Passam este mês trinta anos sobre a entrada oficial de Portugal na
então “CEE”.
O “saloioismo” nacional sempre fez alarde da nossa adesão à “Europa”,
esquecendo-se que Portugal sempre foi Europeu, não só geográfica, como historicamente,
e neste último aspecto, bem mais Europeu que muitos outros.
Só a subserviência reverente da maior parte da elite portuguesa ( na política, na comunicação
social, nas universidade e na economia) ,em relação às instituições e aos
burocratas europeus, actualizada no retracto de Fernando Pessoa sobre o provincianismo da elite nacional do seu tempo
(ler AQUI), embasbacada face ao “progresso” da “Europa”, explica que essa
adesão nos tenha conduzido a esta última década perdida.
Por infeliz coincidência, os primeiros passos de adesão de Portugal à
então CEE coincidiram com os governos cavaquistas (1985-1995) e grande parte
dos fundos estruturais que beneficiaram economicamente o país foram canalizados
para levar a efeitos políticas de “desenvolvimento” que, como se provou já
neste século, contribuíram para beneficiar a especulação financeira e
imobiliária, a substituição de uma rede de transportes públicos por uma discutível
rede de auto-estradas( que implicou um forte aumento das importações, com
reflexos no aumento da dívida pública, e com graves custos ambientais), e a destruição do já de si rudimentar aparelho
produtivo nacional (pesca, industria e agricultura), um desastre anunciado mas
maquilhado pela euforia consumista das duas primeiras décadas que os fundos
estruturais, mal canalizados para o consumismo desenfreado, fomentado pelos
bancos, permitiram disfarçar.
Enquanto houve dinheiro e fundos estruturais foi possível, apesar de
tudo, melhorar muitos do indicadores económicos e sociais, graças, principalmente,
à forma como os governos de António Guterres conseguiram emendar a mão dos
desvarios cavaquistas, mas foi “sol de pouca dura”.
Poucos suspeitariam que, trinta anos depois da adesão à então CEE, hoje
União Europeia, o país estivesse a viver um retrocesso social e económico com
as actuais dimensões e que a União Europeia estivesse a lutar pela sua sobrevivência
como projecto solidário e de
desenvolvimento económico-social, muito por culpa da abdicação e destruição desse
projecto, entregue à especulação financeira e a uma geração de políticos de
vistas curtas.
Apesar de tudo, Portugal está hoje muito melhor do que estava em 1986,
embora, a continuar-se por muito mais tempo com as actuais medidas “austeritárias”,
impostas pelas instituições não-democráticas
europeias (Comissão, Conselho, Eurozona e BCE) e diligentemente aplicadas nos
últimos quatro anos pela dupla Coelho-Portas, tudo o que, ainda assim, se conquistou nestas
últimas décadas, em direitos sociais, em melhoria das condições de vida, em
consolidação da democracia, corre o risco de sobraçar e de conduzir o país (e o
resto da Europa) para um desastre social, económico e político de dimensões inimagináveis.
Ainda vamos a tempo de mudar o rumo às coisas e reconduzir Portugal e a Europa
ao sonho que a construiu, o da cidadania, da solidariedade, da democracia, da
identidade cultural, do conhecimento e do combate às desigualdades.
Estes são também alguns dos desejos para este ano que agora se inicia.
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