem. É ao que temos vindo a assistir. O Governo administra o ódio e o desprezo com a indiferença gélida de quem não é por nós. Diz-se que o anterior Executivo vivia da e na mentira. Este subsiste de quê?”.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

quinta-feira, 28 de abril de 2011

BATISTA BASTOS: Episódio em Abril .


Episódio em Abril - Opinião - DN (clicar para ler a crónica).

Batista Bastos, na sua prosa acutilante, analisa a relação da democracia com o espírito de Abril.

quinta-feira, 24 de março de 2011

O Respigo da Semana - Baptista Bastos analisa o momento político



Contra a irracionalidade


por BAPTISTA-BASTOS

As notícias não são animadoras. Mas há quanto tempo é que as notícias o não são? Vivemos no interior de muitos medos e parece que ninguém é capaz de os aniquilar ou, pelo menos, de os atenuar. Possuímos uma larga, histórica, dir-se-ia que fatal experiência do medo. Temos sobrevivido entre a resignação e a revolta cabisbaixa. Entretanto, fomos alimentando a esperança, sempre fugidia, de que as coisas iriam melhorar. Os dias de amanhã seriam melhores e mais belos. Tivemos uns fogachos de alegria, seja dito; porém, há quem deteste que sejamos felizes, mesmo mitigadamente.

Ao que leio e ao que me dizem sábias criaturas, o Governo vai cair. O estrondo não será grande. Já se previa. O pior é que o pior está para vir. E o putativo substituto de Sócrates não o esconde. O pouco que resta do 25 de Abril, Passos Coelho encarregar-se-á de remover.

A preguiça, a indiferença e, até, a cobardia podem explicar as razões por que chegámos aonde estamos. Ainda conseguimos concentrar energias para encher praças e avenidas com os nossos protestos. Não têm servido para muito. A democracia portuguesa está reduzida a um funcionamento processual, que limitou, dramaticamente, os horizontes das nossas escolhas, dos nossos valores e dos nossos sonhos. Recalcitramos, mas de muito pouco nos vale.

No tempo do fascismo os estribilhos eram, entre outros: "Quem manda?", "Salazar! Salazar! Salazar!" E as respostas, em forma de certezas inabaláveis: "Quem viva?", "Portugal! Portugal! Portugal!" Simultaneamente, a submissão, e o seu suporte simbólico. São os netos de Salazar que se encontram no poder. O sentido de pluralidade, que dá corpo e razão à democracia, foi abreviado pela homogeneidade e pela unificação de interesses do PS e do PSD. A queda do Governo é, apenas, o episódio comezinho da substituição de rabos nas cadeiras.

Atingimos uma situação extraordinária: somos dissidentes de nós próprios. A "democracia da desconfiança" atingiu-nos com tal violência que ficámos incapazes de nos desembaraçar da tenaz, astutamente formada pelos dois "mais importantes" partidos. "Mais importantes" porquê? E os outros? São, apenas, elementos decorativos? Não fazem parte da participação (que deveria ser permanente) dos cidadãos nos domínios políticos?

O mal-estar, generalizado, em que sobrevivemos, atingiu, até, as nossas pessoais afectividades (a capacidade de ser afectados) e o impulso dominante é o de admitir as coisas como elas se apresentam. Decepção, incerteza, insatisfação. À irracionalidade de um poder que se desdobra por dois partidos, temos de encontrar métodos que se lhe oponham. Aceitando os perigos daí advenientes. Obedecer aos antigos valores é tarefa perigosa - porém imperiosa. A desobediência é um desses valores".

in DN 23 de Março de 2011

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

O Respigo da Semana - Uma crónica de Batista Bastos.

“Esta pobre gente rica...

por BAPTISTA-BASTOS

“Que os ricos vivem muito melhor do que nós era dado assente. O provérbio, absurdo, de que o dinheiro não traz felicidade constituía o resignado encosto com que soluçamos as nossas mágoas, desilusões e ressentimentos. Claro que somos ressentidos e rancorosos. As nossas raivas procedem das desigualdades afrontosas com que, desde muito cedo, nos deparamos. A frase, cabisbaixa, segundo a qual haverá sempre ricos e pobres tem servido a uns e amarfanhado a outros. De vez em quando servem-nos umas migalhas e atenuamos as nossas dores com essas módicas felicidades.

“Um estudo, "Classes Sociais e a Desigualdade na Saúde", do sociólogo Ricardo Antunes, de que o Público deu notícia pormenorizada, indica, com dados evidentemente probatórios, que "os ricos vivem mais dez anos do que os pobres". As dificuldades, os problemas insanos, a incultura, a iliteracia, a falta de relações sociais, a ausência de perspectivas pertencem ao rol das misérias com que se debate a esmagadora maioria dos cidadãos.

“Os operários, por exemplo, morrem mais cedo do que os profissionais ditos qualificados, os "quadros", os "gestores", os professores, os advogados. Os números estarrecem. E demonstram uma peculiar associação entre a identidade dominante e a servidão e o totalitarismo. As nossas democracias, tão incensadas nas virtualidades essenciais, têm cada vez mais tendência para se esvaziar de sentido e de objectivo, transformando-se em "democracias de superfície".

“A moral do nosso tempo absorve a personalidade individual, limita-lhe a vida, coarcta-lhe a existência, e faz do homem um ser absolutamente controlado. O medo, que invadiu e se instalou nas sociedades ditas modernas, é o coercivo processo de intimidação e de domínio que faz de nós pessoas recalcadas e infelizes. O medo de perder o emprego, o medo de perder a saúde, o medo compacto e abusivo de desagradar ao patrão, o medo da velhice, o medo da solidão, são os medos impostos pelas classes dominantes como construção permanente.

“O documento de Ricardo Antunes, pela sua natureza, merecia uma expansão maior. E, acaso, suscitaria uma discussão mais alargada, com um tratamento jornalístico adequado à novidade e características do tema. As televisões, que se acotovelam com o crime de Nova Iorque, que praticamente ignoraram a morte de Vítor Alves, grande "capitão de Abril"; que carpem doridos queixumes com a ida embora de um Liedson e as declarações de um Costinha, remetem para os fojos das suas ignorâncias o que, na realidade, diz respeito ao nosso viver comum.

“Estamos a ser definidos pelos outros, estamos a ser espoliados das nossas pessoais identidades, estamos a ser manipulados, manobrados, dirigidos, orientados, indiferentes ao facto de estarmos a ser reduzidos nas nossas liberdades.

“Querem mais?”

in Diário de Notícias, 9 de Fevereiro de 2011