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sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Gulag - é tudo uma questão de números?



(Desenho de uma prisioneira do "Gulag")

Na edição do Público de hoje Rui Bebiano vem questionar as conclusões de António Vilarigues que, nesse mesmo jornal, em 30 de Outubro, tentava desvalorizar o terror stalinista, baseando-se em novas estimativas sobre os números do Gulag.
Vilarigues baseava-se num estudo do historiador Viktor Zemskov. Este foi um dos primeiros historiadores a aceder aos arquivos dos Gulag, os tristemente “famosos” campos de concentração para “reeducar” dissidentes do regime soviético.
Os Gulag funcionaram entre 1918 e 1956, tendo conhecido o seu período mais negro durante o tempo de Stalin, líder da União Soviética entre 1922 e 1953.
Baseando-se nos dados daquele historiador russo, Vilarigues revela que, entre 1923 e 1953 “apenas” estiveram presos no Gulaga 4 milhões de prisioneiros e destes, “apenas” 800 mil foram fuzilados, muito longe dos disparatados números de Courtois que apontava, com base não científica, e por estimativa, a existência de 17 milhões de prisioneiros, só no ano de 1939.
Courtois tem merecido muita credibilidade, mais pelo seu anti-comunismo primário do que pela seriedade científica dos seus estudos, e por isso os seu números parecem exagerados .
A falta de rigor histórico, muitas vezes, acaba por ter o efeito contrário ao pretendido, contribuindo para que muitos nostálgicos do stalinismo se baseiem no exagero dos números de gente como Courtois para tentarem desvalorizar os crimes cometidos em nome do comunismo.
Pensamos assim que os números de Zemskov, ao reporem parte da verdade, contribuem para manter a certeza dos crimes de Stalin.
Rui Bebiano chama a atenção, de forma pertinente, para o facto de aqueles números não incluírem as deslocações colectivas e as suas vítimas e os muitos prisioneiros não registados.
Segundo dados do próprio regime, os de Beria, após a morte de Stalin, só em 1954 existiam mais de 1 milhão de prisioneiros, e os do célebre relatório de Kruchtchev, indicando que entre 1937 e 1953 foram encarcerados cerca de 11 milhões de pessoas (por razões políticas pode-se considerar que Kruchtchev tinha interesse em enfatizar a situação).


(Distribuição dos Campos de Prisioneiros na União Soviética, nos tempos de Stalin)

A guerra dos números foi iniciada por muitos que procuraram, por razões políticas, comparar Stalin a Hitler.
Contudo, se o regime stalinista ( e o maoista, e o colonialista ocidental da época…)foi um regime sanguinário, politicamente condenável, desrespeitando os Direitos Humanos, anti-social, nada é comparável ao Holocausto nazi.
Também aqui houve tentativas de desvalorizar o horror totalitário hitleriano com base no descrédito de alguns números.
Os regimes e as ideologias devem ser condenáveis para além da guerra dos números. Esta, porque é muitas vezes difícil de comprovar, contribui para desvalorizar a verdadeira natureza dos regimes que estão por detrás dos números.
Ou será, porque em Portugal o salazarismo prendeu e matou “tão pouca gente”, comparativamente com outros regimes ditatoriais e totalitários do século XX, que o Estado Novo é menos condenável e menos criminoso?
Não é tudo “apenas” uma questão de números…

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