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segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Há 30 anos que “somos” “europeus”


Passam este mês trinta anos sobre a entrada oficial de Portugal na então “CEE”.

O “saloioismo” nacional sempre fez alarde da nossa adesão à “Europa”, esquecendo-se que Portugal sempre foi Europeu, não só geográfica, como historicamente, e neste último aspecto, bem mais Europeu que muitos outros.

Só a subserviência reverente da maior parte da elite  portuguesa ( na política, na comunicação social, nas universidade e na economia) ,em relação às instituições e aos burocratas europeus, actualizada no retracto de Fernando Pessoa sobre o  provincianismo da elite nacional do seu tempo (ler AQUI), embasbacada face ao “progresso” da “Europa”, explica que essa adesão nos tenha conduzido a esta última década perdida.

Por infeliz coincidência, os primeiros passos de adesão de Portugal à então CEE coincidiram com os governos cavaquistas (1985-1995) e grande parte dos fundos estruturais que beneficiaram economicamente o país foram canalizados para levar a efeitos políticas de “desenvolvimento” que, como se provou já neste século, contribuíram para beneficiar a especulação financeira e imobiliária, a substituição de uma rede de transportes públicos por uma discutível rede de auto-estradas( que implicou um forte aumento das importações, com reflexos no aumento da dívida pública, e com graves custos ambientais),  e a destruição do já de si rudimentar aparelho produtivo nacional (pesca, industria e agricultura), um desastre anunciado mas maquilhado pela euforia consumista das duas primeiras décadas que os fundos estruturais, mal canalizados para o consumismo desenfreado, fomentado pelos bancos, permitiram disfarçar.

Enquanto houve dinheiro e fundos estruturais foi possível, apesar de tudo, melhorar muitos do indicadores económicos e sociais, graças, principalmente, à forma como os governos de António Guterres conseguiram emendar a mão dos desvarios cavaquistas, mas foi “sol de pouca dura”.

Poucos suspeitariam que, trinta anos depois da adesão à então CEE, hoje União Europeia, o país estivesse a viver um retrocesso social e económico com as actuais dimensões e que a União Europeia estivesse a lutar pela sua sobrevivência como projecto  solidário e de desenvolvimento económico-social, muito por culpa da abdicação e destruição desse projecto, entregue à especulação financeira e a uma geração de políticos de vistas curtas.

Apesar de tudo, Portugal está hoje muito melhor do que estava em 1986, embora, a continuar-se por muito mais tempo com as actuais medidas “austeritárias”, impostas pelas instituições  não-democráticas europeias (Comissão, Conselho, Eurozona e BCE) e diligentemente aplicadas nos últimos quatro anos pela dupla Coelho-Portas,  tudo o que, ainda assim, se conquistou nestas últimas décadas, em direitos sociais, em melhoria das condições de vida, em consolidação da democracia, corre o risco de sobraçar e de conduzir o país (e o resto da Europa) para um desastre social, económico e político de dimensões inimagináveis.

Ainda vamos a tempo de mudar o rumo às coisas e reconduzir Portugal e a Europa ao sonho que a construiu, o da cidadania, da solidariedade, da democracia, da identidade cultural, do conhecimento e do combate às desigualdades.

Estes são também alguns dos desejos para  este ano que agora se inicia.

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