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terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Quercus faz o balanço do ano ambiental de 2015


2015 foi marcado pela Cimeira do clima em Paris.

Por cá, a Quercus  acaba de revelar um balanço do ano ambiental e as perspectivas para o próximo ano.

Esse interessante relatório pode ser lido AQUI.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Caso BANIF: Passos Coelho entre a espada e a parede…e depois demita-se da liderança do seu partido!!!!...e depois é deixar o caso aos tribunais e à policia...


Á medida que mais coisas se vão conhecendo do processo BANIF, como é o caso do que é revelado na crónica de hoje de Rui Tavares no jornal Público, que pode ser lida integralmente AQUI, mais se percebe a irresponsabilidade do governo Coelho-Portas e da ministra das finanças desse governo, assim como da actual administração do Banco de Portugal.

Escreve Rui Tavares que durante três anos  “o governo português foi negociador da legislação da união a nível europeu e banqueiro principal do BANIF a nível nacional. E os responsáveis têm nome: Pedro Passos Coelho e Maria Luís Albuquerque sabiam que a 1 de janeiro de 2016 as regras europeias mudariam e que, no caso do BANIF, teriam um impacto enorme sobre aforradores de uma vida nos Açores e na Madeira e nas comunidades emigrantes oriundas destes arquipélagos, onde o BANIF detêm uma considerável quota de mercado. Durante todos estes anos, Pedro Passos Coelho e Maria Luís Albuquerque foram maus governantes para Portugal e maus banqueiros para o BANIF.

“Sendo assim, o estado português chega ao fim de 2015 correndo contra o calendário e duas soluções possíveis: ou a liquidação, com perdas certas até 3000 milhões de euros, ou a resolução, opção que foi seguida, com perdas possíveis até 3000 milhões de euros. Pelo caminho perdeu-se a possibilidade de tirar partido da nacionalização do BANIF e potenciar o seu valor social para as comunidades que ele servia, provavelmente após uma ligação à Caixa Geral de Depósitos.

“Esta não é só uma história de uma assustadora irresponsabilidade perante factos que só poderiam ser conhecidos do governo de Pedro Passos Coelho e Maria Luís Albuquerque. É mais assustadora ainda quando pensamos na possibilidade, que foi real, de agora termos um governo de bloco central a mascarar a omissão culposa de Pedro Passos Coelho e Maria Luís Albuquerque. Pode ter havido um móbil para este arrastar da situação: a “saída limpa”, as eleições. Mas não pode haver desculpa para Passos Coelho e Maria Luís Albuquerque”.

Hoje o PSD, no parlamento, não tem outra “saída limpa” que não seja deixar passar  o orçamento rectificativo apresentado pelo actual governo, que, em coerência, nunca podia ser votado pela esquerda.

E depois, tanto Passos Coelho, Paulo Portas e Maria Luís Albuquerque, só podem seguir o concelho do insuspeito cronista da direita e apoiante das medidas de austeridade e da “TINA”, João Miguel Tavares (ler  aqui a sua crónica “Passos Coelho tem deexplicar”) que ontem escrevia que “as declarações do primeiro-ministro [Costa] e do ministro das Finanças não permitem segundas interpretações: eles garantiram que o anterior governo sabia há mais de um ano da necessidade de resolver em definitivo o problema do Banif, preferindo arrastar os pés, por razões que se supõem eleitoralistas, o que fez aumentar significativamente o custo da operação.

“A serem verdadeiras tais acusações, nem Passos Coelho, nem Paulo Portas, nem Maria Luís Albuquerque deveriam voltar a ser ministros – é tão simples quanto isso”.

E nós acrescentamos, nem nenhum deles pode voltar a exercer qualquer cargo público e, de imediato, para salvar o que resta da face dos partidos que lideram, deviam por os seus lugares de liderança à disposição e, com eles, levar toda a administração do Banco de Portugal.


É o mínimo que se pode exigir , sem escamotear o recurso aos tribunais e à polícia para condenar todos os responsáveis por este processo.

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Boas Festas aos Quadradinhos

BêDêZine: Boas Festas aos Quadradinhos: Com o desejo de um Feliz Natal para todos os nossos leitores e seguidores(clicar para ver).

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

...e agora espera-se que Carlos Costa se demita do BdP...Banif poderá custar quase 4.000 milhões de euros

Mais uma vez os contribuintes portugueses vão pagar os erros do Banco de Portugal e os desmandos do sector financeiro.

O mínimo que se espera é que o governador do Bando de Portugal, Carlos Costa, ponha de imediato o seu lugar à disposição, se ainda lhe restar um mínimo de decência, e perdendo de imediato todos os direitos, dele e da sua administração. em relação a todos os benefícios e privilégios que gozam pelo exercício desse cargo (como o "direito de pernada" nas pensões...).

Em segundo lugar, espera-se que a Comissão Europeia, tão pronta a ajudar o sector financeiro, revele desta vez algum bom senso e não inclua os custos desta decisão, que eles pressionaram e aprovaram, nas contas do déficit português.

Em terceiro lugar que a comissão parlamentar que se vai formar para investigar o que levou a esta situação colabore com a justiça para levar os responsáveis a tribunal.

..é o mínimo...

Uma sugestão de Natal :"Natal dos Caretos" de Bragança em BD

BêDêZine: Uma sugestão de Natal :"Natal dos Caretos" de Brag...: “Natal dos Caretos” é a obra de Banda Desenhada lançada no passado dia 4 de Dezembro em Bragança, um conto de Natal que tem os célebres caretos com personagens.(clicar para ler mais).

O Respigo da Semana: "A Mentira do ranking", por Daniel Sampaio

AQUI manifestei a minha opinião sobre essa enorme mistificação e falácia que é analisar a realidade do nosso sistema educativo através da publicação anual dos malfadados ranking´s.

Transformar a educação numa espécie de campeonato de futebol, pode ser divertido e apaixonante e dar muito tempo de antena a uns comentadores que percebem de tudo e assim podem discutir com “factos”, prescindindo de uma análise profunda sobre o problema da educação, o que dava uma trabalheira, ou poder debitar meia dúzia de ideias feitas para contentar o iletrado “zé povinho”, que acha que a educação é uma perda de tempo.

Vivemos uma época em que tudo se resume a números, em que cada um de nós não passa de um dado estatístico para encher as primeiras páginas dos jornais ou as aberturas dos noticiários, não sendo por isso de admirar o endeusamento que é feito da publicação desses ranking’s.

