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segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

2020 – para esquecer ou recordar?


 Nas minhas mais de seis décadas de vida sempre pensei que não escaparia ao impacto de uma guerra em larga escala ou a um terramoto.

Felizmente, até agora nenhum desses cenário se concretizou na minha vida, apesar da violência de conflitos locais, mas distantes, ou do impacto de fenómenos naturais cada vez mais violentos,  mercê do agravamento da catástrofe ambiental,mas, por enquanto, também distantes.

O que nunca previ foi uma situação como a que vivemos ao longo de 2020 e que se irá prolongar ainda ao longo de todo o ano que agora se inicia.

Na minha geração sempre estiveram presentes as memórias das duas guerras mundiais do século XX, transmitidas por avós e pais,  e a perspectiva de ter de ir combater para a Guerra Colonial, enquanto se mantinha viva a memória colectiva do grande terramoto de 1755 e a sua possível repetição, de cujos efeitos tivemos uma pálida experiência em 1969.

Claro que também existia a memória do efeito de grandes epidemias, tendo-me cruzado com muita gente que se lembrava bem da pneumónica de 1918.

Contudo, os grandes avanços da medicina e dos conhecimentos sobre o funcionamento das epidemias, fez-nos acreditar que se controlaria facilmente um fenómeno dessa natureza, até porque o mundo conheceu muitas outras epidemias ao longo do tempo, mas, geralmente, ou muito localizadas geograficamente, ou de curta duração, sem os efeitos devastadores da “pneumónica”.

Claro que, se compararmos os efeitos da pneumónica com os efeitos do Covid-19,  esta ainda está muito longe daquela, nomeadamente em relação ao número de mortos.

A grande diferença talvez resida na velocidade de propagação, no facto de ter uma expansão a nível mundial, não havendo lugares seguros, e na forma como se tem prolongado no tempo, sem baixar de intensidade, ao contrário, por exemplo, da pneumónica, cujos efeitos se concentraram em cerca de três meses e não ao mesmo tempo em todos os lugares.

Mas talvez o efeito mais nefasto deste epidemia, para além da tragédia dos que morreram e continuam a morrer, seja o seu impacto em duas características principais do seres humanos, a socialização e o simples acto de respirar sem constrangimentos.

O medo e a desconfiança do outro vão acentuar um clima de intolerância, explorado por grupo extremistas, situação agravado pelo efeito nefasto da epidemia na economia e na sociedade. 

Por outro lado, esta epidemia teve pelo menos o condão de nos alertar para as muitas deficiência das sociedades modernas e, no caso português e europeu, para ao efeitos nefastos de décadas de neoliberalismo selvagem que quase destruíram os sistemas de saúde.

Penso que, pelo menos por muito tempo, esta epidemia teve o condão de calar os defensores do modelo ultraliberal do sistema de saúde norte-americano.

Teve também o condão de revelar toda a incapacidade dos modelos populistas preconizados por Trump ou Bolsonaro para liderar, de forma responsável e humanista, com catástrofes com esta.

Demonstrou também o aspecto nefasto da deslocalização de grandes empresas produtivas para fora da Europa, à procura do lucro fácil da mão-de-obra barata e sujeita muitas vezes a modos de trabalho humanamente indignos, e à procura de escapar à fiscalização, mostrando uma Europa dependente e refém de outras economias para adquirir muitos das matérias-primas necessários para enfrentar crises sanitárias como esta.

Em Portugal ficou evidente, com a crise sanitária,  a precariedade de uma economia dependente quase exclusivamente do turismo e das exportações, a forma como foi enfraquecido o SNS ao longo de anos de polítcas antissociais, para “ir além da Troika”, assim como as condições indignas em que trabalham e habitam muitas pessoas, em que funcionam muitos lares, sem esquecer a generalização do trabalho precário e dos salários baixos.

