Na grande mentira em que se tornou a campanha eleitoral brasileira,
deixou de haver tempo para pensar.
Entre o chorrilho de mentiras da campanha histérica, a destilar ódio, de
Bolsonaro e dos seus apoiantes, com muitos seguidores em Portugal, vem aquela
de misturar tudo no mesmo saco.
Se Haddad é do PT logo é corrupto, porque Lula está preso, com
acusações, no mínimo ridículas ou que fariam corar de vergonha qualquer juiz
europeu.
Claro que não ponho as mãos no lume pela inocência de Lula ou do PT.
Sabe-se que o PT só pode governar porque teve de fazer cedências aos “establishement”
financeiro e económico brasileiro, para, em troca, tentar combater as gritantes desigualdades
sociais que explicavam o descalabro social brasileiro.
Quem o empurrou para essas cedências foram figuras como Fernando Henriques
Cardoso que, agora, cobardemente, se escondem na “neurtralidade” para deixar passar
Bolsonaro.
Cedendo a essa gente, Lula deixou rabos de palha que acabaram por lhe
ser fatais, num país habituado a funcionar na base da corrupção financeira e económica.
Mas, mesmo assim, o tipo de acusações que apresentam e que o levaram
à prisão são ridículas.
Pior ainda foi a destituição de Dilma, há dois anos, após outros dois
anos em que a impediram de governar, destituição que foi conduzida por
criminosos que acabaram na prisão ainda mais depressa do que Lula e com
acusações bem mais graves e fundamentadas, nunca tendo conseguido encontra algo contra ela, a
não ser o facto de terem maioria nos “parlamentos” e terem votado os seu
afastamento, por razões meramente politicas, antes de irem quase todos presos.
Que há corrupção no Brasil, há. Que essa corrupção atingiu em força o
PT, é verdade.
Mas ela atingiu o PT e todos os partidos e toda classe politica, e vinha muito detrás, e mesmo o
“impoluto” Bolsonaro e os seus apoiantes
mais directos têm contas a prestar à justiça.
Só que a justiça está politizada de tal maneira, com muitos dos juízes mais
conhecidos a apoiar directa ou indirectamente Bolsonaro, que este e os seu
apoiantes nunca vão ser acusados, muito menos se, como tudo parece indicar, Bolsonaro
se tornar o próximo presidente do Brasil.
Seja como for, esteja Lula inocente ou não, em relação a Haddad não
existe nenhuma acusação de fraude, a não ser em “fake news” do costume, logo, por aí,
Haddad não é Lula.
E Haddad também não é Lula do ponto de vista politico, já que
representa a ala mais moderada do PT, algo que, em termos europeus, andaria
próximo do centro-esquerda, nada da “extrema-esquerda” de que o acusam os
fanáticos intolerantes e ignorantes de
lá e de cá.
Mas, por outro lado, nem Lula nem Haddad são Maduro, outra mentira que
tentam colar ao PT e aos seus líderes.
De facto, durante os governos de Lula e os primeiros tempos de Dilma,
ao contrário do que aconteceu na Venezuela de Maduro, o Brasil conheceu um dos
seus períodos de maior prosperidade, enriquecimento e desenvolvimento.
Também ao contrário de Maduro, e apesar das pressões da ala mais
radical do PT, Lula recusou-se a alterar a Constituição para se perpetuar no
poder.
Aliás, se à comparação a fazer, não é entre Haddad e Maduro, mas entre
Maduro e Bolsonaro.
Se há alguém tão demagógico, tão extremista, tão
incompetente e irresponsável como Maduro é Bolsonaro.
E, sim, é com Bolsonaro, e não com Haddad, que o Brasil se vai tornar
uma nova Venezuela.
Tudo descarrilou quando Dilma foi impedida de governar, sendo toda a
sua acção sabotada por um Congresso e um Senado dominados pela direita e por
corruptos, hoje quase todos na prisão, sendo destituída e seguindo-se dois anos
de governo Temer.
Assim, nos últimos quatro anos, a sociedade brasileira conheceu um retrocesso
que fez o país regressar à violência, à miséria e à desigualdade que tinha
recuado nos tempos de Lula.
Hoje dá jeito aos fanáticos fanfarrões que estão por detrás de
Bolsonaro misturar tudo, e colar o PT à realidade actual, que teve origem nestes
últimos quatro anos de desgovernação, que tanto jeito deram ao crescimento do “fenómeno”
Bolsonaro.
Pode-se ou não gostar de Haddad ou do PT.
Deve-se combater a corrupção (mas também a partidarização da justiça).
Mas Haddad não é igual a Lula e, muito menos, a Maduro.
E, não, não está em causa uma luta entre extremos, mas uma luta entre
um candidato do centro-esquerda, Haddad, que respeita a democracia, e sem maioria no senado e no congresso, que o controlará nos seus excessos, e um candidato da extrema-direita,
Bolsonaro, que controla a maioria do senado e do congresso, que já disse preferir a ditadura à democracia e que elogia e fomenta o ódio e a violência como forma de governar…o resto é (má) conversa!
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