Felizmente ainda há comentadores que pensam com a própria cabeça e sem os complexos ideológicos que pastam no “observador” , e por isso aqui transcrevemos hoje a crónica de Daniel Sampaio, onde, remando contra a maré, esses rankings são desmistificados, ainda por cima por alguém que sabe do que fala:

“A mentira do ranking

Por Daniel Sampaio, in 2-Público, 20 de Dezembro de 2015

“Começo por protestar contra o uso repetido deste termo “ranking”, como se o português não contivesse vocábulo apropriado. Hesitei em usá-lo, mas fui vencido pelo hábito: se escrevesse sobre a “classificação das escolas”, muitos leitores não saberiam do que estaria a falar.

“A comunicação social, em regra tão omissa em tratar os problemas da escola (excepto os negativos), dedicou agora amplo espaço ao tema. A televisão optou até por se deslocar às “melhores” e às “piores” escolas, sem cuidar de aprofundar os fundamentos da seriação publicada.

“Tudo o que seja aferir o funcionamento de uma escola e disso dar conta à comunidade educativa merece a nossa atenção. As nossas crianças e adolescentes passam a maior parte do seu dia em território académico, por isso faz sentido que todos sejam informados sobre a escola. A classificação em causa, todavia, tem um alcance muito limitado e de modo algum demonstra o que na realidade se passa nos estabelecimentos de ensino.

“Convém explicar aos menos esclarecidos que os célebres rankings são apenas uma seriação das classificações obtidas pelos alunos nos exames nacionais. Se já é discutível que se avalie o mérito de um estudante apenas pela nota do exame final, é fácil compreender que esse dado não poderá servir para classificar uma escola em “melhor” ou “pior”. Por uma razão simples: os dados publicados não entram em linha de conta com as diversas características dos alunos que realizam essas avaliações finais, nem consideram um dado decisivo e que não deveria ser escondido de modo sistemático — as escolas privadas seleccionam os alunos, logo quem chega lá ao final do ano está em melhores condições para obter bons resultados.

“Os pais fazem muitos sacrifícios para manterem os alunos no privado, com a crença de que terá melhor ensino. O que se sabe, de modo seguro, é que obterão em princípio melhores notas, mas é duvidoso que fiquem mais aptos para enfrentar os problemas da vida. Como psiquiatra que trabalha há 40 anos com adolescentes, pais e professores, sou testemunha de um facto indesmentível: quando é detectado um problema de comportamento grave ou uma perturbação mental significativa, a escola privada aconselha a mudança de estabelecimento de ensino. Os argumentos são corteses mas só correspondem, de facto, à necessidade imperiosa de se ver livre de um estudante “problemático”, que poderá contribuir para a baixa da média no ranking final. Assim, muitos estudantes são encaminhados para o ensino público, que tem de acolher todos, em vez de a escola privada garantir apoios significativos a alunos com dificuldades de aprendizagem ou perturbações psiquiátricas.

“Por outro lado, é hoje um facto incontestado que a origem social e cultural dos estudantes condiciona o seu percurso escolar. Assim, os alunos que à partida não podem frequentar um colégio privado por falta de dinheiro terão de ir para o ensino público, logo as populações pretensamente estudadas pelas classificações das escolas não são comparáveis.

“Outro aspecto menos positivo das classificações tem que ver com a pressão exercida sobre os “maus” alunos. Com a obsessão dos rankings, os estudantes mais frágeis são submetidos a enorme desgaste por críticas tantas vezes injustas, sem que a escola se preocupe em perceber o alcance, para esse jovem, de uma discriminação tão acentuada sobre o seu desempenho académico.

“Analisemos as escolas, claro, mas com mais verdade”.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Eleições Presidenciais - Ainda agora a procissão vai no adro e já há derrotados...

Ainda agora começou a caminhada para as eleições presidenciais e já há derrotados.

O primeiro derrotado é Cavaco Silva.

Seja qual for o seu sucessor, qualquer dos candidatos vai fazer esquecer rápidamente o mais incompetente presidente da história democrática.

As aparições de Cavaco já cheiram ao mofo.

Como hoje ironiza o "Inimigo Público", "Portugueses acham normal que [pela primeira vez, seja qual for o vencedor]  não haja uma Primeira-Dama em Belém porque nos últimos 10 anos também não houve lá nenhum Presidente da República". 

O segundo grande derrotado é a dupla Passos/Portas que não vai ter em Belém nenhum candidato da sua área política, a direita radical neoliberal.

Mesmo vencendo Marcelo Rebelo de Sousa este não é o candidato dessa direita e representa tudo aquilo que a direita revanchista do PAF destruiu dentro dos partidos dessa coligação, a social-democracia e a democracia cristã.

O apoio que formalmente dão a Marcelo visa apenas adiar a desagregação total do seu projecto político, engolindo para isso um sapo maior e mais amargo do que aquele que Cunhal e o PCP tiveram de engolir ao votarem Mário Soares nos idos de 1986.

Por isso estão assim já antecipadamente anunciados os primeiros derrotados das próximas eleições presidenciais.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2015

Carlos Costa, governador do Banco de Portugal e o valor da incompetência

Já tinha acontecido o mesmo com Victor Constâncio, o mais incompetente de todos, responsável pelos primeiros grandes escândalos na banca portuguesa (BPN e BPP), "premiado" com um sinecura no BCE, com um ordenado ainda maior do que aquele que auferia em Portugal.

Temos agora Carlos Costa, que mais uma vez revela toda a sua incompetência, já demonstrada com o caso BES e premiado pela troika  Cavaco/Passos/Portas com a recondução no cargo, e que agora volta a revelar-se em todo o seu esplendor no caso Banif.

A "coisa" não seria grave se, primeiro, os ordenados dos incompetentes como Costa e Constâncio, e as reformas douradas a que têm direito, não fossem pagas por todos nós, depois se pagassem com a incompetência com, no mínimo, despedimento por justa causa, perdendo direitos, como os privilégios do sistema de reformas do BdP, e, finalmente, se as consequências da sua incompetência não recaíssem sobre depositantes e clientes dos banco, sobre os funcionários dos mesmos e, já se sabe, sobre os contribuintes.

E os ordenados e direitos de essa gente não são de somenos.

De acordo com dados já desactualizados, o Presidente do Banco de Portugal recebia há pouco tempo mais de 15 mil euros de ordenado por mês, mais 32% que o presidente do FED norte-americano.

O conjunto de Presidente, Vice-presidente e mais dois vogais da administração do BdP custam ao erário público quase 800 mil euros por ano (fora outros privilégios).

