Aqui há uma semana atrás (15 de Setembro) “postámos” um cartoon de “Shave”onde se resumia a diferença ente a Verdade e a Pós-Verdade: Verdade – Penso,
Logo Existo; Pós-verdade – Acredito, logo estou certo.
A pós-verdade do “acredito, logo estou certo” é hoje a tendência
dominante nas redes sociais, uma crença que se baseia numa mistela de “fake
news”, preconceitos pessoais (sejam os ideológicos, religiosos, culturais e/ou
sociais) e ignorância.
Uma mistela que, usando a estratégia de Goebbels, o ministro da
propaganda nazi, segundo a qual “uma mentira várias vezes repetida acaba por se
tornar verdade”, tornou-se o principal modo de fazer passar a “mensagem” dos movimentos
populistas de extrema-direita.
Seguindo com alguma atenção a comunicação social e as redes sociais que
acompanham o fenómeno “Bolsonaro”, como já tinha acontecido com Trump, o ódio e
a desinformação que prolifera nas redes sociais revela-se assustador.
Não é por acaso que Trump recorreu a elas para se fazer eleger e para
governar um país como os Estados Unidos.
Também Bolsonaro, que se recusa a explicar publicamente o seu programa
para governar o Brasil e foge do debate franco e aberto com adversários,
prefere as redes sociais para fazer passar a sua mensagem de ódio.
Ambos exploram os medos mais primários, com recurso às meias verdades, às
falácias e à simples mentira.
Pelo que temos assistido, o ódio está a ser a arma de uma nova geração
de lideres ou candidatos a líderes da extrema direita que procuram fazer passar
a sua mensagem, com o objectivo de se conseguirem fazer eleger por um eleitorado cada vez mais
fanatizado pelas redes sociais.
Hoje, nas redes sociais, é cada vez mais difícil debater ideias que
sejam contrárias ao “mainstream” imposto pelas Fake News, pela imprensa tablóide, e por um jornalismo que substitui a informação pelo comentário
tendencioso, sem se ser insultado.
Aliás, o próprio formato dessas redes sociais é contrário a análises mais
profundas que um grunhido de uma ou duas frases feitas (eu, culpado, me
confesso: muitas vezes não escapo à onda).
Num Blog ainda é possível alinhavar um texto com principio meio e fim.
Mas no facebook, pela rapidez efémera da sua lógica de funcionamento e, pior
ainda, no Twiter, limitado a frases curtas, tudo o que passe de uma frase feita
propagandista acaba rapidamente no esquecimento.
Ora o Facebook e o Twitter são hoje os meios preferidos, com a eficácia
conhecida, para os extremistas do nosso tempo fazerem passar a sua mensagem de
ódio, intolerância e ignorância, com o fazem Trump ou Bolsonaro.
O grande drama dos nossos dias é que a chamada imprensa de referência
se deixou cair na armadilha das redes sociais e procura navegar a mesma onda,
preferindo explorar títulos especulativos e de leitura rápida e recorrer ao
comentador cheio de certezas, a procura explicar e analisar criticamente a
realidade cada vez mais complexa em que vivemos.
Claro que existem excepções, mas estas (jornal “Público” e “semanário” “Diário
de Noticias” e mais um ou outro caso no “Expresso” e nas televisões e rádios - RTP
1, 2, 3 e Antena 1, e, mais isoladamente, na SIC Notícias) são cada vez mais
raras e minoritárias e pagam a sua “ousadia” com crescentes dificuldades financeiras
ou quebra de audiências, audiências cada vez mais fanatizadas pelo estilo das
redes sociais.
O que domina é o estilo arruaceiro e intolerante de um Miguel Sousa
Tavares ou de uma Manuela Moura Guedes, embora bem informado, mas que usa a
informação com meias verdades e falácias e eivada de fortes preconceitos ideológicos,
o estilo que consegue dar audiências e concorrer com as redes sociais , exactamente porque usa o mesmo estilo que é
dominante nestas.
O “caso Bolsonaro” veio trazer a evidência do crescimento da linguagem
do preconceito e do ódio, que já era perceptível e latente, e é cada vez mais
dominante nas redes sociais.
A melhor forma de resistir a essa onda dominante é opor o “pensar” ao “acreditar”,
com a humildade de quem “só sabe que nada sabe” e que muitas vezes pode não
estar certo.
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