Neste artigo, escrito por dois reputados articulistas, conhecedores da realidade europeia, demonstra-se que a criação do Euro foi a maior asneira na história de União Europeia e que a única hipótese de salvação para países como Portugal seria negociar a nossa saída dessa malfadada moeda, apenas feita para beneficiar a Alemanha e os especulativos meios financeiros.
Em vésperas de eleições para o Parlamento Europeu era isto que todos devíamos estar a discutir.
Mais uma razão para nem sequer me dar ao trabalho de ir votar no dia das eleições europeias...
"Euro e democracia
Por Stefan de Vylder
(1) e Jack Soifer (2)
In Público 13/03/2014
“A criação do euro foi o maior erro da política económica
pós-guerra. Os países em crise estão num desastre económico, político e humano.
O melhor seria a Alemanha sair do euro. O provável é a saída dos PIIGS,
Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha. Isto é melhor do que a gestão de
crises liderada por uma troika não eleita, odiada pela população da UE.
“Após três anos de recessão, o PIB da zona euro (ZE) parou
de cair. Mas há pouca esperança na economia real, produção e emprego. Nos
países mais afetados, Grécia, Espanha e Portugal, há declínio. O PIB da Grécia
é 25% mais baixo do que em 2007, e não melhora. Na Grécia e Espanha, o
desemprego real supera os 25%.
“O Eurostat diz que em Portugal há 89 candidatos para cada
trabalho; Espanha, 71; Irlanda, 31. O custo do trabalho cai, mas o total
aumenta. É o custo de contexto, de energia, cartéis, taxas e da burocracia
fiscal que faz o dono de PME perder tempo, em vez de vender mais. O pacote da
troika reduziu salários, pensões e subsídios, o que afetou a procura interna e
não só.
“Os efeitos do desemprego jovem são difíceis de medir. Não
entrar no mercado de trabalho, ou aceitar emprego não qualificado sem benefício
da sua formação, é perda humana e económica. A qualificação hoje é perecível.
Jovens qualificados de Espanha e Portugal saem para as ex-colónias na América
Latina e África, e de todos os países em crise para a Alemanha, Reino Unido,
Suécia e Noruega. É o brain-drain. Em 2013 saíram de Portugal 121 mil técnicos
e especialistas. Dos enfermeiros formados em 2012 e 2013, 90% estão a emigrar.
“A natalidade nos PIIGS caiu muito; na Itália, Espanha,
Portugal e Grécia, é hoje de 1,5 filhos/mulher. Isto é um alívio económico a
curto prazo, mas com mais idosos crescem os gastos com saúde e pensões.
“À crise seguem problemas sociais. Depressão e suicídio
tornaram-se comuns, e na Grécia duplicou a taxa de suicídio, que antes tinha a
mais baixa da UE. Na Grécia e Espanha vimos os direitos democráticos reduzidos.
O Governo espanhol propôs a Ley de Seguridad Ciudadana, que criminaliza
reuniões ilegais e insultos à Espanha.
“Pode-se evitar ciclos de choque assimétrico nos
países-membros. Como mobilidade de trabalho dentro e entre países, convergência
de inflação e produtividade, preços e salários, uma política fiscal comum que
permita apoio aos países em crise, e garantias unas aos depositantes, para
evitar a fuga de capital.
“Nem todos estes requisitos precisam de ser cumpridos. Mas a
UME não cumpre nenhum deles. Não houve, no início, um plano de emergência, mas
sim a proibição de apoio financeiro aos países em crise e do BCE comprar
títulos diretamente dos governos.
“A gestão da crise é emergencial, decidida no momento, sem
ouvir os parlamentos eleitos, e num turbilhão de regras exclusivas da UME.
Resolvem a crise no curto prazo, e ignoram os problemas do futuro.
“A taxa comum na UME aumentou as bolhas imobiliárias em
países como a Irlanda e Espanha. Na Grécia e em Portugal os juros baixos e o
euro-otimismo provocaram um consumo privado e público insustentável.
“A taxa comum traz um efeito pró-cíclico, i.e., estimula a
economia dos países em boom, e aperta os em recessão. Quanto maior for a
inflação num país, e quanto mais a economia precisa de abrandar, menor a taxa
real de juros. E vice-versa, quando a economia deve ser estimulada. É a
perversidade inerente a uma união monetária.
“Cresce o diferencial das taxas de juros entre os países na
periferia da ZE e os centrais em torno da Alemanha. Apesar de o BCE emprestar a
todos os países à uma taxa baixa, a que as empresas e as famílias pagam é alta.
“Os países com boa economia têm hoje taxas menores do que
antes da crise. A liquidez nos seus bancos subiu com a fuga de capitais dos
PIIGS. Estes tomaram emprestado a juros baixos, o que baixou a competitividade.
Entre 1999 e 2008, o custo por unidade nos PIIGS subiu 20-35% em relação à
Alemanha.
“Seria bom acordar num sábado e ouvir que alguns países
saíram do euro e as bolsas e bancos do mundo estão fechados; que já existem
novas notas e reprogramaram as caixas eletrónicas. Ouvir que o FMI, BCE e
bancos centrais nacionais da UE impuseram controlo temporário à banca e apoiam
o acesso à moeda estrangeira em alguns países.
“Mas nenhum chanceler alemão quer ir para a história como
aquele que afundou o euro. Muito prestígio político foi investido. A exportação
alemã beneficiou dos países em crise, com a taxa de câmbio baixa. O operário
alemão merece que valorizem o marco, que traria um melhor salário real; isso
equilibraria a competitividade externa na UE.
“A valorização do euro com economias fortes é péssimo para
quem tem dívidas em euro. Os PIIGS não podem pagá-las. São valores em relação
às suas economias maiores do que as reparações alemãs do pós-guerra. A
alternativa é abater a dívida em 50% e alongar o prazo para 50 anos. Outra é
trocar parte da dívida em crédito a longo prazo e juros do BCE para adquirir
bens e serviços nos PIIGS, o que elevaria a competitividade empresarial
destes”.
1 .Ex-presidente do Fórum Sueco de Desenvolvimento, autor de
uma vintena de livros em inglês e sueco, ex-professor da Stockholm School of
Economics;
2 . Consultor internacional, autor dos livros Como Sair da
Crise, Portugal Rural e Ontem e Hoje na Economia
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