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sexta-feira, 3 de abril de 2020

As ruas do (quase) silêncio.


Mais uma vez a realidade volta a ultrapassar a ficção, embora muito daquilo a que estamos a assistir já fizesse parte da alguma dessa ficção.

Sociedades em pânico por causa de um vírus que se dissemina rapidamente pelo mundo, cidades vazias, desorientação dos políticos, televisões em directo dias seguidos, o caos da fuga para o campo (como vemos na Índia), rostos cobertos de máscaras como zombies , ruas onde o único som é os dos pássaros e invadidas por animais selvagens,  ocupando o lugar dos humanos… nada disso era totalmente desconhecido na ficção mas nunca tínhamos vivido essa realidade.

O silêncio, apenas recortado por um ou outro carro que passa pelas ruas, torna-se pesado quando desço à rua para passear as minhas duas cadelas, no vasto espaço verde, agora desértico, frente à “Madeira Torres”.

No relvado da Madeira Torres apenas se ouvem os pássaros, ao princípio as rolas e os melros dominavam a banda sonoro, acompanhados pelos pulos das “alvéolas”, agora aparecem os pintassilgos e um a série de trinados de pássaros desconhecidos camuflados nas árvores e na relva. As andorinhas que apareceram por aqui pelo carnaval, desapareceram misteriosamente.

As cidades vazias, situação tanto mais fantasmagórica e intrigante quanto maiores são as cidades, como vemos na televisão, fazem-nos recordar o filme  “Eu sou a lenda”, a história do último homem na terra , sobrevivente de um vírus que tornou os humanos em zombies nocturnos, deambulando pelas ruas vazias de Nova Iorque, ou, numa versão mais soft, o robot “Wall.E”, sozinho no mundo.

Mais realista, recordamo-nos da célebre bomba de neutrões, inventada durante a Guerra Fria, com o objectivo da “apenas” matar humanos, deixando as cidades intactas, ou aquela série da National Geographic que pretendia mostrar como seria a terra se os humanos desaparecessem de repente, sobrevivendo apenas animais e plantas.

Para já, é  o belo som dos pássaros e o azul do céu, abafado antes pelo barulho de gente e automóveis, ou por aviões poluentes, que se vai afirmando no horizonte, única realidade que vai deixar saudade quando tudo voltar à normalidade.

São as ruas silenciosas, uma das memórias que vai ficar destes estranhos tempos!

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