Além disso os membros da administração desse banco têm à partida a garantia de, com um mínimo de cinco anos de serviço, acederem ao nível 18 do patamar das reformas, que lhes dá direito a uma pensão que varia entre o mínimo de dois mil e trezentos euros e o máximo de três mil e setecentos euros mensais, tendo direito ainda a um "complemento de reforma", somado àquele valor, de quatro mil e quinhentos euros mensais, fora outras regalias, podendo acumular essa reforma com outras da Caixa Geral de Aposentações ou outras a que tenham "direito".

É caso para dizer que tanta incompetência dá um grande contributo para aumentar o déficit do país e devia ter consequências.

No minimo, alguma vergonha na cara...

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

O Cinema em Torres Vedras, em Portugal e no mundo nos “Trinta Gloriosos” da História do cinema (1930-1960) (2ª e 3ª Parte).


O texto que aqui se divulga resulta dos apontamentos que reunimos para servir de base à nossa comunicação, que ontem teve lugar no Teatro-Cine Ferreira da Silva, por ocasião da passagem do segundo filme da iniciativa, que está a decorrer esta semana, para comemorar a 100ª sessão de “Café com Filmes”, com a exibição integral, em cinco sessões, da monumental obra “A História do Cinema – Uma Odisseia”, de Mark Cousins, e à qual já nos referimos AQUI.

A primeira parte desta comunicação, sobre a situação em Torres Vedras,  pode ser lida AQUI.

Em baixo reproduzimos o resumo das suas restantes partes da nossa comunicação.

2 – O Cinema em Portugal entre 1930-1960

No documentário que  vamos ver, não aparece uma única menção ao cinema português, apesar de Portugal ter sido um dos países pioneiros na produção cinematográfica, como se comprova pela atenção que Georges Sadoul, na sua monumental história do cinema, lhe concede.

Em 1930 a proveniência dos filmes estreados e exibidos nas centenas de salas já existentes um pouco por todo o país, a maior parte concentrada em Lisboa e no Porto, de acordo com um estudo de Alves Costa de 1978, era a seguinte:

574 filmes norte-americanos;
143 filmes franceses;
105 alemães;
19 ingleses;
6 russos;
3 dinamarqueses;
2 brasileiros;
2 mexicanos;
1 suaeco;
1 austriaco;
1 japonês.

O período entre 1930 e 1960 é balizado em Portugal pela introdução do cinema sonoro, inaugurado em Portugal em 5 de Abril de 1930 no Royal Cine, à Graça em Lisboa, e pela inauguração da televisão, entre 1955 e 1956.

Este período corresponde também à afirmação do Estado Novo e por isso o cinema sofre as consequências do regime em vigor, onde a censura e a propaganda política salazarista eram os pilares nesta área da cultura.

Referindo-se à situação do cinema português entre 1940 e 1958 George Sadoul, na sua obra citada que “o cinema português não deu mais de 3 a 8 filmes por ano.

“A rede de exibição é das mais reduzidas de toda a Europa.

“Segundo a UNESCO, os 433 cinemas de todo o país vendiam, em 1954, apenas 3 bilhetes por ano e por habitante”.

O levantamento feito por José de Matos Cruz, na sua obra “O Cais do Olhar”, confirma em parte essa fraca produção, mas revela algumas variações interessantes.

Assim, na década de 30, que foi também a da produção do primeiro filme sonoro em Portugal, “A Severa” de Leitão de Barros (1930), produziram-se 15 filmes, uma média de 1,5 filmes por ano. Na década seguinte a situação é mais optimista, como resultado da criação, ainda na década anterior, da produtora Tobis, em 1932, e do investimento feito pela criação do Secretariado Nacional de Informação, em 1935, na utilização da produção nacional como veículo de transmissão dos valores culturais e sociais do Estado Novo,  registando-se 56 estreias de filmes portugueses, numa média de 5,6 filmes portugueses produzidos por ano. No conjunto das três décadas é nesta que se regista o ano de maior produção, o ano de 1946 com 11 filmes estreados.

Na década de 50 regista-se uma ligeira quebra, sendo produzidos 49 filmes, uma média de 4,9 por ano.

A maior parte desses filmes dividiam-se entre a comédia e a pura propaganda dos valores salazaristas, com rara e honrosas excepções e marcaram por muito tempo, com um peso ainda significativo nos nosso dias, o gosto cinematográfico do público, até porque, nas décadas seguinte, fizeram parte da programação cinematográfica da recém criada RTP.

Entre esse filmes populares e de evasão, destacamos obras como “A Canção de Lisboa” (1933) de Cortinelli Telmo, “A Aldeia da Roupa Branca” (1938) de Chianga de Garcia, “Pai Tirano” (1941) de António Lopes Ribeiro, “Pátio das Cantigas” (1941) de Ribeirinho, “A Menina da Rádio” (1944) e “O Leão da Estrela” (1947) ambos de Arthur Duarte, ou “Cantiga de Lisboa” de Henrique Campos.

Mas também se realizaram filmes de pura propaganda ideológica, como “A Revolução de Maio” (1937) de António Lopes Ribeiro, os “Chaimite” (1953) de Jorge Brum do Canto.

Devemos também recordar  o “Jornal Português – Revista mensal de actualidades” promovido pelo SNI, que era exibido em todas as salas de cinema, antes da projecção das longas-metragens, um poderoso instrumento de propaganda informativa, numa altura em que não havia ainda televisão,  que foi produzido entre 1938 e 1951 (actualmente a ser reeditado em fascículos pelo jornal Público).

Durante este período, com a ajuda da imprensa e de uma grande quantidade de revistas de cinema, desenvolveu-se uma espécie de “star system” à portuguesa onde pontificavam figuras como Ribeirinho, Beatriz Costa, António Silva ou Vasco Santana.

Apesar da censura e das perseguições foi possível, apesar de tudo, neste difícil período para o movimento cultural independente, produzir algumas obras inconformistas e  inovadoras, como “Aniki-Bobo” (1942) de Manoel de Oliveira, obra que George Sadoul aponta como antecessora do neo-realismo no cinema,  ou filmes como “Ala Arriba” (1942) de Leitão de Barros ou “Saltimbancos” (1951) de Manuel Guimarães, sem esquecer vários ensaios, no campo experimental e do documentário, promovidos pelo movimento cineclubista que conheceu grande expansão no pós segunda guerra.

Para além desse movimento cineclubista dos anos 40/50, é e referir ainda o papel importante da Cinemateca Nacional, criada em 1948 por António Félix Ribeiro.

