Nenhuma sondagem, ao longo da última semana, previu uma maioria absoluta para o PS, nem um resultado tão penoso para o PSD.
Quase todas acertaram, no limite, nos resultados dos restantes
partidos, mas todas indicavam uma possível maioria de direita no parlamento,
fosse qual fosse o resultado, o que não se concretizou.
Tendo sido esta eleição a que registou uma das mais baixas abstenções
de sempre nas últimas duas décadas, 42%, e se tivermos em conta mais de um
milhão de “votos fantasma”, o que reduz, na realidade, os números da abtenção
real para perto dos 30%, também fica desmentida a versão segundo a qual a “maioria
silenciosa” que se costuma abster é de “direita” ou mesmo de “extrema-direita”,
pois uma redução da abstenção favoreceu o PS e não beneficiou assim tanto o
Chega, como se temia.
Quase tudo o que o BE e a CDU perderam em percentagem contribuiu para a
maioria absoluta do PS.
Por sua vez terá havido uma percentagem mínima do PS, o voto mais
centrista, que voou para o PSD, o que justifica que este partido, apesar de
derrotado, tenha crescido em votos e percentagem em relação às legislativas de
2019.
Se somarmos a percentagem do IL e do CDS em 2019 e 2022, ela mantem-se
quase idêntica, mostrando que agora houve uma transferência maciça de votos do
CDS para o IL.
Este último cresceu, mesmo assim, cerca de 1% para além dessa transferência,
votos que terá ido buscar ao PSD.
O Chega terá crescido, em parte com votos oriundos do PSD e do CDS,
mas, talvez e principalmente, de alguma abstenção.
O LIVRE conseguiu aumentar a sua votação, em grande parte com votos oriundos
do BE, mas também à CDU e até ao PS.
Uma incógnita é saber para onde se esfumaram os votos do PAN, talvez
equitativamente pelo PS e pelo LIVRE.
Embora uma eleição não seja um campeonato de futebol, como muitos
comentadores procuram fazer crer, o que é verdade é que houve
vencedores e derrotados, embora o exercício da democracia, seja qual for o
resultado, é sempre uma vitória.
Diríamos até mais: houve “grandes vitórias”, “vitórias de Pirro”, “pequenas
vitórias”, “pequenas derrotas” e “grandes derrotas”.
GRANDES VITÓRIAS:
O PS foi o grande vitorioso da noite, duplamente vitorioso, diga-se em
abono da verdade. Para além de vencer as eleições, conseguiu uma maioria absoluta,
a segunda da sua história. Ao contrário da maioria de Sócrates, esta maioria só
foi possível com o voto útil de esquerda.
Ao contrário de Costa, Sócrates
beneficiou do voto do centro e do centro-direita, tendo governado, por isso, à
direita, contra funcionários públicos, sindicatos e trabalhadores, com uma
prática de destruição de direitos sociais, com o resultado que se conhece.
Costa já percebeu que deve a sua maioria a um eleitorado diferente do que
deu a vitória a Sócrates, e terá de lutar, internamente, como a tralha socrática
que já começa a levantar a cabeça, procurando beneficiar com a situação e...como os fundos do PRR.
Outro dos vencedores da noite foi o CHEGA, que se tornou a terceira
força política, embora não conseguindo os almejados “10%”.
VITÓRIA DE PIRRO
O CHEGA é assim o primeiro “candidato” à “vitória de PIRRO”, pois nada
pode fazer num parlamento de maioria absoluta de um partido à esquerda, a não
ser o “chavascal” do costume, agora multiplicado por 12, ainda por cima um
partido sem programa, a não ser uma federação de descontentamentos, “formados”
em fake news e nalguma ideias aberrantes, um autêntico saco de lacraus, cujo
espectáculo, agora público no parlamento, não será agradável de se ver e vai
por a nu, durante 4 anos, as suas próprias contradições.
A outra vitória de Pirro vai para o Presidente da República, que,
apesar de desejar a estabilidade que este resultado permite, fica com pouco poder de manobra perante um
governo de maioria absoluta.
UM PEQUENA VITÓRIA.
O IL é “candidato” à “pequena vitória” do dia, já que, conseguindo o
feito de ficar à frente da CDU e do BE, fica atrás do CHEGA e também fica sem
poder de influência, de que podia beneficiar, se, quer o PS, quer o PSD, ganhassem
estas eleições sem maioria absoluta.
O IL foi buscar quase todos os seus votos ao CDS, funcionando como
reservatório do voto de protesto dos eleitores democratas-critãos, e talvez alguns
votos ao PSD, por simbolizar a tendência “passos coelhista”, descontente com o
rumo social-democrata do PSD de Rui Rio. Tem 4 anos para mostrar que é mais do
que o partido “engraçadinho” e “arejado” com as antigas ideias de sempre do neoliberalismo do século XIX.
Outra pequena vitória foi a do LIVRE, que, apesar da desastrada
prestação da candidata que elegeu na última legislatura, tem agora uma oportunidade de mostrar que não é apenas um BE mais arejado, mas que tem, de facto, uma visão nova para
a esquerda. Rui Tavares, mesmo num parlamento de maioria absoluta e estando
isolado, pode fazer a diferença nesta legislatura.
UMA PEQUENA DERROTA
O PSD não sofreu assim uma derrota tão esmagadora como pode parecer,
pois até conseguiu aumentar o número de votos e a percentagem, consolidando-se
como alternativa de direita ao PS. Pode-se dizer que foi “uma pequena derrota”
para o partido, mas uma “grande derrota” para Rui Rio.
Uma pequena derrota foi, apesar de tudo, a do PAN, que, mesmo assim,
conseguiu eleger um deputado, voltando à fórmula inicial, sendo um partido cujas
causas é importante que tenham voz no parlamento.
UMA GRANDE DERROTA
Vamos agora às grande derrotas, que podemos dividir em grandes derrotas
“esmagadoras” e Grandes derrotas que
podem ser "conjunturais".
A primeira grande derrota esmagadora vai para o CDS que, pela primeira
vez na sua história, não tem representação no parlamento, uma tragédia para uma
direita civilizada e democrática, tanto pior que essa tragédia ter contribuido para a
ascensão de dois partidos radicais, antissociais e antissistema, cada um à sua
maneira, o CHEGA e IL.
A segunda derrota esmagadora vai para o BE, o mais penalizado com a sua
opção em relação ao orçamento e ao derrube da geringonça, derrota que só não
será conjuntural se nada aprender com o que se passou, podendo começar a perder
força, quer para o PS, quer para o LIVRE.
Uma derrota que pode ser conjuntural, mas que também pode revelar-se
fatal, é a da CDU, perdendo quase toda a sua influência. Se teimar em adiar a sua renovação ,não rejuvenescendo a sua liderança, recusando e aceitar o
regresso de dissidentes, como Carlos Brito e sem alterar a sua postura sobre o
que foi o comunismo real e o seu silêncio em relação a regimes como o da Rússia
de Putin, o chinês, o venezuelano ou o norte-coreano, provavelmente começa aqui
um doloroso e injusto processo de auto destruição.
Não podemos esquecer outros derrotados, a maioria dos pequenos
partidos, algumas com alguma esperança de visibilidade, como o VOLT, o Aliança,
o MAS, mas que se tornaram quase irrelevantes.
Em Portugal abre-se assim um novo ciclo, que se espera de estabilidade, mas que prove, como diz Costa, que as maiorias absolutas não são um prejuízo para a democracia.
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