Ainda sou do tempo em que, na União Europeia, existiam capitalistas inteligentes.
Apoiados por políticos ( e políticas )por economistas ( e economias) inteligentes, sabiam que a sua prosperidade assentava na melhoria das condições de trabalho e na valorização do factor trabalho, através de salários e medidas sociais justas.
A harmonia nas empresas era directamente proporcional ao crescimento dos rendimentos e dos lucros, que eram reinvestidos na melhoria das condições de trabalho e produção das empresas e, através de impostos justos, na melhoria das condições socias.
Esses capitalistas inteligentes sabiam que a ganância do lucro imediato era má conselheira e, a prazo, iria prejudicar os seus negócios, pelo aumento da conflitualidade social e pela decadência produtiva que ela provocava.
Sabiam também, esses capitalistas inteligentes, que o direito ao lazer, ao descanso, a certas regalias sociais e a boas condições salariais seriam a garantia da prosperidade futura das suas empresas e dos seus lucros, isto é, da sobrevivência do próprio capitalismo.
Percebe-se agora que alguns desses capitalistas não eram, afinal, tão inteligentes como isso. Se aceitavam melhorar os salários e as condições socias do trabalho, afinal não o faziam por serem inteligentes ou por estarem de boa fé, mas por medo.
Medo que os trabalhadores seguissem e apoiassem o “modelo comunista”. Medo da influência dos sindicatos. Medo que a mobilidade social dos trabalhadores, que aquele modelo europeu permitia, ofuscasse a sua “glória”.
Quando se tornou evidente que esse “perigo” tinha passado, muitos desses capitalistas, ou deixaram cair a sua máscara ou foram cilindrados por uma nova geração de capitalistas.
Estes queriam enriquecer rapidamente e ter acesso ao luxo e á luxuria antes que a juventude se esvaísse.
Muitos destes “novos” capitalistas fizeram-se na especulação financeira, no branqueamento de capitais, na fuga aos impostos, situação que lhes é “moralmente” e “eticamente” aceitável porque se formaram no cinismo de uma desumanização crescente dos valores socias.
Claro que capitalistas deste tipo também existiam nos outros tempos, mas não tinham boa imagem, quer junto dos seus pares, quer junto da opinião pública, quer junto de economistas e políticos.
Mas também isto se alterou. Estes “novos” capitalistas, se são ética, humana e socialmente pouco cultos, sabem lidar, a seu favor, com o poder da comunicação social. Controlando o poder financeiro, passaram a comprar a comunicação social, que foi colocada ao seu serviço, como autêntico aparelho ideológico deste “novo” capitalismo selvagem. Daqui passaram ao controle das Universidade e do que nelas se ensinava, formando economistas que se puseram ao seu serviço para “espalharem a boa nova” desse novo capitalismo, onde o que importa é a quantidade em detrimento da qualidade, o lucro fácil e especulativo, a imposição dos interesse financeiros ao interesse geral das sociedades, defendendo a desvalorização do factor trabalho e lançando a confusão ente “direitos” e “privilégios”.
Só faltava o controlo político. Este foi o mais fácil de atingir. Desde há muito tempo que estavam a acender ao poder político da Europa políticos com cada vez menos convicções, cada vez mais corruptos e ignorantes, que viam na política, não um serviço público e cívico, mas uma forma de se servirem do poder para o seus próprio enriquecimento e o dos que lhe estão próximos. Muitos destes, aliás, só almejam, quando saírem da política, porque a maior parte deles nunca fez nem sabe fazer mais nada, um lugar garantido na administração de uma empresa controlada pelo mesmo poder financeiro que protegem.
Claro que, na sua falta de inteligência, na cegueira provocada pela ganância do lucro especulativo imediato, não percebem que também estão a destruir a base do seu poder e que, a continuarem por esta via, muitos deles, um dia destes, vão acordar sem nada e em pânico, perante uma sociedade que, nada tendo a perder, irá reagir com tanta mais violência quanto mais tempo durar este estado de coisas…nessa altura será tarde de mais, não só para eles,mas também para o sonho da cidadania europeia…
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