Durante esse período houve também um considerável movimento editorial ligado a imprensa cinematográfica, com destaque, pela longevidade ou pela inovação, para o “Cinéfilo” (1928-1939), a “Imagem” (uma 1ª série entre 1930 e 1935 e uma 2ª série a partir de 1954 até finais da década) para além da mais comercial “Plateia”, fundada em 1951, e que ainda se publicava na década de 70, sem esquecer a crescente importância dada pela imprensa à critica cinematográfica.

3 – Os “Gloriosos 30” do cinema mundial (1930-1960)

Quando comecei a consultar informações sobre este período da história do cinema, fui-me apercebendo que datam desta época algumas das obras e dos realizadores fundamentais , não só para a história do cinema, mas também para consolidação da escrita e dos géneros cinematográficos.

Se fizer uma lista com os melhores filmes que vi na minha vida, a grande maioria data deste período.

Durante este período, o cinema é o grande espectáculo de massas, ao lado da rádio, em grande parte porque coincide com a difusão do cinema sonoro e o início progressivo da produção do cinema a cores, o tempo do tecnicolor.

É a época do chamado “cinema clássico”, com grandes filmes e grandes realizadores que vão marcar definitivamente o cinema como uma espécie de realidade paralela ao mundo “real”.

Os grandes géneros do cinema, o filme de terror, o policial (“film noir”), o “Western”, o musical, a comédia,  têm neste período os seus principais modelos que vão servir de referência aos que se fará até hoje.

O modelo de Hollywood torna-se dominante neste período e serve de modelo noutros lugares do mundo, como a Cinecitta em Roma, inaugurada em 1937, beneficiando da promoção que lhe é dado pela criação dos Óscares, em 1929 ou do “star system”.

Mas, principalmente no pós guerra, surgem outras correntes independentes e alternativas a esse modelo, como o neo-realismo italiano, a afirmação do cinema do terceiro-mundo, ou a aparecimento da Nouvelle Vague no final da década de 50, beneficiando do aparecimento de Festivais de cinema como Veneza, em 1932, Cannes, em 1946, ou Berlim, na década de 50.

Na década de 30 vemos a estreia de grandes obras como “O Anjo Azul” (1930)de Josef von Sterneberg, onde se destaca Marlene Dietrich, “Luzes da Cidade” (1931) de Chaplin (que resistiu ao sonoro nesta sua última obra muda), “M-Matou” (1931) de Fritz Lang, “Zero em Comportamento”  (1933) de Jean Vigo, “Os Grandes Aldrabões “ (1933)de Leo McCarey, que marca a afirmação dos irmãos Marx, o documentário “Las Hurdes” (1933)que lança um dos mais famosos realizadores espanhóis, Luis Buñuel, no mesmo ano em que se estreia a primeira versão de “King Kong” (1933), ou duas obras fundamentais para compreender a manipulação no cinema, “O Triunfo da Vontade” (1934) e “Ídolos do Estádio” (1936) de Leni Riefenstahl, “Os Tempos Modernos” (1936) de Chaplin, “A Grande Ilusão” (1937)de Jean Renoir, “Branca de Neve e os Sete Anões” (1937) de Walt Disney, a primeira longa metragem de animação, “Alexandre Nevsky” (1937) de Sergei Einsenstein , “A Cavalgada Heróica”(1939) de John Ford ou “O Feiticeiro de Oz” e “E Tudo o vento Levou”, ambos de 1939 e de Victor Fleming, entre muitos outros, aí estão para comprovar o início de uma época prodigiosa na história do cinema.

Marcada pelo horror da  guerra, a década de 40 deu-nos obras tão marcantes como “O Mundo a seus pés” (1941) de Orson Welles , a “Relíquia Macabra/O Falcão de Malta”(1941) de John Huston, que marcou a afirmação do cahamdo “film noir”, ou o clássico dos clássicos “Casablanca” (1942) de Michael Curtiz.

Mas a grande novidade da década foi o aparecimento do neo-realismo iniciado por “Obsessão”(1943) de Visconti, “Roma Cidade Aberta” (1945) de Rossellini, ou “Ladrões de Bicicletas” (1948) de Vittorio De Sica.

Data ainda desta década o último filme de Eisenstein, “Ivan o Terrível”, de 1944 mas que só pode ser estreado dez anos depois, após a morte de Stalin.

A década terminava com a afirmação, em 1949, de um novo tipo de filmes, os musicais, com “Um Dia em Nova Iorque” de Stanley Donen e Gene Kelly.

A última década da nossa evocação dá continuidade a grandes realizadores das década anteriores mas vem afirmar uma nova geração nos Estados Unidos, com os de George Stevens ("Um Lugar ao Sol"(1951) , "Shane"(1953), "O Gigante"(1956)), os  de Fred Zinemann ("O Comboio apitou três vezes"(1952), "Até à eternidade"(1953)...), de Howard Hawks ("Os Homens preferem as loiras"(1953),"Rio Bravo"(1959)...), de Nocholas Ray ("Johnny Guitar"(1954), "Fúria de Viver" (1955)...), Billy Wilder ("O Crespúculo dos Deuses" (1950), "Quanto mais quente melhor"(1959)), de Elia Kazan ("Um electrico chamado desejo" (1951), "Há Lodo no Cais"(1954)...), de Davis Lean ("A Ponte do Rio Kwai"(1957)...) ou de Stanley Kubrick ("A Caminho da Glória"(1957)), secundados por um conjunto de actores que marcam uma ruptura com a representação clássica, com Marlon Brando, James Dean ou Marilyn Monroe, uma época também muito marcados pelo período do maccartismo.

Na  Europa afirmam-se Jacques Tati ("As Férias do Sr. Hulot" (1953), "O Meu Tio"(1958)), Ingmar Bergman("Sorrisos de uma noite de Verão"(1955), "O Sétimo Selo" e "Morangos Silvestres"(ambos de 1957)) , ou os primeiros realizadores da “nouvelle vague”, como Alain Resnais("Noites de Nevoeiro" (1955) e "Hiroshima Meu Amor"(1959)), François Truffaut ("Os 400 golpes"(1959) ou Jean-Luc Godard ("O Acossado"(1959), que dão os seus primeiros passos no último ano da década.

Mas a década de 50 é igualmente marcada pelo cinema emergente de outras paragens, como o dos cineastas japoneses Ozu ("Viagem a Tóquio" (1953)), Mizoguchi("Contos da Lua Vaga" (1953)) ou Kurosawa ("Às Portas do Inferno"(1950), "Os Sete Samurais" (1954)) ou o do indiano Satyajit Ray("O Indomável" (1957)).

