(este é o verdadeiro "parlamento europeu")
Sempre votei desde que obtive o direito ao voto, o que
aconteceu após o 25 de Abril.
As minhas opções sempre foram variadas, do voto
em branco, ao voto no PPM, exactamente numas eleições europeias, onde o
candidato monárquico ele o Miguel Esteves Cardoso.
Maioritariamente sempre votei à esquerda, do PS ao BE,
passando, quase sempre, pela CDU.
Sempre considerei que a abstenção não só não tinha qualquer
utilidade prática, como era uma atitude antidemocrática e conformista…até hoje!
Agora que estão à porta as eleições europeias, estou
fortemente empenhado em optar pela abstenção.
E porquê?
Porque me recuso a participar numa farsa, numa
caricatura “democrática”.
Em primeiro lugar o Parlamento Europeu, que é a única
instituição europeia democrática, não tem qualquer poder para decidir sobre o
futuro da Europa, deixando que instituições anti-democráticas, como o Conselho
Europeu, a Comissão Europeia, o Eurogrupo, o BCE ou essa figurinha ridícula que
é o Presidente da União Europeia (!!!!) continuem a dominar os destinos dos
cidadãos europeus, sem nunca se submeterem ao voto popular.
Se acrescentarmos a aversão das instituições europeias ao
direito de os povos referendarem os Tratados que decidem do seu futuro e a
farsa continuada de repetir os referendos até à exaustão, quando estes não lhes
correm de feição, temos a “democracia” resumida à simples formalidade.
Ainda por cima, a maior parte dessas instituições europeias
anti-democráticas que dominam a Europa, apenas respondem perante os “mercados”,
isto é, os especuladores financeiros, os banqueiros, as agências de rating, os
accionistas das grandes empresas.
O parlamento europeu serve apenas para dar uns ares
“democrático” para aquelas instituições continuarem a
impor a “legitimidades” das medidas de austeridade aos seus cidadãos,
mantendo fortes desigualdades sociais e económicas no seu seio, mantendo
desigualdades fiscais e financeiras gritantes entre países do norte e do sul,
retirando direitos sociais, assaltando as poupanças dos cidadãos para salvarem
o seu corrupto sistema bancário (como aconteceu em Chipre), mantendo e apoiando
no seu seio governos xenófobos e autoritários como o da Hungria.
As decisões sobre o futuro da Europa são todas tomadas nas
costas dos cidadãos europeus, nos gabinetes dos grandes bancos e das grandes
empresas, às escondidas de todos e a “democracia” destas eleições é apenas um pró-forma, para distrair
jornalistas e incautos.
Exibindo o berloque que é o Parlamento Europeu, passam a
vida a exigir democracia aos outros, quando, mesmo figurões corruptos e
autoritários como um Putin têm mais legitimidade democrática do que qualquer
comissário europeu ou “presidente” da União Europeia. Aquele, ao menos, foi
eleito pelo voto popular. A um Durão Barroso nenhum cidadãos europeu, a não ser
que seja um burocrata da UE, teve o direito de escolher.
As eleições europeias ainda podiam servir, internamente,
para apresentar um cartão vermelho a este governo, mas para isso era preciso
que se perfilasse uma alternativa credível. Ora, por um lado a esquerda apresenta-se
a estas eleições fortemente fragmentada e, por outro lado, entre um Francisco
Assis ou um Paulo Rangel não existe qualquer divergência de fundo sobre o
modelo europeu. Aliás, à falta de diferenças assinaláveis, ambos já começaram a
campanha com meros ataques pessoais ou políticos, sem revelarem qualquer nova ideia
para a Europa.
Neste momento é isto que eu penso das eleições do Parlamento
Europeu e por isso vou fazer campanha pela abstenção.
Penso que se se registar uma grande abstenção ,
ultrapassando os 65%, a própria União Europeia e as suas instituições perdem
legitimidade para continuarem a impor mais austeridade a quem trabalha e para
“roubarem” legalmente os seus cidadãos e então talvez existam condições para os
cidadãos europeus seguirem o exemplo dos cidadãos da Ucrânia e correrem com
esta gente que governa a Europa.
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