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segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Legislativas 2022 – “perdas e ganhos”


Nenhuma sondagem, ao longo da última semana, previu uma maioria absoluta para o PS, nem um resultado tão penoso para o PSD.

Quase todas acertaram, no limite, nos resultados dos restantes partidos, mas todas indicavam uma possível maioria de direita no parlamento, fosse qual fosse o resultado, o que não se concretizou.

Tendo sido esta eleição a que registou uma das mais baixas abstenções de sempre nas últimas duas décadas, 42%, e se tivermos em conta mais de um milhão de “votos fantasma”, o que reduz, na realidade, os números da abtenção real para perto dos 30%, também fica desmentida a versão segundo a qual a “maioria silenciosa” que se costuma abster é de “direita” ou mesmo de “extrema-direita”, pois uma redução da abstenção favoreceu o PS e não beneficiou assim tanto o Chega, como se temia.

Quase tudo o que o BE e a CDU perderam em percentagem contribuiu para a maioria absoluta do PS.

Por sua vez terá havido uma percentagem mínima do PS, o voto mais centrista, que voou para o PSD, o que justifica que este partido, apesar de derrotado, tenha crescido em votos e percentagem em relação às legislativas de 2019.

Se somarmos a percentagem do IL e do CDS em 2019 e 2022, ela mantem-se quase idêntica, mostrando que agora houve uma transferência maciça de votos do CDS para o IL.

Este último cresceu, mesmo assim, cerca de 1% para além dessa transferência, votos que terá ido buscar ao PSD.

O Chega terá crescido, em parte com votos oriundos do PSD e do CDS, mas, talvez e principalmente, de alguma abstenção.  

O LIVRE conseguiu aumentar a sua votação, em grande parte com votos oriundos do BE, mas também à CDU e até ao PS.

Uma incógnita é saber para onde se esfumaram os votos do PAN, talvez equitativamente pelo PS e pelo LIVRE.

Embora uma eleição não seja um campeonato de futebol, como muitos comentadores procuram fazer crer, o que é verdade é que houve vencedores e derrotados, embora o exercício da democracia, seja qual for o resultado, é sempre uma vitória.

Diríamos até mais: houve “grandes vitórias”, “vitórias de Pirro”, “pequenas vitórias”, “pequenas derrotas” e “grandes derrotas”.

GRANDES VITÓRIAS:

O PS foi o grande vitorioso da noite, duplamente vitorioso, diga-se em abono da verdade. Para além de vencer as eleições, conseguiu uma maioria absoluta, a segunda da sua história. Ao contrário da maioria de Sócrates, esta maioria só foi possível com o voto útil de esquerda.

Ao contrário de Costa,  Sócrates beneficiou do voto do centro e do centro-direita, tendo governado, por isso, à direita, contra funcionários públicos, sindicatos e trabalhadores, com uma prática de destruição de direitos sociais, com o resultado que se conhece.

Costa já percebeu que deve a sua maioria a um eleitorado diferente do que deu a vitória a Sócrates, e terá de lutar, internamente, como a tralha socrática que já começa a levantar a cabeça, procurando beneficiar com a situação e...como os fundos do PRR.

Outro dos vencedores da noite foi o CHEGA, que se tornou a terceira força política, embora não conseguindo os almejados “10%”.

VITÓRIA DE PIRRO

O CHEGA é assim o primeiro “candidato” à “vitória de PIRRO”, pois nada pode fazer num parlamento de maioria absoluta de um partido à esquerda, a não ser o “chavascal” do costume, agora multiplicado por 12, ainda por cima um partido sem programa, a não ser uma federação de descontentamentos, “formados” em fake news e nalguma ideias aberrantes, um autêntico saco de lacraus, cujo espectáculo, agora público no parlamento, não será agradável de se ver e vai por a nu, durante 4 anos, as suas próprias contradições.

A outra vitória de Pirro vai para o Presidente da República, que, apesar de desejar a estabilidade que este resultado permite,  fica com pouco poder de manobra perante um governo de maioria absoluta.

UM PEQUENA VITÓRIA.

O IL é “candidato” à “pequena vitória” do dia, já que, conseguindo o feito de ficar à frente da CDU e do BE, fica atrás do CHEGA e também fica sem poder de influência, de que podia beneficiar, se, quer o PS, quer o PSD, ganhassem estas eleições sem maioria absoluta.

O IL foi buscar quase todos os seus votos ao CDS, funcionando como reservatório do voto de protesto dos eleitores democratas-critãos, e talvez alguns votos ao PSD, por simbolizar a tendência “passos coelhista”, descontente com o rumo social-democrata do PSD de Rui Rio. Tem 4 anos para mostrar que é mais do que o partido “engraçadinho” e “arejado” com as antigas ideias de sempre do neoliberalismo do século XIX.

Outra pequena vitória foi a do LIVRE, que, apesar da desastrada prestação da candidata que elegeu na última legislatura, tem agora uma oportunidade de mostrar que não é apenas um BE mais arejado, mas que tem, de facto, uma visão nova para a esquerda. Rui Tavares, mesmo num parlamento de maioria absoluta e estando isolado, pode fazer a diferença nesta legislatura.

UMA PEQUENA DERROTA

O PSD não sofreu assim uma derrota tão esmagadora como pode parecer, pois até conseguiu aumentar o número de votos e a percentagem, consolidando-se como alternativa de direita ao PS. Pode-se dizer que foi “uma pequena derrota” para o partido, mas uma “grande derrota” para Rui Rio.

Uma pequena derrota foi, apesar de tudo, a do PAN, que, mesmo assim, conseguiu eleger um deputado, voltando à fórmula inicial, sendo um partido cujas causas é importante que tenham voz no parlamento.

UMA GRANDE DERROTA

Vamos agora às grande derrotas, que podemos dividir em grandes derrotas “esmagadoras”  e Grandes derrotas que podem ser "conjunturais".

A primeira grande derrota esmagadora vai para o CDS que, pela primeira vez na sua história, não tem representação no parlamento, uma tragédia para uma direita civilizada e democrática, tanto pior que essa tragédia ter contribuido para a ascensão de dois partidos radicais, antissociais e antissistema, cada um à sua maneira, o CHEGA e IL.

A segunda derrota esmagadora vai para o BE, o mais penalizado com a sua opção em relação ao orçamento e ao derrube da geringonça, derrota que só não será conjuntural se nada aprender com o que se passou, podendo começar a perder força, quer para o PS, quer para o LIVRE.

Uma derrota que pode ser conjuntural, mas que também pode revelar-se fatal, é a da CDU, perdendo quase toda a sua influência. Se teimar em adiar a sua renovação ,não rejuvenescendo a sua liderança, recusando e aceitar o regresso de dissidentes, como Carlos Brito e sem alterar a sua postura sobre o que foi o comunismo real e o seu silêncio em relação a regimes como o da Rússia de Putin, o chinês, o venezuelano ou o norte-coreano, provavelmente começa aqui um doloroso e injusto processo de auto destruição.

Não podemos esquecer outros derrotados, a maioria dos pequenos partidos, algumas com alguma esperança de visibilidade, como o VOLT, o Aliança, o MAS, mas que se tornaram quase irrelevantes.

Em Portugal abre-se assim um novo ciclo, que se espera de estabilidade, mas que prove, como diz Costa, que as maiorias absolutas não são um prejuízo para a democracia.

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