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segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Eu também sou israelo-palestiniano!


Em mais de meio século que levo de vida, foram muitos os acontecimentos e as mudanças. Houve contudo três situações que ainda não mudaram: o reinado de Isabel II, o regime castrista de Cuba e o conflito Israelo-palestiniano.
É sobre este último que gostava de tecer algumas considerações.
Nasci a ouvir falar no Holocausto, assunto quase tabu no regime salazarista, mas muito presente entre os opositores ao regime, como era o caso do meu pai.
Inicialmente, a existência de Israel foi vista como um direito que um povo perseguido ao longo da história (em Portugal queimavam-se judeus há pouco mais de dois séculos) ter a uma terra onde vivesse em paz.
As grandes conquistas de Israel, conseguindo tornar-se num dos países mais desenvolvidos no meio de um território quase desértico, eram vistas cá por casa como grandes avanços da humanidade.
Ainda me recordo do orgulho com que exibia as minhas caricas (tampas de garrafa) israelitas que uma tia-avó minha tinha trazido de uma sua viagem a Jerusalém.
Contudo, como em todas as imagens idílicas que se constroem de países, regimes ou ideologias, na década de 60 a imagem que tínhamos de Israel esboroou-se.
Descobriu-se que aquele Estado tinha sido construído lançando os palestinianos na miséria, roubando-lhes a terra e, em muitos casos, a vida.
E aqui a história começa a complicar-se, recordando-nos aquela máxima de Bertolt Brecht : ao rio que tudo arrasta, chamamos violento, mas ninguém acusa a violência das margens que o comprimem.
A revolta palestiniana transformou-se, em muitos casos, em puro terrorismo. Mas o ocidente, apressando-se a condenar (e bem) tais actos esquecia-se frequentemente de dois factos: foram os Israelitas os primeiros a recorrer ao terrorismo, no início da sua formação, contra as tropas britânicas e os palestinianos; os sucessivos governos de Israel recorriam, com muita frequência, ao terrorismo de Estado, tão ilegítimo como o outro.
Aos longo dos anos foram dezenas as resoluções da ONU nunca cumpridas pelo estado de Israel.
Nos últimos anos a situação agravou-se com a chegada ao poder, nos Estados Unidos, do irresponsável Bush, com o assassinato, por um radical judeu, de Isac Rabin, e com a morte de Arafat (que poucos anos antes tinha escapado ileso à tentativa de assassinato por parte dos Israelitas).
Por sua vez, a corrupção que minou a autoridade palestiniana fez entrar em cena um novo actor, o Hamas, organização fundamentalista, cujo crescimento se deve, em grande parte, ao apoio que os próprios Israelitas lhe deram nos anos 80, com a intenção de minar a influência da OLP.
Neste momento o horror da guerra volta a manchar as terras da Palestina, confrontando-se dois bandos de malfeitores, o actual governo de Israel e o Hamas. Discutir quem começou esta nova escalada é o mesmo que discutir quem apareceu primeiro, se o ovo ou a galinha.
O que não há duvida é que a resposta israelita em Gaza é desproporcionada à realidade e não passa de uma tentativa cínica de aproveitar os últimos dias da presidência Bush, conivente com a situação, naquele que é considerado por alguns analistas como o último crime de Bush.
O que é triste de ver é o exército israelita imitar mais uma vez as velhas tácticas dos exércitos nazis. Ao ver a situação e o cerco a Gaza, só me ocorre o massacre nazi no ghetto de Varsóvia.
O que é triste de ver é o cinismo assassino e desumano do exército Israelita lançando panfletos sobre a Faixa de Gaza, “avisando” as populações da intensificação dos bombardeamentos, população essa que não tem qualquer hipótese de fuga.
O que é triste de ver é alguns cronistas locais, a propósito da hipotética falsidade de fotografias e filmes sobre o sofrimento dos civis palestinianos, querer, com isso, desvalorizar a realidade, como que justificando o real sofrimento das populações civis palestinianas.
O que é triste é ver mais uma vez a inutilidade da diplomacia europeia face a tudo isto.
A posição correcta neste conflito não é apoiar o Hamas ou o Governo israelita, pois ambos fazem parte do problema, são as duas faces da mesma moeda. A posição correcta é condenar a barbárie dos dois bandos e defender o renascimento da ONU na resolução deste problema.
A posição correcta é apoiar as ainda raras vozes que, do lado palestiniano e do lado israelita, clamam por uma solução de paz e tolerância para aquela região e pelo direito de aqueles dois povos poderem viver em paz.
Parafraseando uma célebre máxima, também eu sou um cidadão israelo-palestiniano.

2 comentários:

Joaquim Moedas Duarte disse...

Faço minhas as tuas palavras!
É isso mesmo!

Abraço

Carlos Ricardo disse...

É verdade tudo o que aqui é dito !! Só quem não quer conhecer, estudar e analisar a história desta "guerra" israelo-palestiniana, poderá apoiar Israel, considerando-o vítima de terrorismo quando, em 47 anos da criação do estado de Israel este, apenas subjugou, maltratou, roubou terras e assassinou o povo Palestiniano.
A atitude do Hamas, organização criada e alimentada pelos governos israelitas (como é dito e muito bem no texto), é a mesma que a que se passou em 1961 em Angola (morte de colonos pela UPA) - tentativa de libertação dum povo da dominação implacável dum estado colonialista. Lembro que, este facto ocorrido em 1961 em Angola foi apoiado (e pouco depois com entrega de armamento à UPA e aos outros movimentos de libertação) por uma grande parte dos países europeus e não só que, agora, vêm condenar o HAMAS !!
Muito mais poderia dizer sobre a atitude de Israel contra os Palestinianos mas, para mim, o texto acima diz tudo !! Parabéns ao autor !!