Parece agora que exigir a transparência na ligação entre interesses políticos ou económicos com sociedades secretas, ou mais ou menos secretas, um arcaísmo em democracia, é demagógico e populista.
Parece agora que manifestar indignação pelas trocas e baldrocas entre cargos políticos e cargos administrativos em empresas monopolistas, privadas ou estatais, as mesmas que continuam a beneficiar dos favores do mesmo Estado que passam a vida a criticar, é demagógico e populista.
Parece agora que manifestar espanto pelos muitas vezes imerecidos chorudos ordenados e reformas de que uns poucos, sempre os mesmos, por via das jogadas políticas de bastidores, raramente por mérito, continuam a usufruir nesta conjuntura de “crise”, é demagógico e populista.
Parece ainda que criticar os que podem fugir com capitais do país para paraísos fiscais, ao mesmo tempo que vêm dar opiniões para a comunicação social em defesa da austeridade, da flexibilidade das leis trabalho, de salários baixos e contra os direitos sociais (que eles chamam privilégios) é demagógico e populista.
Pois bem eu, que pago mais de 1/3 do que ganho para impostos há quase trinta anos, que tenho os rendimentos congelados há quase sete anos (fora um ou outro ano de excepção, mas logo penalizado a seguir), que por via dos cortes de 7% no vencimento e no subsidio de Natal no último ano ganhei menos cerca de duzentos euros por mês (se fizer as contas em termos familiares essa situação é em duplicado), que no próximo ano, não só vou pagar mais impostos como vou continuar a sofrer os mesmo 7% de cortes no vencimento e vou ficar sem o subsídio de férias e de Natal, acho que tenho todo o direito de ser “populista” e “demagógico”.
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