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sábado, 31 de outubro de 2020

COVID-19 – Outra Maneira de Olhar para os Números (20ª artigo)- evolução mensal [Outubro] (entre 30 de Setembro e 31 de Outubro de 2020).


Voltamos hoje à divulgação de dados sobre a evolução mensal do Covid-19 no mundo, ao longo do mês de Outubro, comparando os dados divulgados pela OMS e registados em 31 de Outubro último, com os de 30 de Setembro passado.

Tal com anteriormente, continuamos a ter por base o registo de dados de um grupo de 35 de países.

Hoje incluímos, pela primeira vez, os dados relativos ao total de países da União Europeia (Europa dos 27 + Grã-Bretanha), referentes a 31 de Outubro e divulgados pelo Centro Europeu para Controle e Prevenção de Doenças (ECDPS).

 (Podem clicar AQUI  para poderem consultar os 19 post’s anteriores).

 Começamos, como é habitual, pela lista do número de mortos registados até à data de hoje, embora os dados possam ter um atraso de um ou dois dias:

 TOTAL DE MORTOS POR COVID-19 em todo o MUNDO – 1 182 747.

 Estados Unidos – 227 178;

União Europeia [27+RU]* - 219 228;

Brasil – 158 969;

Índia – 121 641;

Reino Unido – 45 955;

Itália – 38 122;

França – 35 719;

Espanha – 35 639;

Irão – 34 478;

Rússia – 27 656;

África do Sul – 19 164;

Bélgica – 11 308;

Alemanha – 10 349;

Turquia – 10 099 (subiu um lugar);

Canadá – 10 074;

Holanda – 7 258;

 MÉDIA MUNDIAL POR PAÍS – 6 065 (5 146 no mês anterior); 

 Suécia – 5 934 (em relação ao mês anterior, ficou abaixo da média mundial);

China – 4 746;

República Checa – 2 862 (subiu 8 lugares);

Israel – 2 506 (subiu 4 lugares);

 PORTUGAL – 2 428(1 957 há um mês);

 Suíça – 1 984 (subiu um lugar);

Irlanda – 1 902;

Japão – 1 755;

Áustria –  1064 (subiu um lugar);

Austrália – 907;

Dinamarca – 716;

Grécia – 615 (subiu um lugar);

Palestina – 553 (subiu um lugar);

Coreia do Sul – 464;

Finlândia – 354;

Noruega – 281;

Angola – 275;

Cuba – 128;

Nova Zelândia – 25;

Islândia – 12.

 Em relação ao mês anterior, registaram-se as alterações, para pior, no trágico “ranking” da mortalidade, assinaladas a vermelho. Portugal desceu a sua posição neste grupo de 35 países, sendo ultrapassado pela república Checa e por Israel, países apontados por muito como “exemplares” (!!??).

 Não registaram óbitos ao longo do mês de Outubro, a China e a Nova Zelândia.

 O número acumulado de mortos não nos permite, só por si, observar o ritmo de crescimento da mortalidade.

Em baixo registamos o crescimento percentual de mortes registadas ao longo deste mês, podendo observar os países onde esse crescimento é maior, mais rápido e mais preocupantes e aqueles que registam um maior abrandamento (entre parênteses, velocidade de crescimento no anterior mês de Setembro).

 A vermelho assinalamos os países que passaram para um patamar pior do que aquele em que estavam no mês anterior, e a verde os que desaceleraram, descendo de patamar. A preto os que se mantiveram no mesmo patamar do mês anterior.

 Situação “descontrolada” (crescimento mensal da mortalidade acima dos 50%):

República Checa – 363, 10 % (47,49);

Israel – 73,30 (63,38);

Suíça –68,27 (3,10) ( subiu 4 patamares);

Grécia- 60,57 (43,87);

Angola – 56,25 (66, 03);

Palestina –  51,09 (123,10);

Velocidade de crescimento “preocupante”

(entre 20% e 50%):

Áustria – 34,68 (7,77) (subiu 2 patamares);

Rússia – 34,61 (20,67);

Irão – 32,67 (21,68);

Turquia- 25,26 (29,09);

Índia – 24,76 (53, 34);

 PORTUGAL – 24,06 (7,82) (subiu 2 patamares);

Evolução “lenta”, mas ainda perigosa(entre 10 e 20%):

Islândia – 20 (0) (subiu 2 patamares, embora partindo de uma base muito baixa, passando de 10 par 12 óbitos);

