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terça-feira, 3 de novembro de 2009

Viver com música de fundo (a propósito do 25º aniversário do BLITZ)



São títulos como este que nos fazem tomar consciência quanto velhos nós estamos (ou, como diria uma amiga minha, “antigos”…).

Ainda sou do tempo da rádio e do vinil.
Muitos acontecimentos da minha vida estão associados a determinadas canções. Por vezes parece que esta ou aquela música me conduzem, como uma máquina do tempo, a um determinado momento da minha vida.
Um dos primeiros acontecimentos de que me recordo foi o anúncio, na rádio, da morte da Edith Piaf. O rádio e os seus sons acompanharam-me ao longo da infância.

No início da adolescência foi o tempo do vinil. Graças ao meu amigo Mário Rui Hipólito, fiquei a conhecer muito do que mais interessante se fazia no final dos anos 60 e princípio da década seguinte em termos de pop-rock. Hoje o Mário, que é também excelente fotógrafo, especializou-se no jazz.
Depois foi o tempo eufórico de 74/75,com dezenas de espectáculos do chamado “canto livre” e o grupo de amigos onde pontificavam alguns que se aplicavam na aprendizagem da guitarra acústica (para além do Mário Rui, também o “Janeca”, o João Nogueira, hoje prestigiado músico de jazz).
Uma das minhas grades frustrações foi nunca ter aprendido a tocar música, mas, ainda hoje, não consigo passar sem ela.

Quando recebi o meu primeiro ordenado a sério, no princípio dos anos 80, gastei quase tudo a comprar LP’s, chegando a possuir uma grande colecção de vinil, hoje substituída pelos cd’s. Confesso que ainda não aderi aos downloads. Passar para o CD já foi um caso sério, foi perder um contacto quase físico e afectivo com um objecto completo como era o vinil e as capas que o guardavam.

Os anos 80 foram também os anos da aprendizagem na busca de sons inovadores, graças aos programas do Rádio Clube Português em FM, mais tarde Rádio Comercial, que se caracterizavam por serem programas de autor, onde se passavam álbuns completos, onde ainda não tinham chegado as irritantes playlists que hoje dominam a maior parte do espectro radiofónico, no intervalo da publicidade.
Foi nessa altura que apareceu o BLITZ, uma espécie de Bíblia de todos aqueles que gostavam da musica nova, quase experimental, que então se fazia, em ruptura com os doces e sinfónicos anos 70.
Foi também a época em que pude por em prática os meus conhecimentos assim adquiridos, colaborando activamente no movimento das rádios locais. Infelizmente este movimento gerou, com raras excepções, aquilo que é hoje, uma imensa discoteca ambulante, sem originalidade, refém dos top’s e da publicidade, onde apesar de tudo alguns raros continuam a resistir, como é o caso, aqui em Torres Vedras, do Víctor César.

De tudo isto me recordei ao desfolhar esta edição comemorativa do BLITZ, com um conteúdo bastante interessante.
Esta edição percorre 50 anos de música em Portugal, pedindo a um grupo de especialistas para indicarem os melhores trabalhos de cada década. Lá estão o Carlos Parede, o Zeca, o Rui Veloso, e tantos outros que é gostoso recordar.
Duas entrevistas originais com Mariza e David Fonseca, conduzidas respectivamente por Pinto Balsemão e Ricardo Costa, bem como a divulgação de parte do projecto fotográfico “By Invitation Only”, do britânico Simon Fredericck, que passou três meses a fotografar alguns dos maiores nomes da musica portuguesa contemporânea, fazem desta edição do BLITZ um número de culto, a não perder.

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