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segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

O Respigo da Semana: "A Mentira do ranking", por Daniel Sampaio

AQUI manifestei a minha opinião sobre essa enorme mistificação e falácia que é analisar a realidade do nosso sistema educativo através da publicação anual dos malfadados ranking´s.

Transformar a educação numa espécie de campeonato de futebol, pode ser divertido e apaixonante e dar muito tempo de antena a uns comentadores que percebem de tudo e assim podem discutir com “factos”, prescindindo de uma análise profunda sobre o problema da educação, o que dava uma trabalheira, ou poder debitar meia dúzia de ideias feitas para contentar o iletrado “zé povinho”, que acha que a educação é uma perda de tempo.

Vivemos uma época em que tudo se resume a números, em que cada um de nós não passa de um dado estatístico para encher as primeiras páginas dos jornais ou as aberturas dos noticiários, não sendo por isso de admirar o endeusamento que é feito da publicação desses ranking’s.

Felizmente ainda há comentadores que pensam com a própria cabeça e sem os complexos ideológicos que pastam no “observador” , e por isso aqui transcrevemos hoje a crónica de Daniel Sampaio, onde, remando contra a maré, esses rankings são desmistificados, ainda por cima por alguém que sabe do que fala:

“A mentira do ranking

Por Daniel Sampaio, in 2-Público, 20 de Dezembro de 2015

“Começo por protestar contra o uso repetido deste termo “ranking”, como se o português não contivesse vocábulo apropriado. Hesitei em usá-lo, mas fui vencido pelo hábito: se escrevesse sobre a “classificação das escolas”, muitos leitores não saberiam do que estaria a falar.

“A comunicação social, em regra tão omissa em tratar os problemas da escola (excepto os negativos), dedicou agora amplo espaço ao tema. A televisão optou até por se deslocar às “melhores” e às “piores” escolas, sem cuidar de aprofundar os fundamentos da seriação publicada.

“Tudo o que seja aferir o funcionamento de uma escola e disso dar conta à comunidade educativa merece a nossa atenção. As nossas crianças e adolescentes passam a maior parte do seu dia em território académico, por isso faz sentido que todos sejam informados sobre a escola. A classificação em causa, todavia, tem um alcance muito limitado e de modo algum demonstra o que na realidade se passa nos estabelecimentos de ensino.

“Convém explicar aos menos esclarecidos que os célebres rankings são apenas uma seriação das classificações obtidas pelos alunos nos exames nacionais. Se já é discutível que se avalie o mérito de um estudante apenas pela nota do exame final, é fácil compreender que esse dado não poderá servir para classificar uma escola em “melhor” ou “pior”. Por uma razão simples: os dados publicados não entram em linha de conta com as diversas características dos alunos que realizam essas avaliações finais, nem consideram um dado decisivo e que não deveria ser escondido de modo sistemático — as escolas privadas seleccionam os alunos, logo quem chega lá ao final do ano está em melhores condições para obter bons resultados.

“Os pais fazem muitos sacrifícios para manterem os alunos no privado, com a crença de que terá melhor ensino. O que se sabe, de modo seguro, é que obterão em princípio melhores notas, mas é duvidoso que fiquem mais aptos para enfrentar os problemas da vida. Como psiquiatra que trabalha há 40 anos com adolescentes, pais e professores, sou testemunha de um facto indesmentível: quando é detectado um problema de comportamento grave ou uma perturbação mental significativa, a escola privada aconselha a mudança de estabelecimento de ensino. Os argumentos são corteses mas só correspondem, de facto, à necessidade imperiosa de se ver livre de um estudante “problemático”, que poderá contribuir para a baixa da média no ranking final. Assim, muitos estudantes são encaminhados para o ensino público, que tem de acolher todos, em vez de a escola privada garantir apoios significativos a alunos com dificuldades de aprendizagem ou perturbações psiquiátricas.

“Por outro lado, é hoje um facto incontestado que a origem social e cultural dos estudantes condiciona o seu percurso escolar. Assim, os alunos que à partida não podem frequentar um colégio privado por falta de dinheiro terão de ir para o ensino público, logo as populações pretensamente estudadas pelas classificações das escolas não são comparáveis.

“Outro aspecto menos positivo das classificações tem que ver com a pressão exercida sobre os “maus” alunos. Com a obsessão dos rankings, os estudantes mais frágeis são submetidos a enorme desgaste por críticas tantas vezes injustas, sem que a escola se preocupe em perceber o alcance, para esse jovem, de uma discriminação tão acentuada sobre o seu desempenho académico.

“Analisemos as escolas, claro, mas com mais verdade”.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Rankings, Ratings, e outras inutilidades para nos tramar a vida...


Vivemos num mundo doentiamente dominado pela quantificação de tudo.
Não seria grave se essa febre pelos números se ficasse pela simples curiosidade ou pelo prazer de brincar com os números.
O grave é que, cada vez mais, se tomam decisões com base nesses números: eles são os rankings, os ratings, as previsões financeiras..

A maior parte desses números tem por base as grandes médias, a “realidade” macroestrutural, ou a simples manipulação, baseando-se muita vez em critérios discutíveis e pouco científicos, como acontece com os célebres ratings dos piratas das agências finaceiras.. .

Quem trabalha com números sabe do risco em interpretar médias e dados macroestruturais, se não se tiver em conta as análises “micro” ou a chamada “mediana”.

Como todos estão a sentir na pele, as grandes decisões que nos afectam a todos têm por base “previsões” estatísticas, sem que ninguém se preocupe em analisar, à posteriori, quantas dessas previsões estavam erradas…é que o mal já está feito e agora seria complicado responsabilizar alguém pelo erro das previsões (houve até um tal governador do Banco de Portugal premiado com um cargo chorudo no BCE, depois de ter errado todas as previsões, erro que está a custar a muitos portuguese os subsídios de Natal e de férias…).

Mas vem tudo isto a propósito dos “famosos” rankings das escolas.

As bases com que são construídos são, já de si, bastante discutíveis, como se o ensino fosse uma espécie de campeonato de futebol ou se a sua actividade e acção se resumissem aos resultados de um exame nacional, cujos critérios (nível de dificuldade variável, forma de correcção…) são, muitas vezes, discutíveis.
Na localidade onde vivo existe uma escola localizada numa zona problemática, longe do centro da cidade, onde conseguir que um aluno se mantenha na escola é, só por si, uma vitória.
Nessa escola, onde eu nunca dei aulas, mas com a qual já  colaborei em actividades e onde leccionam pessoas que eu conheço bem, existe um corpo docente empenhado em enfrentar os graves problemas socias que entram pelas portas a dentro dessa escola.

A forma como essa escola procura responder aos seus problemas diários é digna de nota, bem como o grande contributo que está a dar para que muitos jovens, cujo futuro podia ser a delinquência, a marginalidade ou a miséria, possam vislumbra algum futuro nas suas vidas.
Não tenho duvidas que, dentro das condições especiais dessa escola, o trabalho dos seus professores é muito maior que o normal.

Contudo, no célebre ranking agora divulgado, essa escola aparece como a pior classificada neste concelho, e uma das piores classificadas a nível nacional.

Se outro argumento não houvesse, esta situação é a prova cabal da total inutilidade desses rankings. Diria mesmo mesmos mais: é a prova da grande “fraude” que é a sua divulgação, ou, como dizia um professor holandês, que estudou o assunto, é a prova de que “os rankings… não devem ter lugar numa sociedade civilizada”…