Com a morte de Freitas do Amaral desaparece a última figura de
referência na construção da democracia portuguesa, o último dos seus quatro
pilares (os outros três foram Sá Carneiro, Álvaro Cunhal e Mário Soares).
Morre também um dos últimos políticos que souberam cultivar o humanismo
e a coerência de princípios.
Era um verdadeiro liberal, que não confundiu liberalismo com
neoliberalismo.
Era um democrata cristão que sempre se manteve coerente na defesa da
componente social dessa ideologia que ajudou a construir a Europa Social que
hoje muitos tentam destruir.
Revelou, no fundo, que a verdadeira ideologia democrata-cristã tem uma
forte componente social, que não se confunde com a “caridadezinha”.
Para ele, ser democrata-cristão era combater a pobreza, as
desigualdades e as injustiças sociais.
Por isso, por coerência, afastou-se do seu próprio partido e
aproximou-se do centro-esquerda.
Há que não esquecer também o seu importante papel no plano
internacional, não só nos Negócios Estrangeiros, mas também no importante papel
que desempenhou como Presidente da Assembleia Geral da ONU, o primeiro papel
importante desempenhado por um português naquela instituição, e que contribuiu
para afirmação do regime democrático português no seio da comunidade
internacional.
Registe-se também as suas posições firmes de condenação da Guerra do
Iraque ou, mais recentemente, a sua preocupação com o rumo político do Brasil.
Freitas do Amaral era igualmente um grande professor de Direito, com
obra de referência publicada e um “historiador amador”, com inclinação para a
ficção histórica, procurando perceber através dela identidade portuguesa (é excelente a sua biografia de Afonso Henriques).
Era, além disso, um adversário leal, respeitável e respeitador par quem
não partilhasse das suas ideias política.
Hoje vão correr por aí muitas lágrimas de crocodilo, a quem Feitas do
Amaral responderia com o seu sorriso afável e maroto.
Sem ele, ficámos todos mais pobres.
1 comentário:
Parabéns pelo excelente texto
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