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quinta-feira, 9 de abril de 2020

Leituras da Quarentena : A Morte Não É Prioritária – uma biografia de Manoel de Oliveira



Acabei de ler, há uns dias, o meu primeiro livro da “Quarentena”, a mais recente e completa biografia do cineasta Manoel Oliveira.

Da autoria de Paulo José Miranda, a obra tem um sugestivo título, “A Morte Não É Prioritária”, tendo em conta que o cineasta faleceu com 106 anos, passou a dedicar-se a tempo inteiro à realização com 70 anos, idade a partir da qual realizou mais de vinte filmes e se consolidou como um dos mais importantes cineastas da história do cinema.

A sua vida, aliás, atravessou quase toda história da 7ª arte.

Tendo-se iniciado no cinema documental, com o fabuloso “Douro, FainaFluvial” de 1931, só realizou duas longas metragens de ficção antes do 25 de Abril, o icónico Aniki-Bóbó, de 1942, e o pioneiro, na história do chamado novo cinema português, O Passado e o Presente, em 1972.

Marginalizado pelo regime antes do 25 de Abril, deve ao movimento cineclubista a divulgação e apoio na realização dos seus importantes filmes documentais e das suas primeiras obras.

Infelizmente nunca vi a maior parte da sua cinematografia, a não ser alguma da mais antiga, como os filmes acima citados, sendo o Aniki-Bóbó uma referência na minha memória cinematográfica da juventude.

Da cinematografia mais recente, apenas vi “Benilde e Virgem Mãe” (1975), “Amor de Perdição” (1978) e partes de “Francisca” (1981).

O mais recente filme de Manoel Oliveira que vi foi “A Caixa”, de 1994, um dos melhores filmes da minha vida, pela forma irónica como trata a Lisboa popular, uma história adaptada do teatro passada nas escadinhas de S. Cristovão, entre a Rua da Madalena e a Mouraria, filmado em 1993 com Beatriz Batarda e Luís Miguel Cintra nos principais papéis.

Todos os  poucos filmes que vi de Manoel de Oliveira revelaram-me um autor criativo, irónico e inovador, com momentos de grande beleza estética, exactamente o contrário da imagem que muitos cultivaram de um autor “chato” e “monótono”.

Para além de toda a riqueza biográfica de Manoel de Oliveira, só por si dignas de entusiasmar os leitores, o livro acompanha também a forma como a história de cem anos de cinema influenciou o cineasta.

O melhor elogio que posso fazer ao autor da biografia, é a de que fiquei com uma enorme vontade de ver e rever toda a obra cinematográfica de Manoel de Oliveira, dentro das possibilidade de quem vive na “província”, longe de uma programação de cinema de qualidade e não meramente comercial.

Aqui fica, pois, uma sugestão de leitura para este período de quarentena.

A propósito, podem ver AQUI, AQUI e AQUi o que escrevemos e publicamos neste blog, noutras ocasiões, sobre Manoel de Oliveira.

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