(Carmelo Kalashnikov - Cartoonmovement.com)
Os curdos estão, mais uma vez, a ser vítimas de massacres e
perseguições, com a conivência do mundo ocidental e em especial da NATO.
É significativo que o actual secretário da NATO apareça a defender,
mesmo que veladamente, como é aliás o timbre do cínico Jens Stoltenberg, as posições da Turquia.
Mais uma vez temos o principio de “dois pesos, duas medidas”.
Se aquilo que está a ser a atitude Turca em relação aos curdos na Síria
fosse levada a cabo pelo Irão, pela Venezuela ou pela Coreia do Norte, a
atitude seria outra.
Ou seja, um país da NATO pode violar todas as regras internacionais e
pisar os mais elementares Direitos Humanos, só porque é…membro da NATO.
Claro que se ouvem condenações, “pareceria mal” se não o fizessem, mas
tudo não passa de mera retórica, sem qualquer consequência.
“Percebe-se” o “medo” em encarar a condenável atitude do governo turco
em relação aos curdos : o exército turco é um dos exércitos mais poderosos no
seio da NATO, na Europa só ultrapassado pelos britânicos; a NATO tem
importantes e estratégicas bases militares na Turquia, como recordou o Cínico
Stoltenberg, para justificar a apatia ocidental em relação à Turquia; a União
Europeia “comprou” ao governo turco a manutenção de verdadeiros campos de
concentração para conter os refugiados das guerras financiadas e armadas pelo
ocidente no Médio Oriente, ficando refém do autoritário Erdogan.
No meio de tudo isto a razão está do lado dos Curdos.
Foram os Curdos que tiveram um papel crucial no combate ao Estado
Islâmico, como já tinham tido anteriormente no combate ao ditador iraquiano Saddam
Hussein.
Agora foram abandonados aos superiores interesses da NATO e dos Estados
Unidos, caindo nos braços dos Russos e do ditador Assad.
A traição do ocidente e da Europa ao legitimo direito de criação de um
Estado Curdo independente não é nova.
Historicamente os curdos tiveram origem no povo Medo, oriundo da Ásia
Central, quando ocuparam a cidade assíria de Nínive em 612 a.C.
Durou pouco tempo essa primeira autonomia. Os Persas dominaram a região
em 550 a.C., iniciando-se aí a sua saga
de perseguições e massacres.
Após a 1ª Guerra mundial, com o desmembramento do Império Otomano, o
Tratado de Sévres, de 1920, defendeu a criação de um Estado Curdo, o Curdistão,
ideia logo rejeitada pelos turcos.
Com o Tratado de Lausanne, em 1923, o território do que devia ser o
Curdistão foi integrado, na sua maior parte, na actual Turquia, e nos novos
Estados então criados do Iraque e da Síria e, em menor quantidade, no Irão.
Perseguidos por todos, com maior ou menor violência, os curdos têm
lutado, desde então, pela sua independência.
Calcula-se quase metade dos curdos, cerca de 14 milhões, vivam no território turco, onde representam
20% da população deste país.
Entre 1984 e 1999 o PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão) entrou
em guerra aberta contra o exército turco, recorrendo a actos de extrema
violência, de terrorismo até. Isso não evitou a sua contenção e, a partir de
então o exército turco tem procedido a uma verdadeira limpeza étnica na região,
dispersando ou massacrando os curdos e varrendo do mapa mais de três mil
aldeias e vilas curdas.
No Iraque, onde está a segunda maior fatia do território curdo,
representando 15 a 20% da população deste massacrado país, a situação não foi
muito melhor, principalmente durante o governo do ditador Saddam Hussein, apoiado
militarmente pelo ocidente na sua guerra contra o Irão, ocidente esse que,
enquanto lhe convinha manter o apoio ao ditador do Iraque, fechou os olhos aos
massacres e perseguições contra o povo curdo neste país. Só a partir de 1991 a
sua situação começou a melhor, quando, no território curdo no Iraque, foi
estabelecida, pelo Conselho de Segurança da ONU, uma zona de exclusão aérea que
permitiu a criação do Curdistão Iraquiano, que passou a gozar de grande
autonomia. Recentemente foi a sua região uma das que mais sofreu com a expansão do Estado Islâmico.
O território curdo espalha-se ainda pela Síria, pelo Irão e, em número
bem menor, pelo Líbano e pela Arménia.
Na Síria, centro do actual conflito, representam quase 10% da
população, são cerca de 2 milhões, concentrados mais no norte e nordeste, sendo
a maior minoria étnica deste país em guerra civil. Também aqui, embora com
menos violência do que a sofreram no Iraque de Sadam ou na Turquia, têm sido
perseguidos, uma perseguição que é essencialmente cultural, com a proibição do
uso da sua língua e das suas tradições e de assimilações mais ou menos
forçadas.
Contudo, o papel crucial dos
curdos no combate ao Estado Islâmico granjeou-lhe apoio e simpatia por parte do
Ocidente e eram, até há poucas semanas, o principal aliado dos Estados Unidos
no combate contra aquele estado terrorista.
Abandonados agora pela irresponsabilidade de Trump e pelo cinismo da
NATO e da União Europeia, aproximaram-se da Rússia e do ditador sírio Assad,
para se defenderam do massacre do exército turco.
Tal como os judeus no passado, e os palestinianos no presente, os
curdos merecem respeito e, principalmente, o direito a terem um Estado.
Apesar das dificuldades chegou a hora dos Curdos.
Se existe causa justa no presente, sobre a qual não temos qualquer dúvida sobre de que lado estamos, ela é a causa Curda.
Ficar calado é pactuar com o cinismo e a irresponsabilidade nas
relações internacionais e, é pactuar com a violação dos mais elementares direitos humanos perpetrada por Erdogan e, no
imediato, é apoiar o renascimento do Estado Islâmico.
Esta é daquelas causas em que cada um deve definir de que lado está.
Nós estamos do lado dos curdos.
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