Deixámos para o fim a referência a um cineasta que atravessou os “trinta gloriosos”, realizando uma média de um filme por ano e que simboliza toda uma época e fez a ligação entre o período anterior do cinema mudo e as décadas seguintes.

Referimo-nos a Alfred Hitchcock.

Se há um rosto para o cinema dos “trinta gloriosos” do cinema é o de Hitchcock.

Entre as dezenas de filmes que realizou, destacamos, ao longo deste período, “39 Degraus” (1935), “Rebeca” (1940), “Difamação” (1946), “Janela Indiscreta” (1954), “Vertigo” (1958) ou “Intriga Internacional” (1959).

Pensamos que está assim justificada a designação de “trinta gloriosos” que damos a este período da história do cinema.

FONTES:

- MATOS-CRUZ, José de , "O Cais do Olhar", ed. Cinemateca Portuguesa; 

- SADOUL, Georges , História do Cinema Mundial, 2º Volume, Livros Horizonte

: O Cinema em Torres Vedras, em Portugal e no mundo nos “Trinta Gloriosos” da História do cinema (1930-1960).

terça-feira, 15 de dezembro de 2015

Torres Vedras : Natal na Rua Miguel Bombarda - uma rua Arte e Artesanato

“Cuidado” com a subida do Salário Mínimo????...ou… cuidado com o Salário Máximo???


Presente numa conferência em Portugal , o conhecido economista e Prémio Nobel Paul Krugman. Interrogado sobre  a subida do salário mínimo em Portugal, considerou-a “problemática” ,  recomendando “cuidado “ na forma de tomar essa medida.

Não é a primeira vez que um dos economistas queridos de certa esquerda portuguesa faz afirmações totalmente disparatadas sobre Portugal e que contradiz a imagem de “economista de esquerda” que alguns lhe atribuem.

De facto, e mais uma vez neste caso,  limita-se a enfileirar na ideologia dominante entre economistas bem remunerados e que recebem fortunas como conferencistas, em defesa da desvalorização do factor trabalho.

Começa a ser nojenta a forma como se debate a subida do miserável ordenado mínimo em Portugal, como se viesse daí um grande escândalo, ao mesmo tempo que se escamoteiam verdadeiros escândalos salariais, como aqueles que são pagos a certos gestores de Bancos e de Empresas Públicas, onde o abjecto caso Sérgio Monteiro é apenas a ponta do iceberg.

Para mim o problema não reside na subida do salário mínimo, mas no valor de certos salários “máximos”, muitas vezes auferidos por gente incompetente, pouco trabalhadora e que apenas beneficia desse privilégio por ter gerido “bem” a sua carreira político-pessoal.

Há muitos anos, jovem adolescente à procura de respostas para o mundo que descobria, lembro-me de ter perguntado ao meu pai qual devia ser a profissão mais bem paga de todas…ele pensou um bocado e respondeu-me: “professor universitário”.

Pessoalmente, e ao longo do tempo, foi-se consolidando a idéia de que o meu pai tinha razão.

Acontece que, em Portugal, um professor catedrático, no topo da carreira, em regime de exclusividade, recebe de salário bruto pouco menos de cinco mil e quinhentos euros (não recebendo muito mais que 3 mil euros depois de efectuados os descontos).

Parece-me evidente que este devia ser o limite de ordenados pagos no sector público e que o privado devia ser fortemente desincentivado de pagar muito mais que esse valor.

Ora, infelizmente não é isso que se passa na banca pública e, principalmente, no Banco de Portugal.

Muitos dos “opinadores” que se mostram muito preocupados com a subida do salário mínimo, auferem muitas vezes muito mais do que o tal professor catedrático, e por isso é imoral o simples facto de opinarem sobre esse assunto, geralmente recomendando os tais “cuidados”.


Por isso, na minha opinião, cada vez que um comentador se refere aos “cuidados” a ter com a subida dos salários dos outros, devia exibir, como na publicidade, junto do texto ou por baixo da imagem televisiva, uma listagem do rendimento por ele auferido, não só para comentar, como  pela sua actividade, para percebermos a que salários abusivos eles se querem referir… 

O CLIMA E AS CIMEIRAS EM CARTOON´S

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Cimeira de Paris – Entre as boas intenções e o cinismo das elites político/económico/financeiras.



Parece que desta vez, finalmente, os líderes políticos mundiais reconheceram a gravidade das alterações climatéricas e, pelo menos por agora, se uniram para tomar medidas que evitem a anunciada e quase irreversível catástrofe climatérica.

Todos assinaram o documento final e todos prometeram tomar medidas drásticas para reduzir a emissão de combustíveis fósseis e os substituírem por energias renováveis e limpas.

Mas o optimismo acaba aqui.

Em primeiro lugar, o documento só será ratificado em…2020…

Depois, nada garante que, pelo menos num dos maiores poluidores do mundo, os Estados Unidos, uma hipotética vitória de um candidato republicano não possa reverter todo o processo, já que todos os candidatos desse partido, que controla o congresso e o senado, revelam-se da mais confrangedora ignorância sobre o assunto, todos defendendo o lobbie das grandes industrias petrolíferas.

Mexer a sério nos grandes interesses poluidores do mundo, a industria do petróleo, a industria de armamento, a industria automóvel , a industria das madeiras e mineiras, e a industria de criação de gado, todas controladas pelo poder financeiro mundial, provocaria um grande abano no tipo de sociedade e de economia que “paga” o estilo de vida dos políticos, economistas, gestores  e banqueiros , os mesmos que podem aplicar os acordos.

A defesa do ambiente não se compadece, por exemplo , com o modelo de sociedade consumista que guia o objectivo de vida da maior parte das populações do mundo, cujos valores são propagandeados todos os dias na publicidade, nos meios de comunicação de massa, na cultura popular e que fazem parte do “modelo ocidental” que é vendido aos países “emergentes”.

Por último, a defesa do ambiente implica uma mais activa intervenção dos Estados contra os grandes interesses privados e em defesa das leis ambientais, o que implica uma inversão total da ideologia neoliberal dominante entre as mesmas elites politicas, económicas e financeira que estiveram por detrás da realização da Conferência de Paris.

Neste caso, é ver para crer, mas o problema é que, o tempo de inverter a situação está a esgotar-se…

“A Vida Oculta de Fernando Pessoa” – A BD continua a homenagear Pessoa.

domingo, 13 de dezembro de 2015

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Miserabilismo terceiro-mundista :" Patrões recusam aumento do salário mínimo para 530 euros"

AQUI por várias vezes nos referimos ao miserabilismo do discurso dominante sobre o salário mínimo.

