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terça-feira, 14 de outubro de 2014

A [DE] MISSÃO DE CRATO

Aquilo que se está a passar com a colocação de professores só se pode explicar por uma das duas seguintes razões: ou a total incompetência da actual equipa ministerial; ou razões ideológicas para justificar um ataque à escola pública.

Se fosse o primeiro caso, qualquer pessoa decente que ocupasse o cargo de Ministro da Educação nestas circunstâncias ter-se-ia demitido imediatamente.

Como não foi isso que se passou, ou o ministro Crato não é uma pessoa decente e de boa-fé ou esta confusão tem outros objectivos…ou ambas as coisas.

Como o ministro Crato continua de pedra e cal, com a solidariedade de Passos Coelho e de todo o governo, parece-me então que o objectivo é outro e bem claro: humilhar os professores, poupar dinheiro nas “despesas” do Estado e por em causa a escola pública.

Este ultimo objectivo parece-me ainda mais claro, quando se começa a ouvir e a ler a opinião de comentadores geralmente conotados com as teses neoliberais a querer responsabilizar por este triste caso o “centralismo” do Ministério , apresentado esta situação como  um caso “normal” no actual sistema de colocações “centralizado”, desculpando, por um lado, os erros “cratos” e, por outro, aproveitando para defender o modelo de colocação de professores da Inglaterra, construído pela dupla Tatcher-Blair, argumento que é uma primeira porta para impor o modelo educativo neoliberal britânico, com resultados desastrosos em termos humanos e sociais.

A intervenção de Cavaco Silva vem , aliás, na senda dessas teses.

A colocação centralizada de professores tem inconvenientes, mas também tem vantagens e funcionou razoavelmente até meados da década de 80. Mesmo funcionando mal a partir de determinado momento, garantia no mínimo alguma objectividade na escolha dos professores, e, mesmo com algumas confusões, nunca atingiu o descalabro deste ano.

Aliás, o grande número de vagas levadas a concurso, explicam-se, em grande parte, como resultado da forma como o ensino e os professores têm vindo a ser tratados nos últimos anos, levando muitos decentes a reformarem-se antecipadamente ou a saírem do ensino, tornando-se a actividade docente cada vez menos uma actividade atractiva e respeitada.

Por outro lado, as desculpa da situação financeira do país tem atrasado a efectivação de muitos docentes que substituissem os que saíram em massa nos últimos anos.

Juntando a tudo isto as grandes alterações administrativas na organização da rede escolar, está traçado o caminho para "justificar" a  destruição da escola pública e para “normalizar” a actividade docente como uma actividade de saltimbancos e precários.

A confusão com a colocação de professores é apenas a ponta do iceberg do descalabro que se anuncia, como resultado das reformas apressadas e feitas para humilhar os docentes, com Maria de Lurdes Rodrigues, e do experimentalismo incompetente  de Nuno Crato, com a conivência de muitos.

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