 “Velocidade” média MUNDIAL – 17,86 (19,69);

 África do Sul – 15,64 (20,68);

Espanha- 14,11 (7,65);

Holanda – 13,92 (2,57) (subiu 2 patamares);

Bélgica – 13,27 (1,02) (subiu 2 patamares);

França – 13,00 (3,76) (subiu 2 patamares);

Coreia do Sul –12,34 (27,86);

Japão – 12,21 (23,73);

Brasil – 11,90 (18,87);

Estados Unidos – 11,43 (12,83);

Dinamarca – 10,32 (4,00) (subiu 2 patamares);

Nova Zelândia – 0 (12);

Ritmo aceitável, mas ainda não controlado (crescimento entre 5 e 10%):

Alemanha – 9,97 (1,95);

Reino Unido – 9,41 (1,24);

Canadá- 8,57 (1,86);

Itália – 6,33 (1,06);

Irlanda –5,54 (1,37);

 A caminho da “extinção” (abaixo de 5%):

Cuba -4,91 (29,78) (desceu 3 patamares);

Austrália – 2,83 (47) (desceu 3 patamares);

Noruega – 2,55 (3,78);

Finlândia – 2,60 (2,90);

Suécia – 0,91 (1,01);

China – 0 (0,38);

A mortalidade a nível mundial continua preocupante, mas conheceu uma ligeira  descida média do ritmo de crescimento.

Contudo, foram muitos os países que viram a sua situação a piorar, registando acelerações significativas, ao todo 16 países (a vermelho) pioraram imenso, entre eles Portugal, para além de outros 6 países que continuam numa situação grave.

Por sua vez o crescimento de infectados, aumentou ligeiramente na média mundial, continuando a crescer mais rapidamente do que a mortalidade.

Assim, registamos aqui o ritmo de crescimento percentual ao longo deste último mês do número de infectados, em relação ao total registado no mês anterior (entre parêntesis, a velocidade de propagação registada no mês anterior).

A vermelho registamos os países com um crescimento superior a 100% e/ou que subiram de patamar e a verde os que desceram de patamar:

Crescimento Descontrolado(crescimento mensal de infectados acima dos 50%):

República Checa- 370,06 % (177,08);

Bélgica – 240,24 (37,44);

Holanda- 188,63 (65,67));

Suíça- 175,20 (27,37);

França – 141,15 (106,19);

Reino Unido – 119,98 (32,37);

Angola – 114,07 (94,13).

Áustria – 119,20 (63,97);

Grécia- 100,54 (80,68);

Itália – 98,03 (17,31) (subiu 2 patamares);

Islândia – 77,20 (27,29);

PORTUGAL – 79,14 (29,70);

Alemanha – 73,85 (19,26) (subiu 2 patamares);

Irlanda – 70,43 (23,79);

Espanha- 61,91 (63,10);

Dinamarca -62,65 (62,10);

Finlândia- 59,91 (21,03);

Crescimento Preocupante(entre 20 e 50% num mês):

Canadá – 47,16 (21,44);

Noruega – 39,18 (29,92);

Rússia – 37,00 (18,51);

Israel – 36,65 (106,41);

Ritmo de crescimento Mundial – 34,98 (34,72);

Irão- 33,35 (22,00);

Suécia- 33,26 (8,29) (subiu 2 patamares);

Índia – 30,67 (75,76);

Palestina – 29,19 (75,67);

Estados Unidos – 25,09 (20,86);

Cuba- 22,96 (40,91);

Crescimento ainda não controlado(entre os 10 e os 20%)

Turquia – 17,40 (18,95);

Brasil – 15,78 (24,72);

Japão- 14,06 (23,40);

Coreia do Sul – 11,33 (20,87);

 Em desaceleração (entre os 5 e os 10%):

Nova Zelândia – 8,17 (7,40);

África do Sul – 7,45 (8,31);

 Praticamente extinto(abaixo dos 5%)

Austrália – 1,91 (5,93);

China –0,93 (0,76);

É de registar a quantidade de países a vermelho e de países com um ritmo de crescimento mensal superior a 100%.

Portugal foi um do países a piorar, entrando no pior patamar.

Outro modo de analisar a situação é  observar a percentagem de falecidos em relação ao total de infectados, que pode ser revelador da melhor ou da pior resposta do Sistema de Saúde de cada país, da melhor ou pior actuação das autoridades, sem esquecer ainda outros factores que podem interferir, como a capacidades imunológicas da população, hábitos, envelhecimento, clima ou genética.

