O “Diário
de Notícias” deste Domingo publica uma excelente reportagem da autoria do jornalista
Paulo Pena, intitulada “Como funciona uma rede de notícias falsas em Portugal”.
Por
ela ficamos a saber que vários “sites sediados no Canadá alojam fake news sobre
a politica portuguesa. Depois, vários grupos no Facebook, com milhares de
membros, divulgam-nas.”
Os
referidos grupos e sites são: “Direita Politica”, o mais activo de todos, “A
Voz da razão”, “Não Queremos Um Governo de Esquerda em Portugal”, “Video
Divertido” e “Aceleras”).
Todos
eles estão registados no protocolo de internet (IP) 198.50.102.106. registado
no Canadá “em H3E Montreal, Quebec, na empresa iWeb Technologies".
Por
detrás daqueles sites está uma mesma empresa de Santo Tirso, a Forsaken, que
tem um único dono, João Pedro Roa Fernades, o responsável pelo conteúdo daqueles
sites, todos ligados em Portugal à empresa Portugal na Web.
João
Fernandes é também sócio de duas empresas têxteis a EMPA e a Larmoderno.
Ouvido
na mesma reportagem, João Fernandes, que se considera uma espécie de justiceiro
da direita, diz ter como referência jornalistas com Hernâni Carvalho ou Ana
Leal, o falecido Medina Carreira, Paulo Morais e “alguns juízes e procuradores”
, declarando-se também apoiante “desde o primeiro momento” de Trump e
Bolsonaro.
Justifica
as mentiras, as meias verdades e as manipulações das notícias publicadas (como “relógio
de 21 milhões” de Catarina Martins ou a montagem fotográfica que “mostrava” a
nova PGR, Lucília Gago, num “jantar em casa de José Socrates", noticia que
chegou a ser divulgada por um site do PSD, mas que a desmentiu depois, com
pedido de desculpa) com a possibilidade de pode acontecer “termos uma notícia que
não seja 100% precisa”.
Hoje
o jornal Público denuncia uma nova fake new que está a ter algum impacto nas
redes sociais, mostrando como um sindicato de policias decidiu atacar o ministro
da administração interna com imagens falsas.
Essas
imagens divulgadas nas redes sociais mostram idosos, vítimas de violência,
sugerindo que tinham sido agredidos pelos criminosos que fugiram à policia em
Gondomar.
Contudo, os idosos das fotografias não foram os agredidos pelos
assaltos perpetrados por aqueles criminosos, não são portugueses, nem as
imagens são actuais.
O
fenómeno, à boleia do apoio implícito ou explicito da opinião pública de parte da direita portuguesa a Bolsonaro, começa a fazer o seu caminho de ódio e intolerância,
alimentando o medo e insegurança que estão historicamente na origem da ascensão
de todo o tipo de "fascismos" e autoritarismos.
Noutros
tempos, o “fascismo” usava a rua para atemorizar, ameaçar, espalhar a intolerância
e o ódio.
Hoje
usa as redes sociais, espalhando a mentira e a calunia para minar a democracia.
A mentira é o pior
inimigo da verdade e a indignação não justifica o recurso à mentira.
Como dizia o ministro
da propaganda de Hitler, a mentira várias vezes repetidas acaba por se
tornar verdade.
É assim que funcionam
as Fake News, com mentiras, manipulações ou meias verdades, e é assim que os
Trump's e os Bolsonaros do nosso tempo chegam ao poder.
A alternativa ao
funcionamento de uma justiça democrática, por muito mal que ela funciona, é uma
ditadura, onde "não existe corrupção" ou "crime" porque
esses assunto são proibidos de divulgar pela censura e os corruptos e
criminosos estão no poder ou são coniventes com ele (Salazar até publicou um
decreto para acabar com a pobreza...mandando prender os pedintes e os
sem-abrigo que fossem apanhados na rua, “acabando” assim com a pobreza em
Portugal e, quando das cheias de 1967, proibiu a divulgação do número de mortos
para não se notar tanto a tragédia, que também trazia ao de cima a vida
miserável de muitos portugueses, os mais atingidos pela tragédia).
Numa ditadura também “não
existe crime” porque as notícias sobre ele são proibidas e tudo conduz para uma
imagem de “paz e estabilidade”, que era o que acontecia no “Portugal de Salazar”.
Devemos denunciar a
corrupção, a mentira e as injustiça, mas quando se usa a manipulação estamos a
descredibilizar esse combate, ao mesmo tempo que damos força à intolerância e
ao ódio.
Pela minha parte, que
acredito que ainda vivemos num estado de direito, só posso exigir justiça
contra criminosos e corruptos, mas não alinho na histeria de mentiras,
intolerância e ódio que prolifera nas redes sociais.
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