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segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Redes Sociais : as cenas do ódio.



Aqui há uma semana atrás (15 de Setembro) “postámos” um cartoon de “Shave”onde se resumia a diferença ente a Verdade e a Pós-Verdade: Verdade – Penso, Logo Existo; Pós-verdade – Acredito, logo estou certo.

A pós-verdade do “acredito, logo estou certo” é hoje a tendência dominante nas redes sociais, uma crença que se baseia numa mistela de “fake news”, preconceitos pessoais (sejam os ideológicos, religiosos, culturais e/ou sociais) e ignorância.

Uma mistela que, usando a estratégia de Goebbels, o ministro da propaganda nazi, segundo a qual “uma mentira várias vezes repetida acaba por se tornar verdade”, tornou-se o principal modo de fazer passar a “mensagem” dos movimentos populistas de extrema-direita.

Seguindo com alguma atenção a comunicação social e as redes sociais que acompanham o fenómeno “Bolsonaro”, como já tinha acontecido com Trump, o ódio e a desinformação que prolifera nas redes sociais revela-se assustador.

Não é por acaso que Trump recorreu a elas para se fazer eleger e para governar um país como os Estados Unidos.

Também Bolsonaro, que se recusa a explicar publicamente o seu programa para governar o Brasil e foge do debate franco e aberto com adversários, prefere as redes sociais para fazer passar a sua mensagem de ódio.

Ambos exploram os medos mais primários, com recurso às meias verdades, às falácias e  à simples mentira.

Pelo que temos assistido, o ódio está a ser a arma de uma nova geração de lideres ou candidatos a líderes da extrema direita que procuram fazer passar a sua mensagem, com o objectivo de se conseguirem  fazer eleger por um eleitorado cada vez mais fanatizado pelas redes sociais.

Hoje, nas redes sociais, é cada vez mais difícil debater ideias que sejam contrárias ao “mainstream” imposto pelas Fake News, pela imprensa tablóide, e por um jornalismo que substitui a informação pelo comentário tendencioso, sem se ser insultado.

Aliás, o próprio formato dessas redes sociais é contrário a análises mais profundas que um grunhido de uma ou duas frases feitas (eu, culpado, me confesso: muitas vezes não escapo à onda).

Num Blog ainda é possível alinhavar um texto com principio meio e fim. Mas no facebook, pela rapidez efémera da sua lógica de funcionamento e, pior ainda, no Twiter, limitado a frases curtas, tudo o que passe de uma frase feita propagandista acaba rapidamente no esquecimento.

Ora o Facebook e o Twitter são hoje os meios preferidos, com a eficácia conhecida, para os extremistas do nosso tempo fazerem passar a sua mensagem de ódio, intolerância e ignorância, com o fazem Trump ou Bolsonaro.

O grande drama dos nossos dias é que a chamada imprensa de referência se deixou cair na armadilha das redes sociais e procura navegar a mesma onda, preferindo explorar títulos especulativos e de leitura rápida e recorrer ao comentador cheio de certezas, a procura explicar e analisar criticamente a realidade cada vez mais complexa em que vivemos.

Claro que existem excepções, mas estas (jornal “Público” e “semanário” “Diário de Noticias” e mais um ou outro caso no “Expresso” e nas televisões e rádios - RTP 1, 2, 3 e Antena 1, e, mais isoladamente, na SIC Notícias) são cada vez mais raras e minoritárias e pagam a sua “ousadia” com crescentes dificuldades financeiras ou quebra de audiências, audiências cada vez mais fanatizadas pelo estilo das redes sociais.

O que domina é o estilo arruaceiro e intolerante de um Miguel Sousa Tavares ou de uma Manuela Moura Guedes, embora bem informado, mas que usa a informação com meias verdades e falácias e eivada de fortes preconceitos ideológicos, o estilo que consegue dar audiências e concorrer com as redes sociais ,  exactamente porque usa o mesmo estilo que é dominante nestas.

O “caso Bolsonaro” veio trazer a evidência do crescimento da linguagem do preconceito e do ódio, que já era perceptível e latente, e é cada vez mais dominante nas redes sociais.

A melhor forma de resistir a essa onda dominante é opor o “pensar” ao “acreditar”, com a humildade de quem “só sabe que nada sabe” e que muitas vezes pode não estar certo.

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