Não sendo esta a primeira vez que aqui critico atitudes do PCP, esta é uma das que faço de forma mais “dolorosa”.
Tem sido constrangedor seguir algumas das atitudes do PCP durante os
últimos tempos, reveladoras, no mínimo, de um grande desnorte e, no máximo, de um
grande desrespeito pelo seu passado em Portugal.
Sem esquecer a sempre incompreensível retórica em defesa de regimes
abomináveis e corruptos, como o da Venezuela, o de Angola ou o da Coreia do
Norte, ou o misticismo à volta do fracassado modelo soviético, a sua actual atitude
em relação à criminosa invasão da Ucrânia pelo imperialismo fascista russo,
raia a mais gritante insensibilidade humanista.
A sua irracional interpretação da história mundial e da vida
internacional era “desculpada”, perdoada e desvalorizada pela sua história
nacional, a luta contra a ditadura (a única que houve em Portugal nos últimos
cem anos), a defesa dos mais fracos, dos direitos sociais e dos trabalhadores,
valores geralmente “desvalorizados” pelos outro partidos democráticos, para
além de uma imagem de competência na gestão autárquica, de defesa da cultura
nacional e popular, que tinha o seu momento alto na Festa do Avante, de negociante
credível, de possuir quadros incorruptiveis ao poder financeiro, apesar de alguns casos
pontuais que beliscavam essa imagem.
Nos momentos cruciais da recente história democrática portuguesa, soube
colocar-se do lado certo da história, tentando travar ou controlar os excessos do
PREC, recusando participar na aventura do 25 de Novembro, evitando assim uma
guerra civil ou um golpe militar, apoiando e defendendo activamente a
construção de uma Constituição democrática, “engolindo o sapo” votando em Mário
Soares, para travar uma candidatura revanchista de direita e, mais
recentemente, apoiando a formação da “geringonça”, para travar um dos períodos
mais negros na tentativa de destruição de direitos sociais em Portugal, ensaiado
à sombra do “ir além da Troika”.
Mas todo esse capital de simpatia à esquerda e de respeito à direita
começou a ser desbaratado nos últimos tempos, primeiro com uma atitude de arrogante
desafio às medidas sanitárias de combate à pandemia, depois com o irresponsável
chumbo do orçamento para 2022, que acabou com a “geringonça”, dando uma maioria
absoluta ao PS, abrindo o parlamento à extrema-direita e enfraquecendo o peso
da esquerda nesse órgão de poder democrático.
Mas o pior estava para vir.
O PCP, que se intitula um partido anti-imperialista, tem-se recusado a
condenar, de forma clara, o mais ignóbil ataque do pior e mais violento
Imperialismo do momento, o imperialismo russo, contra uma nação soberana e
independente como a Ucrânia;
O PCP, um partido que tanto gosta de exibir os seus pergaminhos antifascistas,
só vê fascistas do lado ucraniano, esquecendo-se de ver que o regime de Putin é
o modelo politico actual que mais se aproxima do ideário fascista, bebendo
muita da sua ideologia em “pensadores” fascistas russos dos anos 20-30 e que
tinha como um dos principais aliados internos o recentemente falecido Jirinovsky,
líder da extrema-direita da Duma e anticomunista primário, sem esquecer o apoio
financeiro e politico dado por Putin a toda a extrema direita populista
europeia e norte-americana;
O PCP, que tanto fala em paz, sempre pronto a condenar as escaladas
militares quando elas partem dos Estados Unidos ou da NATO, revela uma
preocupação selectiva pela paz, ao recusar-se a condenar, com a mesma veemência,
os crimes de guerra, a destruição de edifícios civis, de hospitais e escolas, perpetrados
pelo exército russo em solo da Ucrânia;
O PCP, que tanto diz defender a soberania nacional, tem demonstrado, no
mínimo, uma grande dificuldade em condenar o ataque da Rússia à soberania ucraniana,
situação, aliás, que não começou no passado dia 24 de Fevereiro, mas que teve
início em 2014;
O PCP, que tanto gosta de defender o povo contra as “agressões” do “grande
capital”, recusa-se a condenar, de forma veemente, a pior agressão que se pode
fazer contra um povo, a agressão militar contra civis, aquela que a Rússia, um dos
mais selvagens regimes capitalistas actuais, sustentado por corruptos oligarcas
da grande finança internacional, está a executar em solo ucraniano.
Para coroar essa atitude miserável, o PCP tomou a decisão de se
ausentar do parlamento quando o presidente da Ucrânia discursar nesse órgão de
soberania.
Pessoalmente não alinho no endeusamento de Zelensky, que tem pontos
negros na sua biografia, teve algumas atitudes irresponsáveis, como a de se
fazer acompanhar no seu discurso ao parlamento grego por um líder do tenebroso
Batalhão Azov, a de humilhar o
Presidente alemão ou lançar “alfinetadas” ao presidente Macron, contribuindo
para minar a sua imagem num momento em que já se sabia que este ía enfrentar
Marine Le Pen na segunda volta.
Mas Churchill também não era um personagem muito recomendável antes da
2ª Guerra, tendo até manifestado simpatia por Mussolini, mas as circunstâncias
da história transformaram-no num herói.
Goste-se mais ou menos de Zelensky, o que é um facto é que ele tomou
uma atitude corajosa em defesa do seu povo, surpreendendo mesmo os mais fiéis
dos seus apoiantes, recusando-se a sair do país, como lhe propôs o presidente
norte-americano logo no primeiro dia da invasão;
Goste-se mais ou menos de Zelensky, o que é um facto é que ele é o
representante legitimo de um povo que está a ser martirizado por uma invasão
criminosa e ilegal.
Por isso, como representante do martirizado povo ucraniano, que tão bem
tem sido apoiado e recebido pelo povo português , como respeito por esse povo,
exigia-se a um partido que se diz defensor da paz, preocupado com o sofrimento
dos povos e anti-imperialista que, no mínimo, estivesse presente no parlamento
para ouvir o representante desse povo.
É, no mínimo, constrangedor ver um partido como o PCP, com um história de 100 anos, rumar assim, ingloriamente, para uma grande derrota final!
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