Se fosse viva, Sophia de Melo Breyner Andresen completaria hoje 90 anos.
A sua poesia, mas também a prosa, revelaram sempre uma enorme sensibilidade e humanismo.
Criativa e interventiva, a sua poesia tornou-se intemporal.
Aquela que foi a primeira mulher portuguesa a receber o Prémio Camões, e a quem José Saramago dedicou o seu Prémio Nobel, ao considerar que ela era o único escritor português que teria merecido esse prémio, falecida apenas há cinco anos (em 2 de Julho de 2004), continua actual e inspiradora, como se pode ler no seu poema que escolhemos para evocar esta data:
"AS PESSOAS SENSÍVEIS
As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas
O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra
"Ganharás o pão com o suor do teu rosto"
Assim nos foi imposto
E não:
"Com o suor dos outros ganharás o pão."
Ó vendilhões do templo
Ó constructores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito
Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem".
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