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terça-feira, 18 de abril de 2023

Falar de paz é “estar ao serviço de Putin"??


..tanta gente “ao serviço de Putin”!!!: Guterres, o papa Francisco, Macron…e agora Lula!

Não deixa de ser curioso o terrorismo intelectual exercido pelas redes socias, pelos “comentadeiros” televisivos ou pela maior parte da classe política, sobre aqueles que acham que a paz é a melhor solução para acabar com uma guerra criminosa e mortífera, como aquela que está a decorrer na Ucrânia.

Defender a paz não é negar o direito de justa defesa de um povo agredido, nem o de levar a tribunal os responsáveis pelos crimes de guerra cometidos (de ambos os lados), nem o de condenar publicamente quem violou o direito internacional ao invadir um país soberano.

Contudo, o objectivo último é chegar o mais rapidamente possível a uma situação negociada que conduza à paz no terreno dessa guerra.

Sabemos que existem, na comunidade internacional, dois pesos e duas medidas, como vimos noutras guerras recentes ou que continuam, como na questão palestiniana, na destruição da Jugoslávia, na invasão do Iraque e do Afeganistão, na destruição do Líbano, da Síria,  da Líbia, e do Íemen, nas muitas guerras de África, com o desenvolvimento recente registado no Sudão.

Mas o objectivo final deve ser sempre o de obter a paz.

Claro que no caso da Ucrânia a questão é complexa, até porque não se pode beneficiar o infractor russo, residindo aqui uma das dificuldades em obter a paz.

Qualquer paz negociada deve ter no centro os interesses ucranianos em manter e recuperar territórios ilegalmente ocupados pelo invasor, alguns desde 2014.

Mas, com realismo, alguns desses territórios não podem ser recuperados nos anos (ou décadas) mais próximos.

Com realismo, a reconquista total dos territórios ocupados só será possível numa guerra ainda mais violenta, eventualmente com a entrada da NATO nessa guerra, com todas as consequências que isso acarreta para a paz no mundo e, mesmo, para a sobrevivência da vida humana.

Por isso é irrealista que, a curto ou médio prazo, a reconquistar do Donbass ou da Crimeia seja possível sem um banho de sangue, muito pior do que aquele vivido pela Ucrânia até hoje.

Isto não quer dizer que a situação no Donbass ou na Crimeia não tenha de ficar em aberto numa futura negociação, criando condições, quer para a futura autonomia desses territórios no seio do Estado Ucraniano, quer para um futuro referendo onde esses territórios possam decidir democraticamente o seu futuro (regiões autónomas dentro da Ucrânia, repúblicas integradas na Federação Russa ou mesmo a sua independência).

Um referendo desses, com todas as garantias, só pode ocorrer com acordo internacional, envolvendo a ONU, num futuro em que a Rússia tenha abandonado a sua politica imperialista e autocrática, e num futuro em que uma Ucrânia de facto democrática respeita a população russófona do seu território.

Todas essas condições parecem por agora impossíveis, mas tem de ficar em aberto em qualquer futura negociação de paz, sob o risco dessa mesma paz ser de pouca dura.

Por isso, mesmo com ambiguidades, falta de clareza, até de forma desajeitada ou injusta  para com uma das partes, é bom que, no meio do reforço da linguagem bélica dominante, que não vai levar a lugar nenhum, a não ser a mais destruição e sofrimento humano, a grandes negócios com a indústria do armamento, a um futuro cargo chorudo na estrutura da NATO, continuem a existir vozes a falar de paz.

Falar de paz, nos dias de hoje, é cada vez mais um dos últimos actos de coragem e sensatez, no meio do desvario geral provocado por esta guerra criminosa. 

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