Se não houver coragem pera reforçar os sectores sociais, os direitos sociais, de idealizar uma sociedade menos dependente do consumismo e mais humana e ambiental, o impacto social e económico da epidemia, depois desta controlada, será ainda mais devastador.

Haja esperança de que possamos todos sair desta crise mais solidários e humanos e de que os nossos líderes políticos, económicos e socias tenham aprendido alguma coisa.

Um Bom Ano de 2021.

 

 

 

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Uma “história” dos comentadores neoliberais: da “revolução permanente” neo-stalinista à “reforma estrutural” neoliberal.


Antes de mais nada, começava por recomendar a alguns políticos, economistas e comentadores da nossa praça que, antes de darem qualquer opinião sobre a crise, lessem com atenção a Declaração Universal dos Direitos do Homem.

Depois que lessem a Constituição Portuguesa e, já agora a História da Europa, principalmente a dos anos 30, mas também a do pós guerra, nomeadamente a da própria construção das democracias ocidentais e da então CEE.

Recomendo essas leituras principalmente àquele que se dizem “liberais” e são defensores assanhados do “austeritarismo” actualmente dominante na Europa e que atinge, principalmente, quem trabalha ou trabalhou e visa retirar direitos de cidadania e reduzir os “Estado Social” à mera dimensão caritativa.

Esse “austeritarismo”, que esses “liberais” tanto defendem, tem em vista salvar bancos que se meteram  em negócios especulativos  e obscuros , salvar os salários e pensões de luxo dos seus gestores e ex-gestores ou os seus grandes accionistas, que visam apenas o enriquecimento rápido e sem esforço, sendo os riscos assumidos pelos “contribuintes” , pelos pequenos e médios depositantes, e pelos trabalhadores em geral.

Para atingirem esses objectivos de salvar o “bandido”, tais “liberais” não olham a meios argumentativos.

Oriundo, muitos deles, das revoltas estudantis dos anos 60 e/ou, no caso português, do maoismo do tempo do PREC, o seu radicalismo neo-stalinista de formação  mudou apenas de bandeira.

Hoje falam em nome de um radicalismo “liberal”, que nada tem de liberalismo. 

Não passam de radicais, fanáticos e intolerantes neoliberais, usando o mesmo radicalismo, fanatismo e intolerância que aprenderam nos tempos da sua juventude maoista.

Durante os últimos anos em Portugal andaram a defender, com todo o fanatismo habitual, as “reformas estruturais”, um eufemismo desses neoliberais de formação neo-stalinista para a permanente “revolução na revolução” com que romperam os equilíbrios e direitos sociais conquistados em décadas de evolução democrática .

Por cá, essas “reformas estruturais” foram apenas usadas para criar instabilidade social e económica, virar portugueses contra portugueses, empregados contra desempregados, jovens contra velhos, trabalhadores com contrato contra trabalhadores precários, assalariados bem pagos contra assalariados mal pagos, trabalhadores do privado contra funcionários públicos, ao mesmo tempo que criavam condições para cortar salários, desvalorizando o factor trabalho em benefícios dos grandes gestores e empresários, dos banqueiros e accionistas.

Essas “reformas estruturais” conduziram ao enfraquecimento da classe média, ao empobrecimento generalizado da população, ao aumento dramático da emigração, com a “expulsão” do país dos mais jovens e qualificados, num país já de si envelhecido e iletrado, ao mesmo tempo que vendiam ao desbarato tudo o que ainda podiam vender, sem olhar à origem dos capitais dos compradores.

Fazendo tábua rasa da estabilidade social, dos compromissos assumidos com trabalhadores e pensionistas, todos os dias assistimos à violação da lei e do seu documento fundamental, a Constituição, e tudo isso alegremente justificado pela maior parte dos comentadores políticos e económicos.

Por isso não deixa de ser irónico ouvi-los agora tão preocupados com o "desfazer" dessas políticas pelo actual parlamento e pelo actual governo.

