Pesquisar neste blogue

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Com a chegada de Eusébio: - Há 50 anos o futebol português mudou



Lembro-me de, em miúdo, acompanhar com entusiasmo, na televisão, a preto e branco, os feitos de Eusébio, quer ao serviço do Benfica quer no inesquecível mundial de 1966.

No tempo da ditadura, o futebol , mesmo sem se ignorar a forma como ela dele se aproveitava, era uma das raras ocasiões em que se rompia com o cinzentismo do mundo que nos rodeava, tornando-se possível a espontânea manifestação de alegria.

Era também o tempo em que a carreira de um jogador se identificava com um clube, não havia a constante mudança de camisola, que hoje faz de cada jogador um mero objecto de consumo, que se usa e deita fora de seis em seis meses para gáudio de dirigentes desportivos pouco recomendáveis e para a lavagem de dinheiros de origem obscura.

O futebol hoje é um mero negócio, um escape para a manifestação das atitudes mais primárias e repelentes de claques organizadas à boa maneira nazi, ou para a manifestação artificial de paixões, um verdadeiro “ópio do povo” organizado e pouco inocente.

Claro que ainda há excepções e momentos únicos, mas hoje ninguém com bom senso leva a família ou um filho menor a um estádio de futebol, muito menos se for no estádio do adversário.

Lembro-me dos tempos em que se organizavam excursões onde famílias inteiras acompanhavam o seu clube nas visitas aos adversários e onde se era recebido, não à pedrada ou pela polícia de choque, mas com cordialidade e festa pelos adeptos dos clubes rivais, aproveitando-se para conhecer outras gentes e outras terras.

Eusébio é o último símbolo desse tempo em que o futebol era uma festa verdadeira e onde cada jogador tinha orgulho na camisola que vestia e lutava por fazer sempre o melhor, sem demasiados calculismos  e sem estarem anestesiados pela fortuna fácil que o futebol hoje permite.

Sem nostalgia, Eusébio é um dos últimos símbolos vivos da ingenuidade perdida nesses tempos.

Sem comentários: