A verdade é esta: João Jardim voltou a ter uma maioria absoluta. Pouco interessa se ele perdeu votos ou deputados.
Parece que a raiva, justificada e compreensível, contra o homem, acabou por lhe dar novo alento.
De facto o discurso que pretendeu fazer da Madeira uma espécie de bode expiatório da situação em Portugal não resultou.
Há toda a razão para estarmos irritados com o desvario financeiro da ilha, mas há que saber separar o trigo do joio.
Não percebi ainda qual a parte da dívida que, de algum modo é legítima. Recorde-se que a Madeira foi vítima há pouco tempo de uma grande tragédia e que a reconstrução terá feito crescer a dívida (resta saber é se os dinheiros da reconstruções foram usados de modo legítimo…), ou que há que ter em conta a insularidade e os problemas que isso levante (já está esquecido o princípio da subsidiariedade?).
Por mim gostava de saber qual a parte da dívida que é de facto ilegítima, por via do compadrio, da corrupção, do off-shore, do caciquismo que sempre marcou o governo regional. O que há de novo não é a percepção do dinheiro mal gasto, da compra de votos e do silêncio, da protecção às negociatas dos amigos políticos, mas a descoberta tardia de alguns em relação à triste realidade política madeirense. Só agora é que descobriram quem é João Jardim? Só agora é que se preocupam com a dívida da Madeira? Só agora é que descobriram os atentados à liberdade de imprensa e as perseguições políticas perpetradas por Jardim e pelos que o rodeiam (alguns destes ainda piores que ele)?
Já se esqueceu o sr. Presidente da República de quando, para evitar enfrentar Jardim, resolveu tomar a atitude indigna, para o cargo que detém, de receber deputados da oposição do parlamento regional…num quarto de hotel?
Já se esqueceram todos aqueles que passaram pelos governos dos últimos anos, nomeadamente nas pastas das finanças, de que nada fizeram às muitas queixas, algumas institucionais, como as do Tribunal de Contas, contra a corrupção no seio do poder jardinista?
João Jardim representa tudo o que de pior o regime democrático pode oferecer: a ditadura da maioria com base na “legitimidade” do voto, o desrespeito pelo funcionamento da democracia em nome da …legitimidade democrática de uma maioria obtida nas urnas…, o uso e abuso do poder por parte daqueles que deviam ter a obrigação de respeitar a democracia…
É também a prova acabada de que a democracia ainda é muito imperfeita e que só se aperfeiçoa com… mais democracia, e não limitando-a aos seus actos formais (aí têm um bom modelo na forma antidemocrática como funcionam as instituições da União Europeia….).
É ainda a prova de que a maioria pode nunca ter razão.
Para além de Jardim, houve dois outros grandes vencedores nestas eleições: O CDS-PP, que se tornou assim líder da oposição ao jardinismo; José Manuel Coelho que, usando as mesmas armas da demagogia e do populismo de Jardim transformou o seu “Partido Trabalhista” na quarta força política do parlamento madeirense.
Passos Coelho passa a ter dois problemas com este resultado: O PSD – Madeira, que, sob a direcção de Jardim, tudo vai fazer para minar a actual liderança nacional; e o CDS-PP que, ironicamente, sendo aliado no continente, vai liderar a oposição ao partido de Passos Coelho na Madeira, o que poderá abris fracturas graves nessa aliança nacional.
A esquerda foi a grande derrotada nestas eleições: - O Bloco de Esquerda foi varrido do parlamento e recebe um pesado aviso sobre o seu futuro, arriscando-se a tornar-se em mais um epifenómeno eleitoral, o que, quanto a mim, seria lamentável; - o PCP que, não perdendo muito, perde alguma coisa, apesar do discurso surrealista de Jerónimo de Sousa ontem, ao reagir aos resultados na Madeira (quem só o tivesse ouvido pensaria que toda a esquerda tinha melhorado os seus resultados ou o próprio Jardim teria perdido alguma coisa…).
Por último, o grande derrotado é o Partido Socialista: perde força parlamentar e perde a liderança como partido da oposição. Além disso, esta representa a primeira derrota do Partido Socialista com António José Seguro na liderança.
Aquilo que aconteceu na Madeira pode tornar-se o pesadelo deste partido em próximos actos eleitorais, perdendo influência enquanto toda a gentes se continuar a lembra da gestão ruinosa de José Sócrates ( o seu bando já anda novamente por aí a levantar a voz em tudo o que é comunicação social…e, por incrível que pareça, levado a sério!).
António José Seguro, se pretende recuperar a confiança do eleitorado no seu partido, terá que se livrar da tralha socrática, o mais depressa possível.
Na Madeira até funcionou em parte a máxima segundo a qual, João Jardim “roubou” mas fez obra, enquanto Sócrates fez mais estragos, em menos tempo, que o próprio Jardim, deixando o país com pouco para se orgulhar do seu legado.
Uma atitude que me faz lembrar aquela velha anedota que se contava acerca dos desvarios dos fundos europeus:
Um ministro português visitou um ministro espanhol , e este levou-o a visitar a sua casa, um luxuoso palacete. Admirado com a grandiosidade da habitação, o ministro português perguntou-lhe: - como é que conseguiu arranjar dinheiro para isto?, ao que o ministro espanhol, levando-o às traseira da casa lhe perguntou – está a ver aquela auto-estrada? – Sim!, respondeu o português. Rematou-lhe o ministro espanhol em “off-record”: - Metade dos custos orçamentados para a sua construção foram aplicados na minha casa.
Meses depois o ministro espanhol veio a Portugal visitar o ministro português e este levou-o a visitar a sua casa, ainda maior e mais luxuoso que a do espanhol, ao que o ministro espanhol perguntou: - como é que conseguiu esta casa, muito superior à minha?. O ministro português levou-o à parte de trás da casa e disse-lhe: - Está a ver aquela auto-estrada? . O espanhol olhou, olhou, percorreu toda a paisagem com atenção e exclamou: - Mas…não estou a ver nenhuma auto-estrada!!!. – Pois é, respondeu-lhe o português, o seu orçamento foi todo para a minha casa….
Assim se pode comparar Jardim com Sócrates….
…Enfim, o Carnaval da Madeira vai continuar !
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