Os mesmos, que todos os dias apelavam às “reformas estruturais”, com o mesmo fanatismo com que noutros tempos apelavam à “revolução permanente”, sem olhar à instabilidade social e económica provocadas por essas medidas, vêem agora defender a “estabilidade” e a permanência, apelando a que não se “desfaça” o que foi feito neste últimos quatro anos.

Também nós somos defensores da estabilidade nos contractos socias, nas decisões políticas e no funcionamento da economia e das finanças.

Mas, quem nos últimos anos andou a instaurar a instabilidade permanente, foi a direita neoliberal com a aplicação de medidas de austeridade que tanto agradaram a esses comentadores.

Na altura não se preocuparam muito com a “estabilidade” ou com o respeito pelos compromissos sociais consignados na Constituição, antes pelo contrário. 

Para esses, a  estabilidade e a Constituição da República não passavam de empecilhos à ”grandeza”  de tais “reformas estruturais”.

O que o actual parlamento e o actual governo estão a fazer não é “desfazer”, mas, pelo contrário , “refazer” essa estabilidade violentamente quebrada pela revolução radical neoliberal que nos andaram a impor nos últimos anos, e que, enganosamente, intitularam como “reformas estruturais”.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Jonet, Ulrich e Coelho: a mesma luta ou… a banalização do mal..




Passo Coelho, com o seu apelo ao empobrecimento generalizado, Jonet em defesa da caridade como alternativa à segurança social ou o convite a uma vida de sem-abrigo feita pelo banqueiro Ulrich, tudo dito em contextos e tempos diferentes, enquadra-se na mesma “luta” política, que visa a aceitação passiva da dramática situação para onde todos estamos a ser atirados.


O objectivo é banalizar o mal do desemprego e da miséria que visa, exclusivamente, aumentar o rendimento do sector financeiro, reduzir direitos sociais, embaratecer o trabalho e, no fim, limpara consciências, substituindo a segurança social pela caridadezinha.


O que essa gente ainda não percebeu é que o seu entusiasmo pela miséria alheia se pode, um dia, virar contra os próprios. Como esse dia ainda está longe, vamos continuar a ouvir banalidades como aquelas , ditas por aquelas ou outras pessoas, que só nos oferecem como alternativa o desemprego, a pobreza e a caridade.


Para eles, sonhar com uma vida melhor é um objectivo “acima das nossas possibilidades”, pois só banalizando o mal dessa forma é que eles vão poder realizar os seus sonhos de poder político, de influência social ou de “riqueza”  financeira…

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Do "optimismo" da Moody's e da "euforia" dos comentadores de economia, ao realismo da UNICEF...


Aqui há uns dias, no início desta semana, a conhecida agência de pirataria financeira Moody´s divulgou uma nota sobre Portugal afirmando que, ao analisar os últimos dados estatísticos, podia afirmar que  “o programa” de austeridade “continua no bom caminho e há espaço para optimismo".

Foi o suficiente para os habituais comentadores e jornalistas de economia entrarem numa onda de euforia: agora é que é, os mercados confiam em Portugal, não somos a Grécia…e por aí "afora".

“Esqueceram-se” contudo de alguns “pequenos  pormenores”: é que os tão elogiados dados só foram possíveis com :

-  um aumento do desemprego para níveis nunca conhecidos em Portugal, rondando os 20% e mais de 1 milhão de desempregados;

-  cortes radicais nos salários, que já eram dos mais baixos da Europa, e desvalorização generalizado do factor tarbalho, com reduções drásticas nos direitos do trabalho;

-  o aumento da precaridade do emprego, situação em que vivem mais de 70% dos assalariados;

- o aumento da emigração para níveis idênticos, se não superiores, aos dos anos 60 e com a agravante de ser constituído maioritariamente por jovens qualificados ( a tal “geração mais qualificada de sempre”);

- o agravamento geral da situação social do país (alunos que abandonam os estudos porque não têm dinheiro para estudar; doentes que abandonam tratamentos por falta de dinheiro, agravamento da saúde mental com graves consequências pessoais e familiares, adiamento da maternidade, pessoas que entregam as casas aos bancos, aumento generalizado da miséria e da pobreza….);

-  a falência desenfreada  de pequenas e médias empresas, aquelas que são o sustento económico do país;

- o aumento generalizado dos impostos, que nos colocam ao nível dos países nórdicos sem que os cidadãos cumpridores tenham benefícios sociais idênticos aos desses países.

