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sexta-feira, 29 de abril de 2022

1º de Maio de 1974 - Alguns documentos do meu arquivo.


Junto apresentamos um comjunto de documentos, do nosso arquivo pessoal, relativos ao 1º de Maio de 1974 e à situação política nesse primeiro mês de Maio em liberdade.

O documento pode ser ampliado, clicando sobre o mesmo.

Começamos por um documento, datado de Março de 1974, ainda antes do 25 de Abril, um documento ainda clandestino, divulgado pelo PCP, no mesmpo tipo de papel transparente e fácil de destruir (ou engolir) em que era editado clandestinamente o Avante.

Os autores desse panfleto, convocando para grandes manifestações no 1º de Maio de 1974 contra o governo marcelista, estavam longe de imaginar que esse primeiro de Maio veio a ser o primeiro comemorado em liberdade:


O segundo documento que divulgamos foi publicado já na sequência do 25 de Abril, pela concelhia de Torres Vedras do PCP, convocando para a manifestação popular que teve lugar pelas ruas da então vila de Torres Vedras, nesse 1º de Maio, e que está fotograficamente documentado AQUI :

O terceiro documento é uma tarjeta anónima, ironizando com o fim do regime, onde também se refere esse 1º de Maio:


O quarto documento data do dia 4 de Maio e refere o inicio da formação de um núcleo local do Partido Socialista:

Os dois documentos seguintes, datados, respectivamnete de 8 e 9 de Maio de 1974,  referem posições do CDE, que então reuinia gente que iria aderir ao PS , ao PCP, e outros partidos entretanto surgidos à luz do dia, um movimeto unitário da oposição surgido para as últimas "eleições" do regime, realizadas em 1973: 

O documento em baixo refere uma reunião convocada para o dia 12 de Maio, em Torres Vedras, para aprovar uma comissão provisória para nomear uma administração concelhia provisória (as peripécias dessa reunião podem ser lidas AQUI).


Por último divulgamoa um da CDE de 25 de Maio desse ano sobre a Guerra Colonial: 


Outros documentos deste período, neste caso exclusivamente sobre Torres Vedras, podem ser consultados AQUI.

sexta-feira, 22 de abril de 2022

Exposição : “Proibido Por Inconveniente” - materias das censuras no Arquivo Ephemera


Com base numa vasta colecção de materiais recolhidos pelo Arquivo Ephemera, de José Pacheco Pereira, está a decorrer a exposição dedicada à censura durante o Estado Novo, intitulada “Proibido Por Inconveniente”.

Inaugurada no passado dia 7 de Abril, vai encerrar já no próximo dia 27 de Abril, na próxima 4ª feira, e é uma organização conjunta do Arquivo Ephemera e da Câmara Municipal de Lisboa, no âmbito das comemorações do 25 de Abril.

Pode ser visitada no átrio das antigas instalações do Diário de Notícias, localizado no topo da Avenida de Liberdade.

No dia do encerramento, 27 de Abril,  está programada a apresentação do livro “Censura, a construção  de uma arma política  do Estado Novo”, da autoria do curador da exposição, Júlia Leitão de Barros, sessão que decorrerá às 17.30,  seguindo-se, às 18.30, uma conferência intitulada “O Que Nem Se Podia Pensar”, sobre a censura do pensamento e do gosto.

Escreve José Pacheco Pereira no catálogo de apresentação da exposição:

“O grande feito da Censura existente em 48 anos foi deixar de herança até aos nossos dias uma nostalgia de um Portugal onde todos se entendiam, onde havia “consenso”, onde todos trabalhavam pelo “bem comum”, sem corrupção que não fosse o roubo do pão pelos necessitados, onde havia “respeito” e boa educação. Ou seja, uma nostalgia perversa do Portugal da ditadura.

