Terminei recentemente a leitura de um livro terrível, intitulado
“Sonderkommando”, escrito por Shlomo Venezia.
Esse livro, escrito em forma de entrevista, conduzida por Béatrice
Prasquier, e com prefácio de Simone Veil, é um descrição rigorosa da vida nos
campos de concentração nazis, a maior parte passada pelo entrevistado em
Auschwitz.
Como membro do “sonderkommando”, isto é, do grupo de prisioneiros que
cuidava de todos as actividades relacionadas com a “indústria” da morte
praticada nesse campos da morte, (conduzir os prisioneiros ao extermínio,
enterrar e cremar os mortos, separa os seus bens, limpar os vestígios…) e tendo
sido dos poucos sobreviventes desse grupo, a sua descrição é das mais terríveis
que até hoje li sobre o assunto, e já li (e
vi) muitos livros, documentos e filmes sobre o tema.
Esta livro devia ser de leitura obrigatória para toda a gente,
principalmente pelos “negacionistas” ou por aqueles que procuram relativizar os
crimes nazis ou compará-los com situações que não são comparáveis, quer pela frieza,
quer pela organização burocrática, quer pela irracionalidade do holocausto.
O que mais dói por estes dias é a falta de respeito pelo sofrimento
desses judeus, e não só, que passaram por essa terrível experiência, falta de
respeito que vem de onde menos de devia esperar, do próprio governo judeu de
Israel, ao usar, contra o povo palestiniano, uma crueldade tão abjecta como
aquela que foi praticada pelos nazis, pesem contudo as devidas diferenças de
grau.
A frieza e as justificações dadas pelo governo israelita para matar
civis inocentes entre a população palestiniana deve-nos envergonhar a todos,
não só aqueles, como eu, que acho que o estado de Israel tem direito a existir
em paz, em pé de igualdade com um estado palestiniano, mas também aqueles que,
de origem judaica, tudo deviam fazer para respeitar a memória dos seus
antepassados que sofreram no holocausto.
Claro que o Hamas, não é inocente em todo este processo e que, em
muitos aspectos, se comporta como um mero grupo terrorista. Mas ao actuar como actua, o governo israelita não de diferencia muito desse grupo radical. A
diferença está no grau de violência, o “pequeno” terrorismo do Hamas contra o
“grande” e desproporcionado terrorismo
de Estado do governo de Israel. Há contudo recordar que esse grupo radical só
se expandiu porque, na sua origem, os falcões de Israel o incentivaram a
crescer entre os palestinianos, como forma de fazer contraponto com a OLP e, assim, contribuir para a divisão dos
palestinianos.
Mais uma vez estamos perante o “monstro” que foge ao controle do seu
“criador”.
É urgente que a carnificina seja travada, nem que seja em nome da
memória dos judeus que deram a sua vida pela construção de um Estado onde
pudessem viver em paz e ultrapassar um passado de perseguições violentas.
Os tempos não são para fazer humor, mas muitas vezes um bom cartoon
denuncia melhor a gravidade de uma situação que muitos discursos.
É o caso do conjunto de cartoon´s que seleccionamos para denunciar a
grave situação de se vive em Gaza, incluindo alguns que são de mera propaganda,
de um ou outro lado.
Esperemos que esta selecção possa contribuir para uma reflexão sobre o
que se passa nesse martirizado sitio.
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