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quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

OBAMA: Restaurar economia é o «desafio mais urgente»: Discurso do Estado da Nação, um contraponto ao cinzentismo dos líderes europeus



No seu discurso do Estado da Nação o presidente Obama abordou, de modo desassombrado, os temas económicos. Mas, ao contrário dos líderes europeus, apresentou propostas concretas, colocando-se ao lado dos cidadãos contra o sistema financeiro.

«Podemos contentar-nos com um país onde um número cada vez mais pequeno de pessoas é muito bem sucedido, enquanto mais e mais norte-americanos mal conseguem subsistir? Ou podemos restaurar uma economia onde todos têm uma oportunidade, todos fazem a sua parte e as regras são iguais para todos?», interogou-se o presidente, revelando uma sensibilidade e clarividência que tanto anda a faltar deste lado do Atlântico.

Por cá, a imposição de medidas de austeridade para contentar os meios financeiros, não tem em conta qualquer tipo de preocupação para com os cidadãos europeus e a suas cada vez mais dramáticas condições de vida.

Também ao contrário do que muitos por cá defendem, o presidente dos EUA deixou ainda algumas propostas ao Congresso e governos estaduais para estimular o ensino liceal, legalizar imigrantes, estender os benefícios fiscais para trabalhadores e acabar com benefícios fiscais para empresas que enviem postos de trabalho para o estrangeiro.

Aliás, esta última proposta há muito que devia ter sido implementada na Europa. Aquelas empresas europeias que usam a deslocalização e os paraísos fiscais para fugir aos impostos, às suas obrigações sociais ou para se aproveitarem dos salários baixos e das condições degradantes de trabalho existente noutros países, onde não são respeitados os direitos sociais e humanos, deviam ser fortemente penalizadas. Ora, não só não é isso que acontece, como até acabam acarinhadas pelos poderes políticos e pela comunicação social.

Por cá, ainda, se alguém beneficia de vantajosas condições fiscais, não é quem trabalha e produz, mas quem especula, quem dá emprego a ex-políticos reformados, quem tem ligações privilegiadas com o poder político. Falar em benefícios fiscais para quem trabalha, ao mesmo tempo que se propõe retirá-los às empresas que não respeitam os direitos socias, como o fez o presidente Obama, é um tabu, e se fosse proposta por cá logo seria bombardeada e ridicularizada pelos comentadores do costme, sempre prontos a defender os poderosos interesse financeiros e económicos, contra quem trabalha e produz.

Também, ao contrário do que se passa nesta Europa, entregue à voragem de obscuros interesses financeiro (com a excepção da Islândia e dos países nórdico…), o presidente norte-americano anunciou ainda a intenção de reforçar as investigações às práticas financeiras fraudulentas que levaram à crise financeira.

Esse tipo de investigação não interessa aos interesses financeiros e políticos europeus, porque, levada até às suas últimas consequências, levaria muita gente, hoje "importante" na vida política, financeira e económica europeia, para as prisões.

Obama sublinhou também a importância da Educação, do desenvolvimento tecnológico, do emprego qualificado e da segurança energética como condições para o sucesso futuro dos Estados Unidos.

Por cá, continua a apostar-se na mão de obra barata, nos monopólios energéticos, ao mesmo tempo que se desvaloriza o sector educativos.

Obama avisou ainda: «Não, não vamos voltar a uma economia enfraquecida pelo outsourcing, dívida e falsos lucros financeiros”. Dando o exemplo do bilionário Warren Buffet sublinhou a necessidade de acabar com benefícios fiscais para as grandes fortunas.

Também por cá as grandes fortunas continuam imunes à crise e ninguém se atreve a questionar esses privilégios…pudera, por cá ninguém, políticos, economistas e comentadores, se atreve a morder na mão de quem o alimenta…

Mas talvez aquela que tenha sido uma das mais interessantes proposta anunciadas foi o estabelecimento de uma nova unidade para combater as práticas de concorrência desleal no âmbito do comércio internacional.

Obama chegou ao ponto crucial do actual processo de globalização e de mercado livre, que beneficia quem foge aos impostos, quem não respeita os direitos sociais, humanos e políticos dos trabalhadores e dos cidadãos em geral, fomentando o dumping social, a pirataria, e o branqueamento de dinheiro oriundo do crime organizado.

Desde há muito que a Europa devia estar a defender, aprofundar e aperfeiçoar o seu modelo social contra o dumping social à escala global, em vez de, pelo contrário, os seus políticos, economistas e comentadores nos tentarem convencer que é o modelo social que faz parte do problema, desviando-nos assim a atenção do verdadeiro problema, que é a impunidade em que vivem o sistema financeiro e as grandes empresas.

Claro que, do discurso de Obama, o que foi ampliado por cá, nomeadamente na comunicação social que tem poder para influenciar a opinião pública, as televisões,  foi uma parte lateral do discurso do presidente, a questão do Irão.

Neste momento, aos dirigentes europeus, para desviarem a atenção dos seus cidadãos dos verdadeiro problemas da crise financeira e da sua incompetência e corrupção ética , interessa enfatizar o que se passa no Irão, não interessando divulgar o essencial do discurso de Obama.

…uma guerra agora vinha mesmo a jeito para os actuais líderes europeus!

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