“(…) Nunca ninguém se interroga por que razão nunca houve  nada de parecido com a “operação Marquês” ao longo dos extensos  48 anos de ditadura? Não havia corruptos nos altos cargos da nação? Não havia corruptos na União Nacional? Nenhum general, embaixador, deputado à Assembleia Nacional, ministro ou secretário de estado, comandante da Legião ou graduado da Mocidade Portuguesa, nenhum governador colonial, bispo, “meteu a mão na massa”? Ou houve casos de corrupção que a Censura não nos deixou conhecer? Sem dúvida, como se vê nos cortes da Censura, do mesmo modo que havia pedofilia, violência contra as mulheres, violações, roubos e suicídios.

“Mas  a resposta é pior ainda : na havia corrupção porque não havia justiça para os poderosos do regime, e apouca que havia era dos escalões intermédios para baixo. (…).

“Neste sentido, a Censura foi talvez a mais eficaz arma do regime da ditadura, cujos efeitos ainda hoje estão submersos no nosso quotidiano. Muito mais do que a subversão do “político”, o que a Censura protegia era o poder, todas as hierarquias que dele emanavam, exigindo mais do que respeito, “respeitinho”. Em 48 anos, em que não houve um único dia sem censura, foi este o seu legado”.

Os excertos acima transcritos resumem bem a importância desta exposição, onde se revela, entre o irónico, o ridículo, mas também o cuidado literário de alguns pareceres dos censores, como a censura foi um dos pilares do regime, cujo efeito se prolongou no tempo e se entranhou, ainda hoje, em certos valores identificados como os do “bom português” e da “portugalidade”.

A exposição é para visitar demoradamente, com atenção aos pormenores, deixando aqui algumas imagens da mesma, na visita que a ela efectuámos esta semana, tendo sido surpreendidos pela oportunidade de a percorrer guiados por José Pacheco Pereira.





































(Para ampliar, clicar sobre a fotografia)

quinta-feira, 21 de abril de 2022

O Rumo constrangedor do PCP…até à derrota final!!


Não sendo esta a primeira vez que aqui critico atitudes do PCP, esta é uma das que faço de forma mais “dolorosa”.

Tem sido constrangedor seguir algumas das atitudes do PCP durante os últimos tempos, reveladoras, no mínimo, de um grande desnorte e, no máximo, de um grande desrespeito pelo seu passado em Portugal.

Sem esquecer a sempre incompreensível retórica em defesa de regimes abomináveis e corruptos, como o da Venezuela, o de Angola ou o da Coreia do Norte, ou o misticismo à volta do fracassado modelo soviético, a sua actual atitude em relação à criminosa invasão da Ucrânia pelo imperialismo fascista russo, raia a mais gritante insensibilidade humanista.

A sua irracional interpretação da história mundial e da vida internacional era “desculpada”, perdoada e desvalorizada pela sua história nacional, a luta contra a ditadura (a única que houve em Portugal nos últimos cem anos), a defesa dos mais fracos, dos direitos sociais e dos trabalhadores, valores geralmente “desvalorizados” pelos outro partidos democráticos, para além de uma imagem de competência na gestão autárquica, de defesa da cultura nacional e popular, que tinha o seu momento alto na Festa do Avante, de negociante credível, de possuir quadros incorruptiveis ao poder financeiro, apesar de alguns casos pontuais que beliscavam essa imagem.

Nos momentos cruciais da recente história democrática portuguesa, soube colocar-se do lado certo da história, tentando travar ou controlar os excessos do PREC, recusando participar na aventura do 25 de Novembro, evitando assim uma guerra civil ou um golpe militar, apoiando e defendendo activamente a construção de uma Constituição democrática, “engolindo o sapo” votando em Mário Soares, para travar uma candidatura revanchista de direita e, mais recentemente, apoiando a formação da “geringonça”, para travar um dos períodos mais negros na tentativa de destruição de direitos sociais em Portugal, ensaiado à sombra do “ir além da Troika”.

