Antes de mais nada, começava por recomendar a alguns políticos,
economistas e comentadores da nossa praça que, antes de darem qualquer opinião
sobre a crise, lessem com atenção a Declaração Universal dos Direitos do Homem.
Depois que lessem a Constituição Portuguesa e, já agora a História da
Europa, principalmente a dos anos 30, mas também a do pós guerra, nomeadamente
a da própria construção das democracias ocidentais e da então CEE.
Recomendo essas leituras principalmente àquele que se dizem “liberais”
e são defensores assanhados do “austeritarismo”
actualmente dominante na Europa e que atinge, principalmente, quem trabalha ou
trabalhou e visa retirar direitos de cidadania e reduzir os “Estado Social” à
mera dimensão caritativa.
Esse “austeritarismo”, que esses “liberais” tanto defendem, tem em vista
salvar bancos que se meteram em negócios
especulativos e obscuros , salvar os
salários e pensões de luxo dos seus gestores e ex-gestores ou os seus grandes
accionistas, que visam apenas o enriquecimento rápido e sem esforço, sendo os
riscos assumidos pelos “contribuintes” , pelos pequenos e médios depositantes,
e pelos trabalhadores em geral.
Para atingirem esses objectivos de salvar o “bandido”, tais “liberais”
não olham a meios argumentativos.
Oriundo, muitos deles, das revoltas estudantis dos anos 60 e/ou, no caso
português, do maoismo do tempo do PREC, o seu radicalismo neo-stalinista de formação mudou apenas de bandeira.
Hoje falam em nome
de um radicalismo “liberal”, que nada tem de liberalismo.
Não passam de
radicais, fanáticos e intolerantes neoliberais, usando o mesmo radicalismo,
fanatismo e intolerância que aprenderam nos tempos da sua juventude maoista.
Durante os últimos anos em Portugal andaram a defender, com todo o
fanatismo habitual, as “reformas estruturais”, um eufemismo desses neoliberais
de formação neo-stalinista para a permanente “revolução na revolução” com que
romperam os equilíbrios e direitos sociais conquistados em décadas de evolução
democrática .
Por cá, essas “reformas estruturais” foram apenas usadas para criar instabilidade
social e económica, virar portugueses contra portugueses, empregados contra
desempregados, jovens contra velhos, trabalhadores com contrato contra
trabalhadores precários, assalariados bem pagos contra assalariados mal pagos,
trabalhadores do privado contra funcionários públicos, ao mesmo tempo que
criavam condições para cortar salários, desvalorizando o factor trabalho em benefícios
dos grandes gestores e empresários, dos banqueiros e accionistas.
Essas “reformas estruturais” conduziram ao enfraquecimento da classe
média, ao empobrecimento generalizado da população, ao aumento dramático da
emigração, com a “expulsão” do país dos mais jovens e qualificados, num país já
de si envelhecido e iletrado, ao mesmo tempo que vendiam ao desbarato tudo o
que ainda podiam vender, sem olhar à origem dos capitais dos compradores.
Fazendo tábua rasa da estabilidade social, dos compromissos assumidos
com trabalhadores e pensionistas, todos os dias assistimos à violação da lei e
do seu documento fundamental, a Constituição, e tudo isso alegremente
justificado pela maior parte dos comentadores políticos e económicos.
Por isso não deixa de ser irónico ouvi-los agora tão preocupados com o "desfazer" dessas políticas pelo actual parlamento e pelo actual governo.
Os mesmos, que todos os dias apelavam às “reformas estruturais”, com o
mesmo fanatismo com que noutros tempos apelavam à “revolução permanente”, sem
olhar à instabilidade social e económica provocadas por essas medidas, vêem
agora defender a “estabilidade” e a permanência, apelando a que não se “desfaça”
o que foi feito neste últimos quatro anos.
Também nós somos defensores da estabilidade nos contractos socias, nas
decisões políticas e no funcionamento da economia e das finanças.
Mas, quem nos últimos anos andou a instaurar a instabilidade permanente, foi a direita neoliberal com a aplicação de medidas de austeridade que tanto
agradaram a esses comentadores.
Na altura não se preocuparam muito com a “estabilidade” ou com o
respeito pelos compromissos sociais consignados na Constituição, antes pelo
contrário.
Para esses, a estabilidade e
a Constituição da República não passavam de empecilhos à ”grandeza” de tais “reformas estruturais”.
O que o actual parlamento e o actual governo estão a fazer não é “desfazer”,
mas, pelo contrário , “refazer” essa estabilidade violentamente quebrada pela revolução
radical neoliberal que nos andaram a impor nos últimos anos, e que,
enganosamente, intitularam como “reformas estruturais”.
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