Andam por aí  alguns comentadores muito preocupados com o "terceiro-mundismo" da existência de um governo apoiado numa maioria de esquerda, mas nunca os vimos preocupados com o verdadeiro miserabilismo terceiro mundista dos salários e pensões dos portugueses, ou, quando abrem a boca para comentar o assunto, é sempre para defenderem esta situação.

Já demonstramos também aqui que um salário inferior a 600 euros corresponde a menos de 30 euros de salário diário, por 8 horas de trabalho, ou menos de 3 euros à hora.

Ainda por cima o salário mínimo não é uma excepção repugnante do mercado do trabalho, é uma regra que atinge quase 20% dos trabalhadores portugueses, sem esquecer casos ainda mais graves que não estão contabilizados, juntando-se a tudo isso a precariedade e insegurança em que vive a maior parte dos trabalhadores (ou os "colaboradores" da novilíngua neoliberal).

Parece-me indigno e até vergonhoso que ainda seja preciso andar a justificar permanentemente e a realizar reuniões intermináveis para conseguir convencer comentadores, economistas, políticos e representantes do grande patronato da justeza de um já de si ridículo aumento do salário mínimo nacional, quando os mesmos se mantém silenciosos sobre o escândalo de certos salários que por aí se praticam, como é o caso do ex-secretário de Estado Sérgio Monteiro que vai auferir um salário de 30 mil euros pagos pelos contribuintes para fazer um trabalho que está a ser feito por outras duas entidades...e este é apenas uma pequena ponta do iceberg ..

Vamos lá a ter um pouco de vergonha na cara!!!

No Teatro - Cine , de 14 a 18 de Dezembro : Uma semana para evocar a História do Cinema e comemorar a 100ª sessão de "Café com Filmes"

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Acaba de sair o 4º volume de "Álvaro Cunhal - uma biografia política" de José Pacheco Pereira




Acaba se ser editado o 4º volume da Biografia de Álvaro Cunhal da autoria do historiador José Pacheco Pereira.

Tivemos ocasião de ler os três primeiros volumes dessa obra monumental e esperamos em breve iniciar a leitura deste novo volume.

Daquilo que lemos dos volumes  anteriores esta é, não só a mais completa e bem documentada biografia de Álvaro Cunhal, como a obra mais completa sobre a história da oposição ao Estado Novo, já que o autor não se limita à figura de Cunhal, mas analisa, com base em muita documentação inédita e até então desconhecida, tudo o que gravitava à volta de ´Álvaro Cunhal
E o que gravitava à volta de Álvaro Cunhal não era apenas o PCP e a Internacional Comunista, mas práticamente toda a oposição que com ele de perto privou.

Tive a oportunidade de confrontar o rigor da obra de Pacheco Pereira com a prova viva de um velho, e entretanto já falecido, militante do PCP que viveu  a história desse partido, na prisão e na clandestinidade e me comprovou a veracidade de tudo o que está escrito nesta monumental obra.

Só foi de lamentar, até agora, que o próprio PCP nunca tenha facultado o acesso de Pacheco Pereira ao seu arquivo ou que Álvaro Cunhal sempre se tivesse recusado a ser entrevistado pelo historiador. 

Mas as grandes qualidades de Pacheco Pereira como investigador conseguiram ultrapassar e contornar essa lacuna, ao ponto de o próprio Álvaro Cunhal em vida e os responsáveis do PCP nunca desmentirem ou encontrarem motivo para desacreditar a obra histórica que agora conhece a edição do seu 4º volume.

Para além de ser impossível fazer a história do século XX português ( e até europeu) sem consultar esta obra, ela própria inclui um vasto manancial de documentação e de orientação bibliográfica imprescindível para  qualquer investigação séria sobre a época.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

LE PEN VENCEU...E A EUROPA, AINDA NÃO SE "CONVENCEU"??


O inevitável aconteceu.

A extrema-direita venceu a primeira volta das eleições regionais francesas.

Venceu alicerçada no discurso anti-europeu, contra o "euro" e, demagógicamente, pegando na bandeira que a esquerda não soube defender, a bandeira da defesa do Estado Social.

Venceu também graças à incompetência da União Europeia em lidar com o dramas da emigração e beneficiando dos erros da política externa europeia no Líbano, na Síria e no resto do Médio Oriente que estão na origem, não só do drama dos refugiados como  da onda terrorista.

A destruição da classe média na Europa graças às políticas austeritárias também muito tem contribuído para a ascensão da extrema-direita, e não só em França.

Além disso, um certo discurso defensivo do poder clássico Europeu sobre os emigrantes e sobre o terrorismo tem contribuído para  legitimar o discurso da extrema-direita.

Se as políticas económicas e socias europeias não mudarem rápidamente de rumo, está aberto o caminho à extrema-direita e ao fim da Europa da tolerância e da igualdade.

Se a Europa não encontrar rápidamente uma solução para o drama dos refugiados, está aberto o caminho para que muitas mais "Le Pen" floresçam por essa Europa fora.


Para se salvar a banca, as Pensões Públicas espanholas estão em risco(onde é que já vimos este filme?)

Vicenç Navarro é catedrático de economia na Universidade de Barcelona, professor de Politicas Públicas numa Universidade de Baltimore (USA) e dirige o Observatório Social de Espanha.

É um dos investigadores espanhóis mais citados em publicações cientificas e é autor de uma coluna nas páginas do jornal espanhol on-line "Publico", intitulada "Pensamento Crítico".

Na sua crónica de hoje denuncia a forma como a banca espanhola está a usar e a abusar da sua influência para se financiar à custa dos Fundos Sociais espanhóis.

Mas muito daquilo que ele denuncia nessa crónica, mudando alguns factos e alguns nomes, podia ser escrito sobre Portugal:

"A banca privada está sobredimensionada em Espanha" ( e não podíamos dizer o mesmo sobre Portugal?), situação que ele considera como muito negativa para a economia daquele país porque "ocupa um espaço demasiado grande dentro dela" (e, será, que não podíamos afirmar o mesmo em relação a Portugal?).

Escreve aquele economista que, uma "das causas" desse "sobredimensionamento da banca privada é a sua enorme influência ( que alcança, nalgumas ocasiões, a categoria de controle) sobre as instituições políticas e mediáticas deste país" (também não podíamos dizer a mesma coisa sobre Portugal?).