 

Situação “negativa e trágica” (mortalidade acima dos 10% dos infectados):

(nenhum dos países observados está, por agora, nesta situação).

Situação “preocupante”(entre os 5 e os 10%):

Itália – 6,18% de mortos em relação ao número de infectados registados;

Irão – 5,69;

China – 5,16;

Situação “aceitável” (entre 5 e 2,5%) :

Suécia – 4,89;

Reino Unido – 4,76;

Canadá – 4,40;

Austrália – 3,28;

Irlanda – 3,15; BCG

Espanha – 3,07;

Média da União Europeia (27+1 RU) – 3,06;

Brasil – 2,89;

Bélgica – 2,88;

França – 2,85;

Turquia – 2,72;

Angola – 2,67;

África do Sul – 2,65;

 Média MUNDIAL – 2,62 (3,00 no mês anterior);

 Estados Unidos – 2,56;

Situação “boa” (abaixo de 2,5%):

Finlândia – 2,27;

Holanda – 2,19;

Alemanha – 2,07;

Cuba – 1,88;

 PORTUGAL– 1,83 (2,64 no mês anterior); BCG

 Coreia do Sul – 1,75;

Japão – 1,74;

Grécia – 1,73; BCG

Rússia – 1,72;

Noruega – 1,47; BCG

Dinamarca – 1,62;

Nova Zelândia – 1,56;

Índia – 1,49;

Suíça -1,37;

Áustria – 1,10;

República Checa – 0,92 BCG

Palestina – 0,85;

Israel – 0,80;

Islândia – 0,25; BCG

Ao contrário dos quadros anteriores, este é um dos que tem evoluído positivamente, mostrando que o aumento e aceleração de casos nesta segunda vaga não está a provocar, pelo menos por agora, um aumento de mortalidade entre os afectados.

Este é um dos quadros que melhor consegue aferir sobre a eficácia na resposta à crise.

Neste caso é positiva a posição de Portugal, melhor que  a média Europeia e Mundial.

Apesar de uma população envelhecida, de ilhas de pobreza, de um sistema de habitação em situação crítica, da tentativa de destruição do Sistema Nacional de Saúde dos tempos da Troika, comparativamente com a situação de países mais ricos e em situação mais favorável, é caso para dizer que, até agora, apesar de tudo, Portugal é um dos países mais resilientes ao efeito da pandemia.

Pensamos que será o resultado deste ranking, quando estiver tudo devidamente contabilizado e ultrapassada a pandemia, que nos vai mostrar a verdadeira dimensão da eficácia da resposta de cada país a esta crise, e Portugal, por enquanto, parece ser um dos que se está a sair melhor na resposta à crise.

Sem mais comentários, fiquem com os dados e tirem as vossas conclusões.

Voltaremos agora só daqui a um mês, com nova divulgação e análise dos dados.

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Pôr a “Ordem” [dos médicos] na ordem!



Reminiscências medievais, combatidas pelo liberalismo novecentista, recuperadas pelo corporativismo fascista e pelo Estado Novo, as Ordens profissionais são hoje poderosas e elitistas organizações que vivem à margem de um desejado relacionamento liberal e democrático de uma sociedade aberta .

Se algumas se adaptaram aos tempos modernos e à democracia liberal, prestando importantes contributos na investigação científica e na formação profissional, como tem acontecido, por exemplo, com a Ordem dos Psicólogos, outras mantiveram o seu estatuto de oposição não formal ao Estrado de Direito Democrático, funcionando como meros poderes  de influência subterrânea, à margem do poder democrático, substituindo-se à acção sindical,  e apêndices ao serviço  não formal de ideologias e facções políticas reacionárias.

É neste último caso que se enquadram, entre outras menos conhecidas ou actualmente mais silenciosas, a Ordem dos Enfermeiros e a Ordem dos Médicos.

Esta última, de forma oportunista, à “boleia” da grave crise sanitária que atravessamos, tem-se colocado diariamente ao serviço de uma comunicação social ávida de escândalos, também ela maioritariamente controlada por editores e directores “formados” na propaganda “austoritária” e na defesa do “ir além da Troika”, ressabiados com a “geringonça”.

