Mais um jornal que cai, definitivamente, nas mãos dos grandes interesses financeiros, o Diário de Notícias.
Claro que, hoje em dia, um jornal com as dimensões do histórico Diário de Notícias só pode sobreviver tendo atrás de si uma estrutura financeira sólida.
O problema é que, cada vez mais, essa estrutura financeira é dirigida por quem olha para um jornal, não como uma produto cultural que pode garantir o prestígio do próprio proprietário, que era muitas vezes um grande capitalista culto, interessado pelo "produto" jornalistico, mas por gente anónima, inculta, a nadar em dinheiro, que vê no jornal apenas mais uma mercadoria a rentabilizar, a usar para fazer propaganda ao seu modelo de sociedade e favores ao poder político que lhe pode garantir os negócios e o lucro.
Longe vai o tempo em que um jornal era fundado e mantido por gente que tinha paixão pelo jornalismo.
Hoje qualquer pequeno jornal, para sobreviver, tem de ter atrás de si uma estrutura financeira controlada por accionistas que apenas olham para os lucros e as audiências, ávidos de prestigio e lucro fácil, a maioria dos quais desconhecendo o que é um jornal, muitos sem hábitos de leitura jornalistica ou literária.
Por isso é natural que, quando esses interesses financeiros nos lançam na autêntica guerra civil social em que vivemos se procurem livrar rapidamente de vozes incómodas.
Foi o que aconteceu agora com Baptista Bastos, despedido sem apelo nem agravo das páginas do Diário de Notícias, onde mantinha uma das mais lucidas crónicas de opinião.
Aliás, Baptista Bastos faz igualmente parte de uma geração de cronistas de imprensa que está em vias de extinção, substituídos por "comentadores" e "opinion makers" que têm como principal tarefa isso mesmo, levar-nos ( e "lavar-nos") a aceitar as decisões do pensamento único neoliberal dominante,
Baptista Bastos é talvez o ultimo grande cronista dessa geração de gente culta, informada, de espírito crítico e livre, incorruptiveis, que não se venderam aos modismos dominantes, combativos e corajosos, de que faziam parte outros brilhantes jornalistas que, noutros tempos, frequentavam as páginas do "Diário de Lisboa", do "República", de "A Capital" ou do "Diário Popular", talvez não por acaso já todos desaparecidos na voragem do final do século passado.
Augusto Abelaira, Jacinto Baptista, Acácio Barradas, Adelino Cardoso, Norberto Lopes, Mário Mesquita, Artur Portela filho, Frenando Assis Pacheco, Mário Castrim, Urbano Tavares Rodrigues, Luís Stau Monteiro, José Cardoso Pires, José Saramago, Eduardo Prado Coelho, Álvaro Guerra, José Gomes Ferreira, Manuel António Pina, foram alguns desses grandes cronistas, muitos também grandes jornalistas e escritores, que encheram as páginas daqueles jornais com as suas opiniões livres e frontais.
Hoje restava Baptista Bastos, obrigado a por um ponto final nas suas crónicas exemplares.
É essa crónica de despedida, ontem publicada no DN, que pode ser lida em baixo:
Ponto final - Opinião - DN (clicar para ler).
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