Esse articulista analisa nesse artigo (que pode ser lido integralmente AQUI ) o " silencio dos media sobre o assalto ao Fundo de Reserva de Pensões da Segurança Social por parte do governo Rajoy e dos seus amigos da banca", explicando o modo como as políticas anti-sociais de Rajoy ( e iniciadas por Zapatero, o Sócrates lá do sítio), como a redução dos salários, a reforma laboral e o aumento do desemprego, contribuíram para reduzir as cotizações sociais, provocando "um problema devastador para as pensões públicas".

Se essa situação é preocupante para o futuro das pensões é, pelo contrário "causa de alegria para a banca que está a tentar convencer a população que as pensões públicas não são sustentáveis ( o que quer dizer que o Estado não as poderá pagar) a fim de que se vá correr ao banco mais próximo para se fazer um plano privado de pensões".

Denuncia aquilo que os "meios de informação e persuasão não dizem sobre os Fundos de Pensão Pública", ou seja, o modo como a banca, com a conveniência dos políticos espanhóis e o silêncio cúmplice da comunicação social, cativaram aquele fundo, passando a explicar a causa de tudo:

Quando o a especulação financeira começou a derrapar e rebentou a "borbulha imobiliária", a banca privada ficou "à beira do colapso. Mas, devido à enorme influência da banca, o Estado resgatou-a", com dinheiros públicos e à custa dos cidadãos.

"Como o Estado não dispunha desse dinheiro, teve de o pedir emprestado", levando a que a "dívida pública disparasse", usando como "penhora" o dinheiro do "Fundo Público para as Pensões".

Foi essa situação que colocou em risco "as pensões públicas, pois o valor da dívida publica varia enormemente, já que está sujeito ao vaivém especulativo do mercados financeiro".

Referindo-se a Espanha (mas não podia estar a referir-se a Portugal??)  aquele economista conclui que "os maiores meios de informação e persuasão passam vinte e quatro horas por dia trabalhando para assegurar que você, senhor leitor, continue sem conhecer o que se está a passar. Se as pessoas soubessem, e soubessem também que há alternativa a tanto escândalo, havia uma revolta geral. Daí que o silêncio ensurdecedor continue. E o que é pior é que os partidos políticos mais próximos da banca é provável que ganhem as eleições legislativas [em Espanha] de 20 de Dezembro (...). E a isto (...) lhe chamam Democracia" (onde é que já vimos este filme?).

Lá como cá, a diferença reside apenas nos nomes das instituições alvo de cobiça  (ADSE, CGA, Segurança Social....)...

O RESPIGO DA SEMANA - “Guerra ao ISIS? Talvez começar pelo namoro com a Arábia Saudita" por Alexandra Lucas Coelho

“Guerra ao ISIS? Talvez começar pelo namoro com a Arábia Saudita.

Por Alexandra Lucas Coelho, in Público de 29 de Novembro de 2015

George W. Bush com rei Abdullah em Abril de 2005 e François Hollande com o príncipe Salman bin Abdulaziz no início de 2015( REUTERS).

“1. Se algum estado multiplicou embriões que contribuíram para o “Estado Islâmico” foi a Arábia Saudita. E quem calou e consentiu estava no Texas em 2005 como hoje está em Paris. Em 2005, George W. Bush a beijar o rei Abdullah, de mãos dadas entre as flores. Em 2015, François Hollande e Manuel Valls desdobrando-se em contratos de milhões com o sucessor de Abdullah, a tal ponto que a imprensa francesa falou em “lua-de-mel”. O terror de estado saudita fez bastante pelo estado de terror de 2015, enquanto boa parte do dito “Ocidente” calava e consentia. Obama esfriou o namoro, estendeu a mão ao Irão? Pois a Arábia Saudita achou que teria sempre Paris e sem deixar de cortar cabeças. O poeta e artista palestiniano Ashraf Fayadh, que está preso pelos sauditas há quase dois anos, é só o mais recente condenado à morte por “insultar Deus”, “renunciar ao islão”. Nada disso impediu que os negócios ocidentais com a Arábia Saudita prosperassem, entre armamento e fotos de família. Uma cumplicidade a que nenhum atentado contra alvos ocidentais pôs fim. Ao contrário, foi ver como no pós-11 de Setembro a Casa Branca protegeu o ninho saudita e depois invadiu o Iraque, que não tinha nada a ver com o assunto. Estive lá então, e voltei lá este ano, à “fronteira” que separa o “Estado Islâmico” do Curdistão, agora que a Síria está em ruínas, e o Iraque numa divisão fratricida: é esmagador ver como a força do “Estado Islâmico” veio de todos os erros cometidos desde aí, todos os maus jogos de xadrez. Então, para honrar os mortos e cuidar dos vivos, no luto do que aconteceu em Paris, o pós-13 de Novembro podia começar por aí, acabar este namoro complacente, exercer uma pressão real sobre a Arábia Saudita. Quem defende a vida em liberdade não pode ganhar dinheiro incondicionalmente com estados que fazem do extremismo o seu império, explorando centenas de milhões em África e no Oriente, enquanto se declaram contra o “Estado Islâmico”.

“2. Da Bósnia ao Paquistão, o dinheiro do petróleo saudita foi-se materializando em mesquitas, escolas corânicas, centros culturais, sites, jornais, que assim se tornavam frentes avançadas do wahhabismo, a corrente fundamentalista do sunismo imposta na Arábia Saudita. Uma colonização dos espíritos em territórios ultravulneráveis, devastados pela guerra, pela repressão ou pela miséria, prontos a ficar dependentes dessa protecção. Em muitos lugares, a alternativa é estudar nas madrassas pró-sauditas ou não estudar. Os cálculos de quanto foi gasto na exportação do wahhabismo variam entre 100 biliões e o dobro, ou seja, nem se alcança. Paralelamente, acima da arraia-miúda ou nos subterrâneos, passou todo o resto, petróleo, treino e arsenal. Mas não era segredo para ninguém, começando pelo círculo íntimo de Bush, o quanto a Arábia Saudita, através da família real ou de homens de negócios, financiava terroristas. Tanto que a administração Obama alterou as relações com Riad. Entre o material divulgado pela Wikileaks, a então secretária de Estado Hillary Clinton é citada dizendo que “doadores na Arábia Saudita constituem a mais importante fonte de financiamento de grupos terroristas sunitas no mundo”. Ou: “Temos de tomar mais medidas, visto que a Arábia Saudita continua a ser uma base financeira essencial para a Al-Qaeda, os taliban e outros grupos terroristas.” Nesta comunicações, Qatar, Kuwait e Emirados Árabes Unidos também são referidos como apoiando terroristas. Entretanto, rebentou a guerra na Síria, e tanto a Arábia Saudita como aliados ocidentais armaram rebeldes ou supostos rebeldes anti-Assad que se vieram a revelar jihadistas. Tudo isto são embriões do “Estado Islâmico”. Há um ano, o vice-presidente americano Joe Biden disse em Harvard: “Os nossos aliados na região eram o nosso maior problema na Síria. Os turcos eram grandes amigos […] e os sauditas, os Emirados, etc. Que estavam eles a fazer? A dar centenas de milhões de dólares e dezenas de toneladas de armas a quem quer que combatesse Assad. Só que essa gente que estava a ser equipada era da al-Nusra e da Al-Qaeda e de elementos extremistas da jihad vindos de várias partes do mundo.”