É caso para perguntar onde estavam essas “Ordens” quando um primeiro-ministro convidou jovens médicos e enfermeiros a emigrar, ou quando um governo, para “ir além da Troika”, tratou de descapitalizar e enfraquecer todas as estruturas do Serviço Nacional de Saúde.

Também não deixa de ser contraditório que a Ordem dos Médicos, pela voz do seu bastonário, passe a vida a queixar-se da falta de recursos humanos, enquanto, por outro lado, impede a abertura de mais vagas para a formação de médicos, situação, aliás, comum à Ordem dos Enfermeiros.

Finalmente, assistimos à atitude corajosa de um grupo de médicos, que também pertencendo à Ordem dos Médicos, porque a isso, de forma não democrática, são obrigados para exercerem a sua profissão, recordam que o bastonário não fala por todos os médicos, dividindo a classe, em vez de ser o denominador comum, e usando a sua influência para fazer politica partidária (juntamente, acrescentamos nós, com um dos sindicatos médicos, o SIM, e a Associação dos médicos de saúde pública, instituições controladas pelas ala mais retrógrada do PSD, a do “cavaquismo-passos-coelhista”).

Se a célebre e propagada carta do bastonário e ex-bastonário à ministra da Saúde mereceram grande destaque na comunicação social e acolhimento no Palácio de Belém, não foi, infelizmente, o caso da Carta destes médicos, publicada hà dois dias nas páginas do Público, jornal que nem sequer se referiu a esse importante documento na sua primeira página, como o fez com a referida carta da “Ordem”.

Para colmatar a falta de pluralismo e sectarismo ideológico e dos “dois pesos e duas medidas”, cada vez mais evidente na comunicação social, mesmo na dita de “referência”, tentamos contribuir, junto da nossa modesta  audiência, para a divulgação desse importante documento, para que não cai no esquecimento, publicando-o integralmente:

“Em resposta à carta aberta à ministra da Saúde, subscrita por bastonários da Ordem dos Médicos

 In Público de  27 de Outubro de 2020

A carta dirigida à ministra da Saúde pelo bastonário da Ordem dos Médicos (OM) e cinco dos seus antecessores enquadra-se num movimento mais amplo de intervenções de “influenciadores” nos meios da comunicação social e em meios universitários, todas com a mesma orientação e a mesma substância.

“Começam por enunciar dificuldades reais do SNS, sobretudo derivadas da pandemia, ampliam-nas em tom alarmista e daí passam ao ataque político à ministra. Finalmente, e para culminar, chegam ao objetivo mercantil: perante tal “caos”, “desorganização” e “risco” há que recorrer aos serviços privados.

“Poderá haver médicos concordantes com essa carta, por coincidirem com os seus objetivos. Nós não. Não nos sentimos representados.

“A Ordem dos Médicos é uma entidade de direito público, de inscrição obrigatória. Portanto, as posições expressas pelos seus órgãos eleitos têm que corresponder ao máximo denominador comum.

“Todos os cidadãos têm o direito de, em grupo ou isoladamente, expressarem as suas opiniões. O que não é lícito é que a natural credibilidade da Ordem dos Médicos seja mobilizada para as posições pessoais de ex-bastonários e do seu bastonário atual.

“Descrevendo um ambiente de perigo iminente, vaticinando a falência do SNS e amplificando as suas dificuldades, desassossegando e perturbando a saúde mental das famílias e, sobretudo, das pessoas mais idosas e mais isoladas.

““(...) não há tragédia maior do que esta”, diz a carta dos (ex-)bastonários. É bom que se tenha respeito pelas verdadeiras tragédias. É bom que se contribua para a perceção de risco de forma racional e transmitindo a serenidade necessária a quem de facto tem de fazer escolhas todos os dias e tomar as precauções para prevenir o contágio. O alarme transmite pânico e bloqueia a capacidade de decidir racionalmente.

Sabemos que o financiamento para o Serviço Nacional de Saúde tem sido curto ao longo de anos e que os seus custos superam sempre os valores orçamentados. Sabemos também que o Orçamento do Estado para 2021 é insuficiente no que respeita à saúde e a única atenuante é que haverá outra perspetiva quando se discriminar a utilização do Fundo de Recuperação Europeu nesta área. Sabemos também que os concursos para médicos ficam com vagas por preencher porque os salários são baixos, porque a carreira não é atrativa, porque há um excesso de horas extraordinárias e porque é maior a recompensa remuneratória nos estabelecimentos privados.