Mas todo esse capital de simpatia à esquerda e de respeito à direita começou a ser desbaratado nos últimos tempos, primeiro com uma atitude de arrogante desafio às medidas sanitárias de combate à pandemia, depois com o irresponsável chumbo do orçamento para 2022, que acabou com a “geringonça”, dando uma maioria absoluta ao PS, abrindo o parlamento à extrema-direita e enfraquecendo o peso da esquerda nesse órgão de poder democrático.

Mas o pior estava para vir.

O PCP, que se intitula um partido anti-imperialista, tem-se recusado a condenar, de forma clara, o mais ignóbil ataque do pior e mais violento Imperialismo do momento, o imperialismo russo, contra uma nação soberana e independente como a Ucrânia;

O PCP, um partido que tanto gosta de exibir os seus pergaminhos antifascistas, só vê fascistas do lado ucraniano, esquecendo-se de ver que o regime de Putin é o modelo politico actual que mais se aproxima do ideário fascista, bebendo muita da sua ideologia em “pensadores” fascistas russos dos anos 20-30 e que tinha como um dos principais aliados internos o recentemente falecido Jirinovsky, líder da extrema-direita da Duma e anticomunista primário, sem esquecer o apoio financeiro e politico dado por Putin a toda a extrema direita populista europeia e norte-americana;

O PCP, que tanto fala em paz, sempre pronto a condenar as escaladas militares quando elas partem dos Estados Unidos ou da NATO, revela uma preocupação selectiva pela paz, ao recusar-se a condenar, com a mesma veemência, os crimes de guerra, a destruição de edifícios civis, de hospitais e escolas, perpetrados pelo exército russo em solo da Ucrânia;

O PCP, que tanto diz defender a soberania nacional, tem demonstrado, no mínimo, uma grande dificuldade em condenar o ataque da Rússia à soberania ucraniana, situação, aliás, que não começou no passado dia 24 de Fevereiro, mas que teve início em 2014;

O PCP, que tanto gosta de defender o povo contra as “agressões” do “grande capital”, recusa-se a condenar, de forma veemente, a pior agressão que se pode fazer contra um povo, a agressão militar contra civis, aquela que a Rússia, um dos mais selvagens regimes capitalistas actuais, sustentado por corruptos oligarcas da grande finança internacional, está a executar em solo ucraniano.

Para coroar essa atitude miserável, o PCP tomou a decisão de se ausentar do parlamento quando o presidente da Ucrânia discursar nesse órgão de soberania.

Pessoalmente não alinho no endeusamento de Zelensky, que tem pontos negros na sua biografia, teve algumas atitudes irresponsáveis, como a de se fazer acompanhar no seu discurso ao parlamento grego por um líder do tenebroso Batalhão Azov,  a de humilhar o Presidente alemão ou lançar “alfinetadas” ao presidente Macron, contribuindo para minar a sua imagem num momento em que já se sabia que este ía enfrentar Marine Le Pen na segunda volta.

Mas Churchill também não era um personagem muito recomendável antes da 2ª Guerra, tendo até manifestado simpatia por Mussolini, mas as circunstâncias da história transformaram-no num herói.

Goste-se mais ou menos de Zelensky, o que é um facto é que ele tomou uma atitude corajosa em defesa do seu povo, surpreendendo mesmo os mais fiéis dos seus apoiantes, recusando-se a sair do país, como lhe propôs o presidente norte-americano logo no primeiro dia da invasão;

Goste-se mais ou menos de Zelensky, o que é um facto é que ele é o representante legitimo de um povo que está a ser martirizado por uma invasão criminosa e ilegal.

Por isso, como representante do martirizado povo ucraniano, que tão bem tem sido apoiado e recebido pelo povo português , como respeito por esse povo, exigia-se a um partido que se diz defensor da paz, preocupado com o sofrimento dos povos e anti-imperialista que, no mínimo, estivesse presente no parlamento para ouvir o representante desse povo.

É, no mínimo, constrangedor ver um partido como o PCP, com um história de 100 anos, rumar assim, ingloriamente, para uma grande derrota final!