Nada como uma canção ou um musico para nos avivar a memória e viajar no tempo.
Quando, há alguns meses atrás, vi na televisão o anuncio televisivo do
concerto de Charles Aznavour em Portugal, que teve lugar no passado Sábado no
Meo Arena, dois pensamentos me ocorrerem, o primeiro de espanto, pois pensava
que Aznavour já não era vivo, muito menos que ainda dava espectáculos, o segundo
levou-me à infância e às tardes de verão na piscina do Vimeiro, na Maceira.
De facto, não posso recordar esses dias de verão passados à beira da
piscina do Vimeiro, localizada na Maceira, sem os associar ás canções de
Aznavour, que se repetiam até à exaustão, como fundo musical que animava aquele
espaço.
Nessa altura, nos idos dos anos 60 do século passado, a rádio era o
principal meio de comunicação que nos acompanhava durante o dia, pois a
televisão, dando ainda os primeiros passos em Portugal, apenas iniciava as suas
emissões no final da tarde, encerrando à meia-noite.
E na rádio de então, para além da musica portuguesa, entre o fado e a chamada
musica ligeira e romântica, apelidada também, com algumas injustiças, de
nacional cançonetismo, apenas se ouviam canções espanholas, italianas e
francesa. Os temas em inglês eram raros, quanto muito um Frank Sinatra, um Louis Armstrong ou algum tem de filme
famoso.
Entre os músicos franceses mais divulgados estava o nosso Aznavour. Pessoalmente
nunca foi dos meus autores franceses preferidos, e só me recordaria dele depois
de citar um Reggiani, um Férre, uma Piaf ou um Brel.
Mas são dele algumas das canções que mais me ficaram no ouvido, muito
por culpa do ambiente musical que passava repetidamente na piscina do Vimeiro,
que eu frequentava regularmente no Verão.
O meu pai era amigo do “Ferreira do Vimeiro”, que era, como se diria
hoje, o “CEO” da Empresa das àguas do Vimeiro que geria também as piscinas na
Maceira e o Hotel Golf Mar em Porto Novo.
Aliás, as àguas do Vimeiro e as suas piscinas não se localizam no
Vimeiro, uma aldeia do concelho da Lourinhã, mas na aldeia vizinha da Maceira, pertencente já
ao concelho de Torres Vedras.
A escolha do nome “Vimeiro” foi uma questão de marketing, por causa da
célebre batalha das Invasões Francesas.
Voltando ao “sr. Ferreira”, este oferecia ao meu pai e à sua família,
durante o verão, entradas grátis na piscina, que eu me lembro de frequentar
desde muito pequeno. Penso, aliás, que foi lá que aprendi a nadar.
A viagem de Torres Vedras era uma aventura, nas camionetas do “João
Henriques”, outras vezes era uma aventura, num dos coupés do “sr. Ferreira” que
muitas vezes era quem me levava ao “Vimeiro”.
O “Ferreira do Vimeiro”, era um homem bonacheirão, que, para além de
ser um grande amigo do meu pai, homem da oposição e fumador impulsivo de pequenas
cigarretes pretas de cheiro intenso e de cachimbo, era um entusiasta por livros
e possui a maior biblioteca privada do concelho, pelo menos a maior que eu
conheci, numa escritório imenso, em forma circular, com vários andares e com
estantes rodeadas de varandins na sua imensa vivenda do Amial, perto do Ramalhal.
Essa biblioteca, bem como todos os elementos da sua família, tiveram
destinos trágicos depois da sua morte, mas isso é outra história, que se
confunde com rumores sobre a sua vida de juventude, ligada ao vício pelo jogo,
que teria destruído a fortuna da família, e a sua paixão por mulheres.
Quando o conheci já era um homem que se tinha refeito desse passado e ,
como braço direito dos donos das àguas do Vimeiro, ganhava bem para a época,
investindo muito em livros e em carros, bem como nas amizades que cultivava.
Tudo isto a propósito de Aznavour e das suas canções que se faziam
ouvir até à exaustão durante os dias de verão na piscina do “Vimeiro”.
Anos mais tarde, depois da morte do meu pai, o “sr. Ferreira” deu-me um
emprego sazonal, durante a época de verão da piscina do Vimeiro, em 1976, como
forma de apoiar economicamente a minha família numa fase complicada.
A minha função era a de vigilante/salva-vidas, embora não houvesse
muito para salvar naquelas piscinas. Por vezes ficava na bilheteira a
substituir o velho porteiro, e era esse o momento mais esperado pelos míudos que
estavam hospedados numa espécie de campo para “retornados”, pois eu
facilitava-lhes a entrada. Mas, também nessa altura cabia-me a função de por a
musica ambiente na piscina e foi então que descobri a razão de só se ouvir
Aznavour.
É que só havia uma velha cacete, um cartucho maior que as cassetes
vulgares de então, que reunia os êxitos de Aznavour. Claro que tentei alterar a
situação, colocando musica rock, mas sem êxito, devido às queixas dos mais
velho que frequentavam a piscina.
Então lá tive de repor o velho Aznavour, e, desde então até hoje, nunca
mais o ouvi, pelo menos com a frequência de então.
Não sei se foi o "sr. Ferreira" que comprou aquela cassete para passar no circuito sonoro da piscina, mas se o fez, quero acreditar que o fez porque aquelas cancões lhe recordavam os seus tempos de jovem boémio.
1 comentário:
Eu nas piscinas do vimeiro
não ouvia Aznavour, já era 80's, mas no meu gravador portátil a pilhas ouvia-se cassetes com Ac/DC, pink floyd, super tramp, simon and Garfunkel, as da época. Mas a saudade é mesmo da piscina e dos momentos que proporcionou à maioria dos torreenses, esse sentimento devia ser respeitado de forma particular ou pública
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