Mais uma vez a realidade volta a ultrapassar a ficção, embora muito
daquilo a que estamos a assistir já fizesse parte da alguma dessa ficção.
Sociedades em pânico por causa de um vírus que se dissemina rapidamente
pelo mundo, cidades vazias, desorientação dos políticos, televisões em directo
dias seguidos, o caos da fuga para o campo (como vemos na Índia), rostos cobertos
de máscaras como zombies , ruas onde o único som é os dos pássaros e invadidas
por animais selvagens, ocupando o lugar
dos humanos… nada disso era totalmente desconhecido na ficção mas nunca
tínhamos vivido essa realidade.
O silêncio, apenas recortado por um ou outro carro que passa pelas
ruas, torna-se pesado quando desço à rua para passear as minhas duas cadelas,
no vasto espaço verde, agora desértico, frente à “Madeira Torres”.
No relvado da Madeira Torres apenas se ouvem os pássaros, ao princípio
as rolas e os melros dominavam a banda sonoro, acompanhados pelos pulos das “alvéolas”,
agora aparecem os pintassilgos e um a série de trinados de pássaros
desconhecidos camuflados nas árvores e na relva. As andorinhas que apareceram
por aqui pelo carnaval, desapareceram misteriosamente.
As cidades vazias, situação tanto mais fantasmagórica e intrigante
quanto maiores são as cidades, como vemos na televisão, fazem-nos recordar o
filme “Eu sou a lenda”, a história do
último homem na terra , sobrevivente de um vírus que tornou os humanos em
zombies nocturnos, deambulando pelas ruas vazias de Nova Iorque, ou, numa
versão mais soft, o robot “Wall.E”, sozinho no mundo.
Mais realista, recordamo-nos da célebre bomba de neutrões, inventada
durante a Guerra Fria, com o objectivo da “apenas” matar humanos, deixando as
cidades intactas, ou aquela série da National Geographic que pretendia mostrar
como seria a terra se os humanos desaparecessem de repente, sobrevivendo apenas
animais e plantas.
Para já, é o belo som dos
pássaros e o azul do céu, abafado antes pelo barulho de gente e automóveis, ou
por aviões poluentes, que se vai afirmando no horizonte, única realidade que
vai deixar saudade quando tudo voltar à normalidade.
São as ruas silenciosas, uma das memórias que vai ficar destes
estranhos tempos!
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