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segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

O Respigo da Semana - Manuel António Pina e o discurso da pobreza.

“Pobres”, “pobreza”, estas foram duas das palavras mais lidas e ouvidas em mensagens de Natal.

Se uns as utilizaram em coerência com a sua acção e o seu conhecimento, como a Igreja e várias personalidades ligadas a ONG’s com intervenção social, outros fizeram-no por pura hipocrisia.

Estão neste caso alguns daqueles que mais têm contribuído, por opção ou por omissão, para agravar as condições de desigualdade social em Portugal e para o empobrecimento de grande parte da população, pelo desemprego, pela precariedade do trabalho ou pela e pela desvalorização do factor trabalho: Primeiro- ministro, vários ministros deste governo, Presidente da República, uma série de presumíveis candidatos a futuros governantes e os detentores desse verdadeiro "aparelho ideológico de estado" que são a maior parte dos economistas e comentadores do regime.

Nesta época do ano é a má consciência desta gente que as leva a derramar, com cinismo, as costumeiras lágrimas de crocodilo pelos “desfavorecidos” e pelos “pobres” que, nos outros 364 dias do ano, eles ajudam a criar com as suas opções políticas, económicas e sociais e a sua ideologia económico-social.

Por tudo isto, a crónica de Manuel António Pina, publicada na passada semana nas páginas do Jornal de Notícia, revelam-se mais actuais do que nunca:


"Pobres é o que está a dar

"De repente (a caça ao voto abriu este ano em época natalícia), os políticos descobriram os pobres. Assim, nos últimos dias, Cavaco organizou nada menos que duas expedições aos pobres levando consigo um batalhão de jornalistas e câmaras de TV que o mostraram ao Mundo destemidamente no meio deles a dizer frases sobre a pobreza.

"Sócrates é que não gostou pois, afinal de contas, os pobres, ou boa parte deles, são seus e dos seus governos.

"De facto, ainda há dias o jovem "boy" encarregado, na Secretaria de Estado da Segurança Social, das exéquias do falecido "Estado Social" se gabava de ter conseguido, em poucos meses, tirar o Subsídio Social de Desemprego a 10 291 desempregados e o Rendimento Social de Inserção a mais 8 321.

"E ontem o Ministério das Finanças anunciava festivamente, conta o DN, "uma luz ao fundo do túnel", com "os cortes nos apoios sociais aos desempregados e crianças (...) a ser decisivos para a contenção nos gastos e, logo, para o alívio no défice".

"Anda o Governo a fazer pobres para Cavaco vir aproveitar-se desse esforço!

"Também os candidatos Francisco Lopes e Fernando Nobre se engalfinharam um destes dias na TV cada um reivindicando para si a glória de conhecer mais pobres (e pobres mais pobres) do que o outro.

"Não há dúvida de que os pobres é que estão a dar. Não só para o Governo poder ajudar bancos e grandes empresas mas também para os políticos exibirem na lapela".

Manuel Pina in Jornal de Notícias de 22 Dez 2010








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