E a "procissão" ainda vai no adro. 

Nos próximos seis meses, quando os Funcionários Públicos deixarem de receber os subsídios de Férias e de Natal, levando a uma quebra radical do dinheiro em circulação, a maior parte das situações acima descritas vão-se agravar muito mais.

A euforia só pode ser justificada porque os patrões para os quais esses comentadores e jornalistas trabalham, os bancos, as grandes empresas estatais ou privadas, assim como os políticos profissionais, os gestores de topo que lideram Fundações e as Parcerias Público Privadas, são os intocáveis que beneficiam com todos esses sacrifício feitos pelos cidadãos.

Ou seja, os “criminosos”, isto é, o sector financeiro e os políticos que os servem, responsáveis pela actual situação de calamidade pública, aos quais podemos juntar os que recebem salários e reformas de luxo, os que beneficiam de isenções especiais e de escandalosos "prémios" e ajudas de custo, os que fogem ao pagamento devido de impostos, os corruptos de sempre, os branqueadores de dinheiro de origem duvidosa, continuam a ter razão para estar eufóricos, porque a crise não os atinge e até beneficiam dos fundos do FMI e da União Europeia, pagando nós, os cidadãos, os custos dos juros.

Tanta euforia quase fez esquecer um relatório, ontem divulgado pela UNICEF, onde se fica a saber que 27% das crianças em Portugal estão em situação de carência, apresentando Portugal um dos piores resultados entre os países analisados. Pior que nós só a Letónia, a Hungria, a Bulgária e a Roménia .

Se a amostra incluir apenas as famílias monoparentais, essa percentagem sobe para os  46,5%. Mas a situação ainda é pior para as crianças cujos pais estão desempregados, atingindo a percentagem de …73,6%.

A UNICEF alerta ainda para o facto de, tendo esses dados sido obtidos com indicadores de 2009, o pior para Portugal ainda “está para vir”.

  (...já sei, já sei, a srº Lagarde há-de vir dizer  que estão melhor que as crianças africanas e que a culpa, para ela que não paga impostos, é dos pais que não pagam impostos...ao que chegámos!!...fazer do nivelamento para os índices de vida africanos o objectivo do FMI para os países europeus!!!...mas isto é outra História!!?)

Ficamos assim a perceber o optimismo da Moody´s e os custos para os País, para os cidadãos e em especial para as futuras gerações, que é manter esses criminosos satisfeitos…

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Desemprego histórico entre os jovens não descerá antes de 2016.

É mais uma instituição mundial a alertar as actuais lideranças mundiais para a catástrofe que se avizinha.
O tempo para mudar o rumo começa a escassear, nomeadamente na Europa.
Ao contrário do que aconteceu noutras épocas históricas, os actuais níveis de desemprego não são conjunturais, mas sim estruturais e só se resolviam com uma mais justa repartição da riqueza, uma aposta forte na formação, uma valorização dos salários e uma drástica redução do tempo de trabalho.
Infelizmente a ignorância, a irresponsabilidade, a falta de criatividade e a conivência dos nossos politicos para com a ganância dos sectores especulativos e financeiros, não augura nada de bom para o futuro da Europa e da humanidade.

terça-feira, 22 de maio de 2012

...Estavam à espera de quê? : Portugueses pouco satisfeitos com a vida, revela OCDE.

A mesma OCDE que tem promovido estudos que servem de base para lixar a vida dos portugueses, vem agora revelar que os portugueses são dos que estão menos satisfeitos com a sua vida. Estavam à espera de quê?:

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Portugal em campanha enquanto número de pobres aumenta .



Segundo os últimos dados divulgados pelo INE, a pobreza em Portugal não pára de crescer. Mais de dois milhões de portugueses já vivem abaixo do limiar de pobreza.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

UMA GERAÇÃO EUROPEIA "À RASCA" :La carte d'une jeunesse européenne malmenée et «indignée» .



O desemprego crescente entre os jovens europeus, uma geração fortemente qualificada, é uma das provas da falência do actual modelo de desenvolvimento económico e social da União Europeia.

Nesta reportagem do Libération é possível perceber a gravidade da situação, não deixando de ser curiosa a referência à manifestação portuguesa da chamada “geração á rasca” como modelo adoptando pela crescente mobilização dos jovens contra o actual estado de coisas.

A gravidade da situação, neste momento mais evidente na parte ocidental e no sul da Europa, está a tornar-se explosiva e, não se vislumbrando nas lideranças europeias alguém com uma visão prospectiva , estamos perante uma situação que se agravará nos próximos anos.

Só com medidas corajosas, enfrentando os grande interesses financeiros, redistribuindo a riqueza europeia, reduzindo horários de trabalho, aperfeiçoando a formação dos jovens e melhorando os apoios sociais aos jovens, se poderá travar o caminho para o desastre.

Infelizmente a incompetência e a irresponsabilidade, a política de vistas curtas, a total entrega aos interesses especulativos e financeiros é, cada vez mais, a imagem de marca dos líderes europeus e daí não se pode esperar soluções para o problema.

À falta de capacidade das actuais lideranças europeias para enfrentar o assunto, a dúvida está em saber quem se irá aproveitar desse crescente descontentamento e desespero das gerações mais jovens.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

No aniversário de Sebastião Salgado, ou o outro lado da economia.

Sebastião Salgado comemora hoje o seu 67º aniversário.

Estudou economia e trabalhou em África para uma multinacional, deparando-se com uma grave situação social que o levou a abandonar aquela actividade e a dedicar-se à fotografia, como forma de documentar e alertar para a degradação da situação social em muitas partes do mundo.

A sua formação económica não degenerou naquilo que é hoje a atitude da maior parte dos economistas que esqueceram a componente humana dessa disciplina.

O mundo do trabalho e as condições de vida dos deserdados do mundo tornaram-se os temas preferidos da sua obra.

Trabalhou para algumas das mais destacadas e importantes agências fotográficas do mundo, como a Sygma (1974-1975), a Gamma (1975-1979) e para a Magnum desde 1979, agência à qual continua ligado.

A forma contrastante como usa o preto e branco fortalecem o dramatismo dos temas retratados, dramatismo igualmente evidente quando explora outras temáticas como a paisagem ou a vida animal.

Uma das suas séries mais dramáticas foi o trabalho que realizou nos anos 80 sobre os mineiros da Serra Pelada do Brasil.

As suas preocupações sociais têm-no levado a colaborar com várias ONG’s.

Uma das suas obras mais conhecidas é o livro “Workers”, que reúne mais de trezentas imagens sobre as condições laborais no mundo.

Aqui deixamos algumas das fotografias mais emblemáticas dessa carreira já longa, mas que ainda tem muito para dar á humanidade.



















segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

O AVISO (a propósito da atitude ilegal dos controladores aéreos espanhóis)

(fonte: El País)

O que aconteceu este fim-de-semana em Espanha, com a desobediência civil dos controladores aéreos espanhóis, é apenas um aviso do que pode começar a suceder com mais frequência (e violência), um pouco por toda a Europa, se o discurso anti-sindical e anti-social da classe política, dos banqueiros e dos economistas de serviço, ampliada pelas “picaretas falantes” da comunicação social, continuar a afrontar o desespero dos cidadãos e dos trabalhadores europeus.

