Todos os momentos têm as suas “frases batidas”, como diria o Sérgio
Godinho, uma espécie de novilíngua orwelliana.
Entre as do momento, duas destacam-se : a de que isto é “uma Guerra” ou a de que “estamos
todos no mesmo barco”.
Ambas não passam de falácias propagandísticas, politicamente correctas
e com duvidosas intenções.
Mentiras que, várias vezes repetidas, se tornam em mentiras aceitáveis,
para nos preparar para o que alguns andam a cozinhar para nos impor no período
pós-Covid.
Isto não é uma Guerra, porque numa guerra são cidades inteiras que
ficam em ruínas, fábricas em chamas e improdutivas e campos minados e
incultiváveis, com milhões de mortos e inválidos.
Quando isto acabar, as cidades, os campos e as fábricas vão continuar
intactas, prontas para a actividade normal e as pessoas, apesar dos doentes e
mortos, aí estão prontas a trabalhar, consumir, e viver o dia a dia.
O que muitos comentadores, políticos e economistas pretendem, com o uso
e abuso do termo ”Guerra” para definir o combate à epidemia é levar-nos a
aceitar um Estado de Excepção no futuro da reorganização económica e social,
uma versão actualizada e musculada do velho slogan de “ir além da Troika”.
Para sobrevivermos a uma Guerra aceitamos tudo, até o fim da liberdade,
os sacrifícios económicos, até a própria pobreza.
Assim, todos aceitaremos uma austeridade que poupe os do costume à
custa do sacrifício da maioria se acreditarmos que isto é uma “Guerra”.
Talvez, por causa da invocação da “Guerra”, também tanto se oiça falar
em “Plano Marshall”, uma invocação em vão, de um plano que, de facto, não
existe na cabeça de quem mais o invoca, os líderes actuais das instituições
financeiras.
Por aquilo que se sabe, das promessas avançadas por essas instituições,
apesar da fumaça das dezenas de zeros,
tudo não passa, por enquanto, de meras promessas, desconhecendo-se a forma de as
aplicar e, pior ainda, a forma de as pagar, mas tudo aponta para que, na melhor
das hipóteses, tudo não passe de uma “bazuca” contra a “Guerra” às
consequências do COVID-19, quando o que
se precisa é de um verdadeiro Plano Marshall , isto é, uma “bomba atómica” para
enfrentar a crise social e económica de dimensões bíblicas que se avizinha.
A outra falácia do momento é a de que “estamos todos no mesmo barco”.
Quanto muito, como alguém me fez notar, estamos no “mesmo mar”, mas “navegando”
em barcos diferentes.
Uns enfrentam o mar agitado do COVID 19 num “barco a remos”, outros de “traineira”,
outros de “iate” ou de “navio de cruzeiro” (passe a ironia), uns de “porta
aviões” e outros de “insuflável” (como os
esquecidos migrantes do Mediterrâneo), alguns apenas agarrados a uma simples bóia de salvação, ou nem isso, apenas a nado.
Uma coisa que esta crise trouxe ao de cima foram as tremendas desigualdades
da condição humana para enfrentar os muitos perigos que uma economia predadora
e destrutiva do meio natural colocam à própria sobrevivência do Homem.
Só um novo paradigma social e
económico é que pode evitar a catástrofe social que se avizinha e não mais a
velha receita “austoritária”.
O mundo da especulação financeira não pode, mais uma vez, sair vitorioso à custa da Humanidade.
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