Ontem foi um dia “mágico” para direita portuguesa ou, parafraseando o
título de uma notícia do Público de hoje, a Direita “inchou” com o “ralhete de
Marcelo ao Governo”.
O dia começou com todos os jornais exibindo, a toda a largura da
primeira página, fotografias do presidente, com frases descontextualizadas da
sua intervenção, ameaçando o governo, como se estivéssemos perante um golpe de
Estado.
Pouco tempo depois foi anunciada a demissão da Ministra da
Administração Interna.
Veio-se a saber durante o dia que a maior parte dos jornalistas já sabia da demissão da ministra ainda antes da intervenção de Marcelo, mas
retiveram a notícia, para dar a idéia que aquela demissão era uma
consequência directa da intervenção do presidente, até porque, perante essa
notícia, seriam obrigados a alterar a primeira página, retirando impacto à
abusiva interpretação que quiseram fazer do discurso do presidente.
Menos de uma hora depois de se saber da demissão da ministra, caia a
notícia de que as armas de Tancos tinham aparecido, sabendo-se, mais tarde, que a
Policia Judiciária , que investigava o caso, só foi informada daquela
descoberta depois das armas terem sido retiradas do local onde estavam, e
depositadas novamente em Tancos.
Essa foi uma notícia que também era conveniente que só se conhecesse
depois da demissão da ministra!
Mas o dia perfeito para a direita portuguesa não se ficou por aqui.
Pouco depois, começou a ganhar impacto, nas redes sociais, uma
convocatória feita no dia anterior para uma manifestação de uma “maioria
silenciosa” “contra os incêndios”, que já tinha sido ensaiada na noite
anterior.
Contudo, sabe-se que essa convocatória não é tão inocente como isso. O
Próprio Público, na sua edição de ontem, referia, numa noticia convenientemente “escondida”
numa pequena caixa de texto, que, por detrás da manifestação da noite anterior
estava um site não identificado e outro ligado a gente do PSD próxima de Passos Coelho. Ao longo do dia soube-se
mais sobre quem está por detrás da convocação dessa manifestação, marcada para
o próximo Sábado: figuras ligadas a Passos Coelho.
Para além da sessão parlamentar de ontem, onde a direita, com todo o
oportunismo e falta de vergonha que a tem caracterizado nos últimos tempos, aproveitou
para desancar no governo e anunciar formalmente a apresentação de uma moção de
censura, deu-se a aparição de um Passo Coelho rejuvenescido, desaparecido de
circulação desde que anunciou que não se recandidatava à liderança do partido,
mas agora em posse de quem não está de partida. A partir de ontem é caso para
dizer a Santana Lopes e Rui Rio que se cuidem.
Na minha opinião, esta foi a ocasião esperada por Passos Coelho para
criar uma “vaga de fundo” que o reconduza à liderança do PSD….a ver vamos!!
Mas também, no meio da sua euforia, a direita deu alguns tiros nos pés, pois forçou muita gente a
investigar, descobrir e recordar leis, medidas politicas na área do ordenamento florestal e do território que conduziram ao desastre
ambiental que potenciou a tragédia a que assistimos no Domingo, leis e medidas
essas assinadas , entre outras, pelo próprio Passos Coelho e por Assunção
Cristas (ver AQUI e AQUI).
Além disso, o momento eufórico em que vive a direita, põe em causa a
desejada conciliação nacional e acordo de regime, defendidas pelo Presidente, para
levar para a frente as necessárias e verdadeiras reformas estruturais nas áreas
da prevenção e combate a incêndios e um profundo e urgente ordenamento
florestal e do território.
Tudo isto contribui para fazer esquecer quem esteve por detrás dos “atentados
terroristas” de Domingo, bem como passou para segundo plano a descoberta do
envolvimento de gente próxima de Passos Coelho na “operação marquês”, noticia
também conhecida ontem.
António Costa está a passar a sua verdadeira prova de fogo, e terá de
agir rapidamente, pondo em prática as reformas propostas pelas comissões que
analisaram os incêndios deste ano e encontrando a melhor forma de as financiar.
A direita, essa, já ameaçou que vai continuar a boicotar a acção do
governo e a aproveitar todas as tragédias que venham a acontecer, mesmo que
muitas delas sejam a consequência lógica de anos de cavaquismo e de políticas
de austeridade.
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