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segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Orçamento 2012 :- ...pedimos desculpa pela interrupção...a HISTÓRIA segue dentro de ...décadas!


Em 1761 um decreto do Marquês de Pombal, datado de 12 de Fevereiro, acabava com a escravatura na Metrópole e na Índia. Contudo, só um decreto de 25 de Fevereiro de 1869 abolia a escravatura em todo o Império, medida que só se concretizaria em definitivo em 1878.
Em 1891, pela primeira vez em Portugal, um decreto, datado de 14 de Abril, fixava, pela primeira vez, um horário de trabalho de 8 horas diárias, embora limitado apenas aos trabalhadores do sexo masculino na industria da manipulação do tabaco.
É preciso esperar pela publicação do decreto sidonista de 7 de Maio de 1919 para se impor o horário de trabalho de 8 horas para a indústria e para o comércio.
Só em 1962, com a regulamentação do horário de trabalho dos assalariados agrícolas, em plena vigência  do Estado Novo, é que as 8 horas de trabalho passam a vigorar para todos os trabalhadores.
No actual orçamento, com uma única decisão, o aumento de meia hora de trabalho no sector privado, sem direito a remuneração, faz-se recuar o progresso da história em várias décadas.
Não bastando já o facto da maior parte dos trabalhadores terem de trabalhar mais de três meses por ano para pagar os impostos à “nórdica” (sem as respectivas vantagens), inicia-se o que seria impensável, uma proposta para se trabalhar sem vencimento. Não é ainda a escravatura dos séculos XVIII-XIX, mas é um primeiro passo para desvalorizar o trabalho (recorde-se que o trabalho escravo dos prisioneiros do nazismo foi uma das bases da pujança financeira e industrial da Alemanha do pós-guerras….). Por outro lado, essa medida representa  um grave recuo em relação a uma das grandes conquistas do século XX, o horário de trabalho das 8 horas, que até o Estado Novo respeitou…
Mas as medidas “anti-históricas” deste orçamento não se ficam por aqui. O direito a férias e aos primeiros subsídios de férias  foi regulamentado pela primeira vez  pelo Decreto-Lei nº 49408 de 24 de Novembro de 1969, ainda durante a vigência do Estado Novo, durante a chamada “primavera marcelista”.
A Vasco Gonçalves devemos a generalização desse direito e do direito ao 13º mês, medidas de justiça social e de repartição de riqueza, que já vigoravam há muitos anos na Europa democrática do pós-guerra (nalguns casos ainda antes).
Sabendo nós que não houve um grande cataclismo natural ou uma guerra devastadoras, não se pode aceitar o recuo civilizacional representado por estas medidas, que ainda por cima só vão servir para salvar o sector financeiro que nos conduziu, pela ganância e pela pura selvajaria económica, à situação actual.
…será este o tão apregoado “fim da História”, entusiásticamente badalado pelas acérrimos defensores das virtudes do neo-liberalismo?...

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