O dia de hoje foi marcado pelo inicio de uma greve dos médicos.
A propósito da mesma transcrevemos aqui um texto de Raquel Varela, bem actual e interessante:
Pela nossa Saúde(clicar para ler).
A propósito da mesma transcrevemos aqui um texto de Raquel Varela, bem actual e interessante:
“O Relógio dos Médicos
Por Raquel Varela
Posted on July 1, 2014
“Eu tenho um médico de família. Gosto dele. Não gostava do anterior.
Era mal-encarado, tinha ar de quem tinha acabado de ler uma peça do Ibsen e
queria que eu sofresse com ele. Pedi para mudar, “incompatibilidades
literárias”, expliquei na secretaria. Já lá vão uns anos tenho outro médico.
Vejo-o pouco. Mas quando preciso, com voz paciente, atende-me. Rápido, muito
rápido, é um entra e sai de gente a tarde toda no gabinete dele, velhos, novos,
com crianças ao colo.
“A Organização Mundial de Saúde diz que os médicos têm 15 minutos para
ver cada paciente, e como têm 1800 doentes – leram bem, 1800 – sob a sua
responsabilidade, 15 minutos é uma fartança. Dizia eu que gosto muito do meu
médico de família, desde logo porque faço parte dos seus 1800 filhos, somos uma
grande família. E por isso até já lhe ofereci prendas – a última, e creio que
até hoje a mais valiosa, foram uns morangos biológicos, vinha a comê-los quando
entrei no gabinete dele.
"Comentámos a correr que “o sabor era incomparável”,
disse mal dos pesticidas da Monsanto e ele comentou apressadamente “que
delícia, são mesmo bons, mesmo como antigamente”…mas, ops, já tinham passado 5
minutos. Disse-lhe ao que vinha. Ele viu, preencheu qualquer coisa no
computador, estávamos já nos 13 minutos, o relógio da OMS sempre a contar…
“Se a nova lei for para a frente, contra a qual dias 8 e 9 os médicos
fazem greve, os meus morangos porventura são proibidos, considerados uma
prenda. Para que não se diga o que todos sabemos pretendem ainda calar a voz dos médicos, que
denunciam a erosão dos serviços, com uma lei da rolha.
"O Serviço Nacional de
Saúde sustenta 30% do financiamento dos hospitais privados – Espírito Santo,
Mello, Millennium BCP -, tudo nome de instituições a que associamos
imediatamente pessoas especializadas em tratar-nos da saúde. E são estes os
números oficiais, que estão muito aquém da realidade, porque jamais os privados
vão pagar a formação dos médicos (12 a 14 anos de formação, pagas pelos
contribuintes públicos). Ou seja, com força de trabalho formada, mais de 50% do
dinheiro de facto que entra nesses hospitais privados vem do nosso Serviço
Nacional de Saúde/Orçamento Público.
"Dito de outra forma, há muito que os
hospitais privados tinham ido à falência se não fossem despudoradamente
sustentados por dinheiros públicos. E os meus moranguinhos é que são uma
prenda?”.
Também a propósito dessa greve e da forma como alguma imprensa tratou o tema ao longo do dia de hoje,parece-nos do máximo interesse a leitura do seguinte post do blogue "O País do Burro".
Pela nossa Saúde(clicar para ler).
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