Vivemos num mundo doentiamente dominado pela quantificação de tudo.
Não seria grave se essa febre pelos números se ficasse pela simples curiosidade ou pelo prazer de brincar com os números.
O grave é que, cada vez mais, se tomam decisões com base nesses números: eles são os rankings, os ratings, as previsões financeiras..
A maior parte desses números tem por base as grandes médias, a “realidade” macroestrutural, ou a simples manipulação, baseando-se muita vez em critérios discutíveis e pouco científicos, como acontece com os célebres ratings dos piratas das agências finaceiras.. .
Quem trabalha com números sabe do risco em interpretar médias e dados macroestruturais, se não se tiver em conta as análises “micro” ou a chamada “mediana”.
Como todos estão a sentir na pele, as grandes decisões que nos afectam a todos têm por base “previsões” estatísticas, sem que ninguém se preocupe em analisar, à posteriori, quantas dessas previsões estavam erradas…é que o mal já está feito e agora seria complicado responsabilizar alguém pelo erro das previsões (houve até um tal governador do Banco de Portugal premiado com um cargo chorudo no BCE, depois de ter errado todas as previsões, erro que está a custar a muitos portuguese os subsídios de Natal e de férias…).
Mas vem tudo isto a propósito dos “famosos” rankings das escolas.
As bases com que são construídos são, já de si, bastante discutíveis, como se o ensino fosse uma espécie de campeonato de futebol ou se a sua actividade e acção se resumissem aos resultados de um exame nacional, cujos critérios (nível de dificuldade variável, forma de correcção…) são, muitas vezes, discutíveis.
Na localidade onde vivo existe uma escola localizada numa zona problemática, longe do centro da cidade, onde conseguir que um aluno se mantenha na escola é, só por si, uma vitória.
Nessa escola, onde eu nunca dei aulas, mas com a qual já colaborei em actividades e onde leccionam pessoas que eu conheço bem, existe um corpo docente empenhado em enfrentar os graves problemas socias que entram pelas portas a dentro dessa escola.
A forma como essa escola procura responder aos seus problemas diários é digna de nota, bem como o grande contributo que está a dar para que muitos jovens, cujo futuro podia ser a delinquência, a marginalidade ou a miséria, possam vislumbra algum futuro nas suas vidas.
Não tenho duvidas que, dentro das condições especiais dessa escola, o trabalho dos seus professores é muito maior que o normal.
Contudo, no célebre ranking agora divulgado, essa escola aparece como a pior classificada neste concelho, e uma das piores classificadas a nível nacional.
Se outro argumento não houvesse, esta situação é a prova cabal da total inutilidade desses rankings. Diria mesmo mesmos mais: é a prova da grande “fraude” que é a sua divulgação, ou, como dizia um professor holandês, que estudou o assunto, é a prova de que “os rankings… não devem ter lugar numa sociedade civilizada”…
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