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quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Salário mínimo, uma vergonha num debate vergonhoso

 


Mais uma vez, volta à baila o debate sobre o miserável aumento do já de si miserável salário mínimo.

Anda muita gente indignada com o miserável aumento, não por esse aumento ser miserável, mas porque acham muito e penalizador para as “empresas”.

Dando de barato a dificuldade em que vivem as micro ou pequenas empresas, não me parece que qualquer empresa possa ser viável, na Europa do euro e do Século XXI, a pagar salários tão baixos ou não conseguindo aumentar em cerca de 20 euros mensais os seus trabalhadores.

Nalguns casos é só adiar por uns tempos aquela viagem de sonho de volta ao mundo, a troca da “casinha” de 6 assoalhadas e piscina no centro da cidade por uma casa mais espaçosa, ou a troca do último topo de gama comprado há dois anos.

Vergonhosa é também a preocupação de alguns comentadores e “economistas”, tão “preocupados” com tão “dramático” aumento,( gente que não sabe, e muitas vezes nunca soube, o que é viver com menos de mil euros mensais, quanto mais com salário mínimo!!!), alguns ganhando vários salários mínimos só para manifestarem a sua “indignação” no noticiário ou na coluna do órgão de comunicação de “referência”, durante uns poucos minutos a debitar opinião.

Por mim, qualquer salário abaixo do 800 euros é indigno, e passo a explicar:

Por estas bandas paga-se, pelo trabalho de empregada doméstica, um trabalho digno e honroso, mas que é pouco qualificado, 6 euros por hora, existindo quem pague a cinco ou a sete.

Ou seja, o equivalente a um salário mensal de 876 euros, isto fazendo as contas a um horário de 35 horas mensais (140 horas em 4 semanas, mais 1 dia útil, no mínimo).

Sabemos, contudo, que a maioria dos salários mínimos é pago a  trabalhadores com um horário de 40 horas semanais, horário muitas vezes ultrapassado (dando 160 horas, mais, no mínimo, um dia de 8 horas).

Neste caso, o mesmo salário, se for pago a 5 euros à hora, dá 840 euros, e se for pago, como se paga por aqui o serviço doméstico, dá …1008 euros mensais.

E estamos a falar de salários não qualificados, já que nas médias e grandes empresas esse trabalho é qualificado.

Há quem argumente que os salários são baixos porque a produtividade é baixa.

Mas, já não sendo essa a realidade em muitas empresas, a baixa produtividade não é porque os trabalhadores trabalham menos, como se sabe pelas estatísticas (Portugal, ao contrário dos mitos lançados por aí, é dos países europeus onde a carga do horário de trabalho é mais pesada), mas por má gestão e falta de qualificação de muitos empresários ( também pelas estatísticas podemos saber que a qualificação média dos assalariados é superior à qualificação média dos empresários).

Recordo-me do caso de uma grande empresa local em dificuldades que, nos últimos anos de vida, era administrada por administradores nomeados pelos bancos, os credores, onde de cada vez que os credores nomeavam nova administração, com o objectivo de prepara despedimentos e o encerramento da empresa, as primeiras medidas que tomavam era aumentar os salários da administração e renovar a frota automóvel dos mesmos administradores (um deles é um conhecido economista, ex-ministro das finanças, que está sempre do lado dos indignados de cada vez que se fala do aumento de salário mínimo).

Ou seja, por em causa um aumento, já de si miserável, do miserável salário mínimo nacional é no mínimo, uma vergonha, reveladora da mentalidade miserável de muita gente.

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