A forma como se tem vindo a criar junto da opinião pública a ideia de que os sindicatos e as lutas tradicionais, como as greves e as manifestações, não são compatíveis com as “novas realidade económicas”, como algo que está “fora de moda” e “ultrapassado”, ao mesmo tempo que se investe contra o chamado Modelo Social Europeu e se impõem cortes salariais e se desvaloriza o factor trabalho, desculpabilizando ou, no mínimo, desvalorizando a responsabilidade do sector financeiro em relação à actual situação económico-social da Europa, cria um vazio de desespero que pode começar a generalizar formas de luta mais radicais do que aquelas a que os sindicatos até agora nos habituaram, fugindo mesmo ao controle institucional dos próprios sindicatos.

Outro tipo de argumentação, usado para dividir os cidadãos trabalhadores, é o dos “privilégios” de uns face ao desespero dos restantes. Este discurso tem feito o seu caminho avassalador e irresponsável, ao ponto de quase se considerar como “privilegiado” aquele que tem um emprego estável, mesmo que mal pago, face aos que sobrevivem na precariedade ou sofrem a violência do desemprego, uma boa maneira de desviar as atenções dos verdadeiros privilegiados (a maior parte dos políticos de carreira, dos gestores públicos e privados, dos grandes accionistas, dos banqueiros, e todos a plêiade de serviçais que os defendem na comunicação social e nas universidades).

É este o discurso que é dominante entre políticos e comentadores, na condenação do gesto dos controladores aéreos espanhóis e que está a virar a opinião pública contra estes.

Mas, se continuarem a desvalorizar o papel dos sindicatos na sociedades, a ignorar a opinião dos cidadãos trabalhadores e produtores, a ouvir apenas os piratas dos “mercados”, talvez lhes cai em cima, com consequências bem mais gravosas para todos, situações de desobediência civil, por agora minoritárias e em grupos profissionais mais influentes e com maior capacidade económica de fazer frente à situação actual, mas que no futuro se podem tornar totalmente descontroladas e mais violentas.

Era bom que os políticos europeus não vissem apenas a ilegalidade e o incómodo da situação provocada pela atitude dos controladores aéreos espanhóis como um acto isolado, mas vislumbrassem nesta situação também um aviso. Por enquanto ainda estão a tempo de mudar o rumo das coisas. Daqui a uns meses não se sabe!

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Imagens da Revolta dos Estudantes Ingleses














Dia de Greve Geral em Portugal, foi também dia de Manifestações estudantis em Londres. Estas são algumas das imagens divulgadas pelo Guardian.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Cáritas convida população a comprar uma vela por cada um dos desempregados do país

Cáritas convida população a comprar uma vela por cada um dos desempregados do país - Portugal - DN (clicar na frase para ler a notícia).

A Caritas propões que, na noite de Natal, se acenda uma vela por cada um dos 600 mil desempregados em Portugal.
Pode ser um pequeno gesto, mas é uma forma de nos manifestarmos pacificamente contra a falata de solidariedade que comanda as decisões de Bruxelas e do nosso governo.

domingo, 7 de novembro de 2010

NO PAÍS DAS MARAVILHAS DE JOSÉ SÓCRATES - 16 - A classe média está a chegar à sopa dos pobres

A classe média está a chegar à sopa dos pobres - Sociedade - PUBLICO.PT (clicar na frase para ler notícia).

...Assim se vê...a "coragem" de José Sócrates no combate aos "privilegiados" e às "corporações"...
...e "a Procissão ainda vai no adro"...

Manif junta 100 mil sob ameaça de mais austeridade

Manif junta 100 mil sob ameaça de mais austeridade - Economia - DN (clicar na frase para ler notícia)

...vai ser preciso muito mais para travar a "vampiragem" neo-liberal, a de cá e a da União Europeia...

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

ANTES A SORTE QUE TAL MORTE....

