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sábado, 18 de abril de 2020

As “Comemorações” que alimentam a demagogia fanática


Confesso que, inicialmente, também fiquei perplexo quando vi anunciada a realização das comemorações do 25 de Abril e do 1º de Maio.

Pela forma como a notícia foi dada e depois comentada, parecia que íamos ter desfiles de multidões na Avenida e na Fonte Luminosa.

Afinal, tudo não passa de fumaça, lançada pelos do costume, aqueles a quem escrever “25 de Abril” e “1º de Maio” na mesma frase provoca logo um ataque de comichão pelo corpo todo, faz saltar para a frente o braço direito e impede qualquer forma de raciocínio lógico.

Reconheço que a comunicação dessa decisão não foi feita de forma correcta e transparente, dando argumentos a uma certa  direita ressabiada e tristonha com a  forma competente como a presente crise tem sido, até hoje, conduzida pelo governo de Costa e que encontrou agora pretexto para dar prova de vida.

A santa aliança de saudosos do “passos ceolhismo/cavaquismo” ou mesmo do “salazarismo”, juntando-se a todo o tipo de  “neoliberais”, “neoconservadores” e “populistas de extrema direita”, exultou com a oportunidade.

Contudo, analisando a realidade, pelo menos a que é conhecida, todo o argumentario dos ditos cujos cai pela sanita abaixo.

Primeiro argumento da “santa aliança” : “aqui d’el rei que vamos ter 300 velhos juntos na mesma sala”, isto é, deputados da Assembleia da República.

A esquerda, maioritária nessa sala, agradece a preocupação com a sua “saúde”, mas a história não está bem contada.

Em primeiro lugar, apenas vai estar presente um número reduzido desses deputados, e um número ainda mais reduzido de convidados isolados nas galerias. Aqui concordo com o deputado da Iniciativa Liberal, talvez bastasse a presença de um representante de cada partido com assento no Parlamento, mais como exemplo do que por qualquer perigo sanitário que não existe, tal como não tem existido nas várias ocasiões em que o Parlamento se tem reunido durante a crise para tomar decisões, porque, é bom recordar, a democracia não foi suspensa.

Aliás, aqui, se estivessem de boa fé, o argumento até podia ser o inverso: porque é que os deputados não estão a trabalhar regularmente, ao contrário dos muitos portugueses que continuam a trabalhar para salvar, curar, alimentar, proteger e apoiar outros portugueses nas suas mais básicas necessidades?

Segundo argumento da “santa aliança” : “aqui d’ el rei que os portugueses não puderam comemorar a Páscoa e não podem comemorar o 13 de Maio em Fátima e podem comemorar o 25 de Abril e o 1º de Maio”.

Também esse argumento cai por terra, porque não estamos a falar exactamente da mesma coisa.

Em primeiro lugar não se proibiu ninguém de comemorar a Páscoa, proibiu-se as deslocações em massa do estrangeiro para Portugal e dentro do país, no momento do pico da crise na Europa e por cá.

Que eu saiba, as comemorações do 25 de Abril na Assembleia da República e as comemorações previstas para o 1º de Maio não implicam as deslocações em massa de tipo idênticas às da Época Pascal.

Nem vamos ter velhotes a beijar a mesma cruz!!!

Aliás, muitos párocos e bispos realizaram as liturgias nas Igrejas, sem público, tal como vai acontecer na Assembleia da República com o 25 de Abril. Também não vai estar público, apenas um reduzido número de entidades oficiais.

O mesmo risco de deslocação em massa é o que existe para as comemorações do 13 de Maio, já que este não se comemora só com os habitantes de Fátima.

Em segundo lugar, as comemorações católica são organizadas pela Igreja e a decisão e a  forma de as organizar cabe à sua hierarquia, já que vivemos num Estado laico.

Penso mesmo, por aquilo que sei das ditas “comemorações”, que tudo vai implicar menos gente, (respeitando a distancia social ou usando máscaras, numa praça ou junto a um lugar simbólico), do que aquela que ontem esteve às entradas dos hospitais a cantar o hino nacional, numa justa homenagem a auxiliares, enfermeiros e médicos, atitude que não vi ser condenada ( e ainda bem, pois seria ainda mais ridículo) , pois os argumento seriam os mesmos.

Situações de crise como a que estamos a viver é propícia ao fanatismo, à má-fé, à presunção ignorante e à demagogia populista.

Contudo, esperemos que não sejam os políticos e os sindicatos a alimentar esse clima com atitudes irreflectidas e irresponsáveis na escolha da melhor maneira para comemorar o 25 de Abril e o 1º de Maio.

Pela minha parte, porque procuro que o espírito do 25 de Abril e do 1º de Maio sejam comemorados todos os dias, comemoro essa data aqui em casa e espero ver as televisões, a Assembleia da República e os sindicatos a dignificar a comemoração dessas datas.

1 comentário:

Anónimo disse...

Parabéns Venerando, escreves sempre de uma forma tão clara e agradável de se ler.Beijinhos
Viva o 25 de abril
Isabel Tavares