“3. No relatório sobre o 11 de Setembro, 28 páginas continuam secretas, enquanto ainda se arrasta o inquérito e os familiares das vítimas permanecem na dúvida. Um dos advogados das famílias, Sean Carter, disse em Agosto que “a natureza do apoio dos sauditas à Al-Qaeda continua a ser mantida em segredo, quando é referida num conjunto de documentos classificados”. De acordo com o antigo senador Bob Graham, essas 28 páginas “apontam um dedo muito forte à Arábia Saudita como o principal financiador” do 11 de Setembro. Graham acrescentou recentemente: “A Arábia Saudita não pôs fim ao seu interesse em espalhar wahhabismo extremista. O ISIS é um produto dos ideais sauditas, do dinheiro saudita e de apoio organizativo saudita, apesar de agora eles posarem como sendo muito anti-ISIS.”

“4. Ensaf Haidar (mulher do blogger saudita Raif Badawi, refugiada no Canadá porque a sua vida corria perigo) diz que “o Governo saudita se comporta como o Daesh [outro termo para ISIS ou “Estado Islâmico”]”. O seu marido continua preso por “apostasia”, ou seja, “renúncia ao islão”. Condenado a dez anos e mil chicotadas, o blogger já foi alvo de 50. É hipertenso, e a mulher teme que ele não sobreviva a nova série.

“5. O físico nuclear Yousaf Butt (consultor de segurança nacional, de Harvard a Londres, e comentador frequente, da Reuters ao Huffington Post) escreveu: “É razoável pensar que a Casa de Saud [família real saudita] é simplesmente uma versão mais implantada e diplomática do ISIS. Partilha o mesmo extremismo wahhabi teofascista, a falta de direitos humanos, a intolerância, as decapitações violentas, etc., mas com melhor construção e melhores estradas. Se o ISIS se tornar um verdadeiro estado, ao fim de décadas podemos imaginar que se parecerá com a Arábia Saudita.”

“6. E, já depois dos últimos atentados em Paris, um escritor magrebino fez-se ouvir com contundência, num artigo a 20 de Novembro no New York Times, intitulado Saudi Arabia, an ISIS that has made it (Arábia Saudita, um ISIS bem-sucedido). Chama-se Kamel Daoud e tem o peso de ter ganho este ano o Prémio Goncourt/Primeiro Romance. Depois de equiparar Arábia Saudita e ISIS, Daoud resume: “Na sua luta contra o terrorismo, o Ocidente declara guerra a um mas aperta a mão ao outro.” Um “mecanismo de negação” que fecha os olhos às consequências: “O wahhabismo, um radicalismo messiânico que surgiu no século XVIII, espera restaurar um califado fantasioso centrado num deserto, um livro sagrado e dois lugares santos, Meca e Medina. Fundado no massacre e no sangue, manifesta-se numa relação surreal com as mulheres, a proibição de não-muçulmanos atravessarem os territórios sagrados e leis religiosas ferozes. Isso traduz-se num ódio obsessivo da imagem e da representação, e portanto da arte, mas também do corpo, da nudez, da liberdade. A Arábia Saudita é um Daesh bem-sucedido.” Daoud descreve em seguida os efeitos da wahhabização no mundo muçulmano, de como isso distorce o islão e o “Ocidente”. E conclui: “Daesh tem uma mãe: a invasão do Iraque. Mas também tem um pai: a Arábia Saudita e o seu complexo religioso-industrial. Até que esse ponto seja percebido, batalhas podem ser ganhas, mas a guerra estará perdida. Jihadistas serão mortos para renascerem em gerações futuras e formados pelas mesmas cartilhas. Os ataques a Paris expuseram estas contradições outra vez, mas, tal como aconteceu depois do 11 de Setembro, isso corre o risco de ser apagado das nossas análises e consciências.”

“7. No mesmo dia, 20 de Novembro, Ben Norton escreveu na Salon que, apesar de tudo isto e do esfriar do namoro, “a administração Obama fez mais de 100 bilhões em negócios de armas com a monarquia saudita em apenas cinco anos”. E, “menos de três dias antes dos ataques de 13 de Novembro em Paris, os EUA venderam 1,3 bilhões de bombas à Arábia Saudita. O regime tem usado estas armas para grupos extremistas no Médio Oriente”. Ao mesmo tempo, os laços entre Paris e a Arábia Saudita (mas também o Qatar) foram fortalecidos com vários negócios. A França é um fornecedor de armas importante, e o petróleo do golfo é importante para a França. A França já é o terceiro maior investidor na Arábia Saudita e quer que os sauditas invistam em França. Há um mês, apenas, o primeiro-ministro Valls foi a Riad com cerca de 200 empresários franceses.


“8. Por ter aberto a cena artística saudita ao mundo, a condenação à morte de Ashraf Fayadh, decretada este mês por um “tribunal” saudita, gerou uma indignação alargada, e não apenas no circuito Tate Modern-Bienal de Veneza. Há uma petição de cem criadores árabes de vários países (Iémen, Omã, Egipto, Emirados, Arábia Saudita, Palestina, Iraque, Kuwait, Síria, Argélia, Bahrein, Marrocos, Líbano). Fayadh tem alguns dias para recorrer, mas não pode receber visitas e dificultam-lhe acesso a uma defesa. E na sobreposição de acusações, tanto pode ser morto pelo que alguém interpretou como renúncia ao islão num seu livro de poemas, como por usar cabelo comprido, guardar fotos de mulheres no telemóvel ou ter partilhado um vídeo em que a polícia religiosa saudita chicoteia um homem em público. Claro que a vida dentro do “Estado Islâmico” é ainda pior, e certamente o “Estado Islâmico” não obedece à Arábia Saudita, ao contrário, edipianamente, fez dela mais um dos seus alvos. Mas uma das raízes desta caixa de Pandora jihadista está em Riad, e era bom que a luta pela vida passasse por aí”.