Mais uma vez, volta à baila o debate sobre o miserável aumento do já de si miserável salário mínimo.
Anda muita gente indignada com o miserável aumento, não por esse
aumento ser miserável, mas porque acham muito e penalizador para as “empresas”.
Dando de barato a dificuldade em que vivem as micro ou pequenas
empresas, não me parece que qualquer empresa possa ser viável, na Europa do
euro e do Século XXI, a pagar salários tão baixos ou não conseguindo aumentar
em cerca de 20 euros mensais os seus trabalhadores.
Nalguns casos é só adiar por uns tempos aquela viagem de sonho de volta
ao mundo, a troca da “casinha” de 6 assoalhadas e piscina no centro da cidade
por uma casa mais espaçosa, ou a troca do último topo de gama comprado há dois
anos.
Vergonhosa é também a preocupação de alguns comentadores e “economistas”,
tão “preocupados” com tão “dramático” aumento,( gente que não sabe, e muitas
vezes nunca soube, o que é viver com menos de mil euros mensais, quanto mais
com salário mínimo!!!), alguns ganhando vários salários mínimos só para
manifestarem a sua “indignação” no noticiário ou na coluna do órgão de
comunicação de “referência”, durante uns poucos minutos a debitar opinião.
Por mim, qualquer salário abaixo do 800 euros é indigno, e passo a
explicar:
Por estas bandas paga-se, pelo trabalho de empregada doméstica, um
trabalho digno e honroso, mas que é pouco qualificado, 6 euros por hora,
existindo quem pague a cinco ou a sete.
Ou seja, o equivalente a um salário mensal de 876 euros, isto fazendo
as contas a um horário de 35 horas mensais (140 horas em 4 semanas, mais 1 dia
útil, no mínimo).
Sabemos, contudo, que a maioria dos salários mínimos é pago a trabalhadores com um horário de 40 horas
semanais, horário muitas vezes ultrapassado (dando 160 horas, mais, no mínimo,
um dia de 8 horas).
Neste caso, o mesmo salário, se for pago a 5 euros à hora, dá 840
euros, e se for pago, como se paga por aqui o serviço doméstico, dá …1008 euros
mensais.
E estamos a falar de salários não qualificados, já que nas médias e
grandes empresas esse trabalho é qualificado.
Há quem argumente que os salários são baixos porque a produtividade é
baixa.
Mas, já não sendo essa a realidade em muitas empresas, a baixa
produtividade não é porque os trabalhadores trabalham menos, como se sabe pelas
estatísticas (Portugal, ao contrário dos mitos lançados por aí, é dos países europeus
onde a carga do horário de trabalho é mais pesada), mas por má gestão e falta
de qualificação de muitos empresários ( também pelas estatísticas podemos saber
que a qualificação média dos assalariados é superior à qualificação média dos
empresários).
Recordo-me do caso de uma grande empresa local em dificuldades que, nos
últimos anos de vida, era administrada por administradores nomeados pelos
bancos, os credores, onde de cada vez que os credores nomeavam nova
administração, com o objectivo de prepara despedimentos e o encerramento da
empresa, as primeiras medidas que tomavam era aumentar os salários da administração
e renovar a frota automóvel dos mesmos administradores (um deles é um conhecido
economista, ex-ministro das finanças, que está sempre do lado dos indignados de
cada vez que se fala do aumento de salário mínimo).
Ou seja, por em causa um aumento, já de si miserável, do miserável
salário mínimo nacional é no mínimo, uma vergonha, reveladora da mentalidade
miserável de muita gente.
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