Aquilo que se está a passar com a colocação de professores só se pode
explicar por uma das duas seguintes razões: ou a total incompetência da actual
equipa ministerial; ou razões ideológicas para justificar um ataque à escola
pública.
Se fosse o primeiro caso, qualquer pessoa decente que ocupasse o cargo
de Ministro da Educação nestas circunstâncias ter-se-ia demitido imediatamente.
Como não foi isso que se passou, ou o ministro Crato não é uma pessoa
decente e de boa-fé ou esta confusão tem outros objectivos…ou ambas as coisas.
Como o ministro Crato continua de pedra e cal, com a solidariedade de
Passos Coelho e de todo o governo, parece-me então que o objectivo é outro e
bem claro: humilhar os professores, poupar dinheiro nas “despesas” do Estado e
por em causa a escola pública.
Este ultimo objectivo parece-me ainda mais claro, quando se começa a ouvir e a
ler a opinião de comentadores geralmente conotados com as teses neoliberais a
querer responsabilizar por este triste caso o “centralismo” do Ministério , apresentado
esta situação como um caso “normal” no
actual sistema de colocações “centralizado”, desculpando, por um lado, os
erros “cratos” e, por outro, aproveitando para defender o modelo de colocação
de professores da Inglaterra, construído pela dupla Tatcher-Blair, argumento
que é uma primeira porta para impor o modelo educativo neoliberal britânico,
com resultados desastrosos em termos humanos e sociais.
A intervenção de Cavaco Silva vem , aliás, na senda dessas teses.
A colocação centralizada de professores tem inconvenientes, mas também
tem vantagens e funcionou razoavelmente até meados da década de 80. Mesmo
funcionando mal a partir de determinado momento, garantia no mínimo alguma
objectividade na escolha dos professores, e, mesmo com algumas confusões, nunca
atingiu o descalabro deste ano.
Aliás, o grande número de vagas levadas a concurso, explicam-se, em grande
parte, como resultado da forma como o ensino e os professores têm vindo a ser
tratados nos últimos anos, levando muitos decentes a reformarem-se
antecipadamente ou a saírem do ensino, tornando-se a actividade docente cada
vez menos uma actividade atractiva e respeitada.
Por outro lado, as desculpa da situação financeira do país tem atrasado
a efectivação de muitos docentes que substituissem os que saíram em massa nos
últimos anos.
Juntando a tudo isto as grandes alterações administrativas na organização
da rede escolar, está traçado o caminho para "justificar" a destruição da escola pública e para “normalizar”
a actividade docente como uma actividade de saltimbancos e precários.
A confusão com a colocação de professores é apenas a ponta do iceberg
do descalabro que se anuncia, como resultado das reformas apressadas e feitas
para humilhar os docentes, com Maria de Lurdes Rodrigues, e do experimentalismo
incompetente de Nuno Crato, com a
conivência de muitos.
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