“A resposta exemplar do SNS na primeira vaga não foi só devida à abnegação de médicos e outros profissionais. Deveu-se também à estrutura e ao espírito do SNS. Diz a carta: “É vital que haja uma mudança imediata de rumo na estratégia do SNS. O SNS está novamente exposto a uma disrupção grave no seu funcionamento, na altura em que ainda nem sequer foi capaz de recuperar o fortíssimo abalo sofrido ao longo dos últimos meses”. Era este também o tom de mais uma intervenção do atual bastonário da OM no jornal da RTP-2, às 21h30 de dia 21 de outubro.

“Curiosamente, cerca de 1 hora depois, na Grande Entrevista da RTP3, o diretor dos Cuidados Intensivos do Hospital de São João, Nelson Pereira, descrevia que logo a seguir ao confinamento tinham estado a preparar tudo para uma eventual segunda vaga e que, tendo recuperado de tal modo as listas de espera não-covid, até tinham ultrapassado a produção do período homólogo do ano anterior.

“Sabe-se que o País é heterogéneo. Não podemos, por exemplo, generalizar as dificuldades, por razões locais, do Vale do Sousa ou de Lisboa e Vale do Tejo para a região Centro onde, durante o ano 2020, têm sido feitos mais rastreios e vacinações que no ano anterior.

“Mas a carta e os “influenciadores” são claros no que propugnam: “Os setores sociais e privados podem ser mais envolvidos no esforço Covid e não-Covid para que a capacidade instalada seja efetivamente usada em vez de desperdiçada” e “(...) o momento do SNS liderar uma resposta global, envolvendo (...) os setores privado e social”.  Muito simplesmente, tratar-se-ia de levar o SNS a comprar (ainda mais) serviços aos estabelecimentos privados, aqueles que, no início da crise, praticamente fecharam, logo disseram que não recebiam doentes com covid-19 e enviaram grávidas positivas para os serviços públicos.

“Mas será que o SNS não está mesmo a utilizar privados em suplementação dos seus serviços internos?

“Bem pelo contrário. De acordo com o Jornal de Negócios de 26 de agosto, 41% do orçamento do SNS é para pagar a privados. Em 2018, últimos números a que temos acesso, 6657,7 milhões de euros foram para comprar serviços a privados (exames auxiliares de diagnóstico, hemodiálise, fisioterapia), num total de custos de 10.909,3 milhões de euros (Relatório e Contas, 2018 - Processo de Consolidação de Contas). E, no momento em que o SNS está a fazer cerca de 20.000 testes diários de RT-PCR ao SARS-COV-2, 55% dos quais nos privados, em muito aumentou (600 mil euros/dia) o fluxo financeiro que sai do Estado para o setor privado.

“A concretização da proposta de operacionalização do chamado “sistema” de saúde, com “normalização” da compra de serviços de saúde a prestadores privados, subverteria o conceito constitucional do Serviço Nacional de Saúde. Com esta proposta, só aumentariam as insuficiências que se apontam ao SNS, bem como o que os portugueses teriam de pagar pela sua saúde.

“O sentido da melhoria do SNS é exatamente o contrário: reforço da capacidade interna, para melhor servir a população em todas as necessidades de saúde e não apenas nas que dão lucro.

Nós, médicos que aqui assinamos, não nos sentimos representados por esta posição dos (ex-)bastonários”.

Aguinaldo Cabral, Álvaro Brás de Almeida, Ana Abel, Ana Jorge, Ana Raposo Marques, António Jorge Andrade, António Faria Vaz, António Rodrigues, Augusto Goulão, Bruno Maia, Carlos França, Carlos Silva Santos, Carlos Vasconcelos, Casimiro Menezes, Filipe Rosas, Graciela Simões, Henrique Delgado Martins, Isabel do Carmo, Jaime Mendes, João Álvaro Correia da Cunha, João Goulão. João Manuel Valente, João Marques Proença, João Oliveira, João Rodrigues, Joaquim Figueiredo Lima, José Labareda, José Manuel Boavida, José Manuel Braz Nogueira, José Ponte, Júlia Duarte, Luiz Gamito, Manuela Silva, Maria Deolinda Barata, Maria Isabel Loureiro, Mário Pádua, Patrícia Alves, Pedro Miguéis, Pedro Paulo Mendes, Rogério Palma Rodrigues, Sara Proença.