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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

TODOS SOMOS BIELORRUSSOS!

Foi em Minsk que, numa visita a essa cidade há largos anos, encontrei o verdadeiro “espírito soviético”, ou, para ser mais claro, uma cidade cinzenta, nas suas casas, nas suas ruas, nos seus mastodônticos edifícios oficiais e até nas suas gentes.

Já nem Moscovo (excluindo a visita ao túmulo de Lenine), e muito menos Kiev ou S. Petersburgo (então Leninegrado), respiravam esse ambiente humanamente tão frio e desesperançado como o de Minsk.

A Bielorrússia nasceu de um equívoco histórico, do puro oportunismo político do ocidente nos anos 90, que procurou apressar a decadência do gigante russo empurrando as antigas repúblicas soviéticas para uma independência irresponsável, mesmo aquelas que, como a Bielorrússia, não ofereciam as condições mínimas para ser um país. (o mesmo aconteceria com a antiga Jugoslávia).

Independente, a Bielorrússia, cujo território foi dos que mais sofreu com a segunda guerra (1/3 da sua população dizimada), tornou-se rapidamente um pária do ocidente, pois o seu presidente, Lukachenko, quase vitalício desde a independência, introduziu um modelo de economia de Estado, fechado à economia de mercado, com a agravante de usar o poder de modo autoritário.

Claro que foi eleito “democraticamente”, e este foi outro dos equívocos do ocidente: a pressa em aproveitar-se da decadência da Rússia levou-o a aceitar como democracia qualquer acto eleitoral disputado por mais do que um partido ou pessoa, aclamando como democracia o mero acto formal de colocar um voto numa urna.

Ora a democracia é muito mais do que isso, como depressa o povo da Bielorrússia percebeu e é contra isso que agora se manifestam nas ruas de Minsk, sendo violentamente reprimidos pela polícia (uma situação que não é muito diferente do que se tem passado em Atenas, Londres, Roma ou Paris).

O cinismo da indignação ocidental em relação a essa violação dos Direitos Humanos em Minsk só se manifesta porque o sistema económico da Bielorrússia não se coaduna com o modelo neo-liberal do ocidente.

Fosse Lukachenko um líder de um qualquer país de leste (ou de qualquer outra parte do mundo) , onde existisse uma “democracia” tão formal e corrupta como a da Bielorrússia, controlada pelas várias espécies de máfias (como aconteceu recentemente no Kosovo), mas onde fossem aceites as regras dos “mercados” ou representasse um bom "negócio", e a reacção do ocidente seria outra, mais condescendente.

Por isso, a minha solidariedade para com a população Bielorrussa que sofre na pele o efeito de um governo corrupto e autoritário não se confunde com essa aparente “solidariedade” do ocidente para com esse país.

É a mesma solidariedade que manifesto para com os irlandeses, os gregos, os espanhóis, e, em geral, par com todos os que vivem do rendimento do trabalho na Europa, dominada por instituições que, ainda pior que na Bielorrússia, não se sujeitam ao mínimo de controle democrático por parte dos cidadãos atingidos na sua dignidade e direitos, como o Conselho Europeu, a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu, os “mercados” e toda a euro-burocracia.

A nossa luta é a mesma da dos Bielorrussos.

…Todos somos Bielorrussos!

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