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quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Valorizar a Produção e o Trabalho para travar a Corrupção e a Especulação




Na mesma altura em que Bruxelas volta à carga com a história do deficit a 3%, um estudo revela que em Portugal a produtividade é 30% inferior à média europeia.


Já estou a ler e ouvir os comentadores de sempre, o sr. Vítor Constâncio e os “economistas” de serviço: “flexibilização dos horários de trabalho e dos despedimentos”, “contenção salarial”, “os funcionários públicos, pátáti, pátátá…”.

Sempre que vêm à baila esses números, recordo-me de uma conversa que tive com um operário da Casa Hipólito, que tinha trabalhado numa fábrica do mesmo tipo na Alemanha, já lá vão uns trinta anos: “Aqui em Portugal trabalho mais tempo e com mais esforço, mas produzo menos e ganho menos. Na Alemanha, trabalhava menos e menos esforço, mas produzia mais e ganhava mais”.

O problema da produtividade, ao contrário do que defende um certo pensamento troglodita, não se consegue aumentando a cadência do trabalho, à maneira dos “Tempos Modernos” de Charles Chaplin, mas modernizando-a e gerindo-a melhor .
Em Portugal a produtividade esbarra nestes seis vectores : irresponsabilidade dos gestores; baixa qualificação (tendo como consequência os baixos salários); falta de incentivos e de condições de trabalho; subsidiodependência; valorização da especulação sobre a produção; e, principalmente, muito compadrio e corrupção (como está à vista).
Ainda recentemente um outro estudo revelava que, se não fosse a corrupção, os portugueses podiam ter um nível de vida parecido como os dos…filandeses.

Claro que o discurso e as medidas mais fáceis face a esta situação são penalizar o factor trabalho. Aliás, com um dirigente patronal como o sr. Zeller, com ideias medievais sobre o trabalho e as funções “patronais”, é de temer o pior. Em Portugal, infelizmente, temos muitos “patrões” e poucos “empresários”.

Tive a sorte, nas vezes em que trabalhei no privado, de encontrar pela frente empresários que sabiam valorizar e incentivar o trabalho. Mas sei que, infelizmente, esta não é a realidade maioritária.
Recordo-me de um “patrão” suíço que tive, que era o primeiro a tomar a iniciativa de nos “obrigar” a parar o trabalho, para descansarmos e voltarmos com novo alento, que me pagava como hora de trabalho o tempo de deslocação entre a casa e a empresa e que nos tratava de igual para igual, oferecendo-nos o lanche e pagando-me já então, mais do dobro, por hora, daquilo que recebia no ensino.

Na Função Pública o discurso vai ser o de responsabilizar os seus funcionários, duplamente pelo deficit e pela pouca produtividade.
Contudo, a contenção salarial na Função Pública já dura quase há dez anos e a progressão na carreira está praticamente congelada há cinco anos.
Façam-se as contas à percentagem de aumentos salariais na Função Pública nos últimos dez, comparando-a com o aumento do deficit orçamental ao longo dos mesmos anos, e ver-se-á que não é por causa dos salários dos funcionários que o deficit aumenta. Claro que este ano houve um aumento um pouco superior ao normal, mas, mesmo assim, não chegou aos 3%.
O erro está em confundir o salário dos funcionários públicos, dentro do quadro, com aquilo que é pago em pareceres técnicos a gabinetes de advogados, às fundações , a “comissões de estudo” e aos administradores de topo, quase todos de nomeação política, onde serve de exemplo , neste último caso, o que se passou com Armando Vara ou o que se passa no Banco de Portugal com os salários dos seus responsáveis (ou ex-responsáveis).

Veremos até quando vão continuara a atirar areia para os olhos da opinião pública, tentando fazer recair sobre os funcionários públicos o ónus da irresponsabilidade politica e patronal, seguindo a velha estratégia de dividir para reinar e usar a inveja social como arma de arremesso contra os “privilégios” dos funcionários públicos, professores, enfermeiros, médicos….

A solução só pode passar por um novo contrato social que valorize o factor trabalho, que valorize o sector produtivo da economia (em detrimento do especulativo e do financeiro) e que aposte na qualificação.
Sem isso, vamos continuara arrastar-nos na cauda da Europa.

1 comentário:

Carlos Manuel Ribeiro disse...

Meu caro,

Concordo e subscrevo tudo o que diz! Mais, não tenho a menor dúvida que, continuaremos na cauda da Europa por um longo período de tempo...

Contudo, a culpa também é do “Zé povo”! Pois, se os governantes que tivemos até à data, revelaram e revelam, ineficiência e ineficácia no saber governar, então, cabe-nos de uma vez por todas mostrar nas urnas a nossa insatisfação!

E este é um dos pontos fracos do povo português - fala muito e pouco faz!

Abraço,
CR/de