"Dar Vida aos Mortos"…

É isso que tenho andado a “fazer” nos últimos tempos.

Não, não, não me converti ao sobrenatural.

Passo a explicar-me:

Todos os anos costumo preparar uma comunicação sobre Torres Vedras para apresentar nos encontros Turres Veteras, este ano dedicado ao tema da Doença na História.

Pela primeira vez, em cerca de dez anos, julgava que não tinha nada para explorar sobre esse tema.

Pensei, contudo, num assunto que já tinha abordado ao de leve, o da Pneumónica de 1918 e o seu impacto em Torres Vedras.

É isso que tenho andado a fazer no pouco tempo livre que me sobra: consultar os registos de óbitos da Conservatória do Registo Civil de Torres Vedras, onde fui muito bem recebido pelos seus responsáveis e funcionários.

Desde logo me alertaram para o facto de os registos de óbitos de 1918 serem os maiores de toda a documentação aí existente.

Para 1918 existem 5 livros de registos.

Já consegui ver…o primeiro.

Só a título de curiosidade, este primeiro livro regista todos os óbitos dos seis primeiros meses do ano, o que dá bem a dimensão da tragédia que se abateu sobre o país e este concelho no final desse ano, pois os restantes quatro livros reportam-se ao segundo semestre.

Mas confesso que me custou um pouco a entrar na recolha de dados a partir desses livros.

É diferente lidar com a frieza das estatísticas de “encararmos” com “pessoas” concretas, devidamente identificadas.

Em cada nome adivinhamos um drama pessoal, muitas vezes uma história de vida que se adivinha pesada e complicada.

Ainda não cheguei ao período que me interessa, o da pneumónica, que atingiu a região com grande força em finais de Outubro e se prolongou pelo mês de Novembro de 1918, nem comecei a trabalhar estatisticamente esses dados, mas já dá para perceber algumas evidências sobre o modo como se morria nessa época, umas esperadas, outras nem tanto.

Confirma-se que todos morriam em casa, alguns na rua ou no campo, ou porque a morte vinha de repente ou porque “não tinham onde cair mortos”.

Apesar de se saber que existia uma alta taxa de mortalidade infantil, é impressionante quando a confirmamos nos registos. Ainda não fiz as contas, mas penso que não erro se disser que quase metade das mortes registadas são de menores de idade, muitos registados com dias, horas, ou mesmo minutos de vida, muitos como “nados-mortos” …muitos “nados mortos”! Entre estes alguns registados sem nome, porque não se conhecia pai ou mãe, o que prefigura o simples abandono dos recém-nascidos, adivinhando-se os muitos dramas pessoais por detrás desta situação.

É igualmente raro o registo de mortos de sexo masculino com mais de sessenta e cinco anos, o que revela alguma coisa sobre a baixa esperança de vida, em especial entre os homens.

A diferença entre a mortalidade masculina e a feminina a partir dessa idade é igualmente evidenciada pela forma diferente como dois Asilos, fundados na República, o Asilo Elias Garcia no antigo Convento do Barro, para homens, e o Asilo Latino Coelho, no Convento do Varatojo, para mulheres, contribuem para os registos de mortalidade, muito mais frequente no primeiro que no segundo caso.

Todas as mulheres registadas eram “domésticas”. Só algumas não o eram por serem mendigas ou indigentes, situação frequente quando se enviuvava.

Os homens, mesmo os raros casos dos que morriam com 80 ou 90 anos, morriam a trabalhar, ou então como asilados ou mendigos. Só registei até agora um reformado, um professor aposentado.

Este é o padrão quando as causas da mortalidade decorriam dentro da “normalidade” da época. Ainda não cheguei ao efeito da pneumónica, mas adivinho que rompeu com todo esse padrão.

Momentaneamente, ao abrir aquelas páginas, voltei a trazer “à vida” todos aqueles mortos de há quase cem anos…