(fonte: El País)
O que aconteceu este fim-de-semana em Espanha, com a desobediência civil dos controladores aéreos espanhóis, é apenas um aviso do que pode começar a suceder com mais frequência (e violência), um pouco por toda a Europa, se o discurso anti-sindical e anti-social da classe política, dos banqueiros e dos economistas de serviço, ampliada pelas “picaretas falantes” da comunicação social, continuar a afrontar o desespero dos cidadãos e dos trabalhadores europeus.
A forma como se tem vindo a criar junto da opinião pública a ideia de que os sindicatos e as lutas tradicionais, como as greves e as manifestações, não são compatíveis com as “novas realidade económicas”, como algo que está “fora de moda” e “ultrapassado”, ao mesmo tempo que se investe contra o chamado Modelo Social Europeu e se impõem cortes salariais e se desvaloriza o factor trabalho, desculpabilizando ou, no mínimo, desvalorizando a responsabilidade do sector financeiro em relação à actual situação económico-social da Europa, cria um vazio de desespero que pode começar a generalizar formas de luta mais radicais do que aquelas a que os sindicatos até agora nos habituaram, fugindo mesmo ao controle institucional dos próprios sindicatos.
Outro tipo de argumentação, usado para dividir os cidadãos trabalhadores, é o dos “privilégios” de uns face ao desespero dos restantes. Este discurso tem feito o seu caminho avassalador e irresponsável, ao ponto de quase se considerar como “privilegiado” aquele que tem um emprego estável, mesmo que mal pago, face aos que sobrevivem na precariedade ou sofrem a violência do desemprego, uma boa maneira de desviar as atenções dos verdadeiros privilegiados (a maior parte dos políticos de carreira, dos gestores públicos e privados, dos grandes accionistas, dos banqueiros, e todos a plêiade de serviçais que os defendem na comunicação social e nas universidades).
É este o discurso que é dominante entre políticos e comentadores, na condenação do gesto dos controladores aéreos espanhóis e que está a virar a opinião pública contra estes.
Mas, se continuarem a desvalorizar o papel dos sindicatos na sociedades, a ignorar a opinião dos cidadãos trabalhadores e produtores, a ouvir apenas os piratas dos “mercados”, talvez lhes cai em cima, com consequências bem mais gravosas para todos, situações de desobediência civil, por agora minoritárias e em grupos profissionais mais influentes e com maior capacidade económica de fazer frente à situação actual, mas que no futuro se podem tornar totalmente descontroladas e mais violentas.
Era bom que os políticos europeus não vissem apenas a ilegalidade e o incómodo da situação provocada pela atitude dos controladores aéreos espanhóis como um acto isolado, mas vislumbrassem nesta situação também um aviso. Por enquanto ainda estão a tempo de mudar o rumo das coisas. Daqui a uns meses não se sabe!
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