Acabei de ler, há uns dias, o meu primeiro livro da “Quarentena”, a
mais recente e completa biografia do cineasta Manoel Oliveira.
Da autoria de Paulo José Miranda, a obra tem um sugestivo título, “A
Morte Não É Prioritária”, tendo em conta que o cineasta faleceu com 106 anos,
passou a dedicar-se a tempo inteiro à realização com 70 anos, idade a partir da
qual realizou mais de vinte filmes e se consolidou como um dos mais importantes
cineastas da história do cinema.
A sua vida, aliás, atravessou quase toda história da 7ª arte.
Tendo-se iniciado no cinema documental, com o fabuloso “Douro, FainaFluvial” de 1931, só realizou duas longas metragens de ficção antes do 25 de
Abril, o icónico Aniki-Bóbó, de 1942, e o pioneiro, na história do chamado novo
cinema português, O Passado e o Presente, em 1972.
Marginalizado pelo regime antes do 25 de Abril, deve ao movimento
cineclubista a divulgação e apoio na realização dos seus importantes filmes
documentais e das suas primeiras obras.
Infelizmente nunca vi a maior parte da sua cinematografia, a não ser
alguma da mais antiga, como os filmes acima citados, sendo o Aniki-Bóbó uma
referência na minha memória cinematográfica da juventude.
Da cinematografia mais recente, apenas vi “Benilde e Virgem Mãe” (1975),
“Amor de Perdição” (1978) e partes de “Francisca” (1981).
O mais recente filme de Manoel Oliveira que vi foi “A Caixa”, de 1994,
um dos melhores filmes da minha vida, pela forma irónica como trata a Lisboa popular,
uma história adaptada do teatro passada nas escadinhas de S. Cristovão, entre a
Rua da Madalena e a Mouraria, filmado em 1993 com Beatriz Batarda e Luís Miguel
Cintra nos principais papéis.
Todos os poucos filmes que vi de
Manoel de Oliveira revelaram-me um autor criativo, irónico e inovador, com
momentos de grande beleza estética, exactamente o contrário da imagem que
muitos cultivaram de um autor “chato” e “monótono”.
Para além de toda a riqueza biográfica de Manoel de Oliveira, só por si
dignas de entusiasmar os leitores, o livro acompanha também a forma como a história
de cem anos de cinema influenciou o cineasta.
O melhor elogio que posso fazer ao autor da biografia, é a de que
fiquei com uma enorme vontade de ver e rever toda a obra cinematográfica de
Manoel de Oliveira, dentro das possibilidade de quem vive na “província”, longe
de uma programação de cinema de qualidade e não meramente comercial.
Aqui fica, pois, uma sugestão de leitura para este período de
quarentena.
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