(quadro com as palavras que mais se destacam no programa dos partidos que concorrem às eleições de 6 de Outubro, elaborado pelo site comunidadedeculturaearte).
Ninguém se pode queixar da falta de alternativas.
Existem partidos para todas as tendências e gostos, partidos de causas,
partidos desde a extrema esquerda à extrema direita , com maior peso nos
situados entre o centro direita e o centro esquerda.
Também só quem anda mesmo a leste de tudo se pode queixar de falta de
esclarecimento. Os programas de quase todos os partidos estão aí disponíveis
para consulta na net e os debates televisivos correram bem, foram bem
orientados e esclarecedores.
Já a campanha em si mostrou-se igual ao costume, essa sim pouco
esclarecedora, com os candidatos e explorarem “casos” ao sabor das sondagens.
Apesar de tudo, não existe desculpa para a abstenção, a não ser para os
defensores de ditaduras, os salazaristas empedernidos, os anarquistas puros, os
estalinistas rabugentos, ou quem esteja mesmo muito doente.
O voto nulo não conta para nada, nele misturam-se os ignorantes, que
ainda não sabem como usar um boletim de voto, os raivosos militantes e alguns poucos
engraçadinhos.
O voto em branco tem um significado mais importante, e é o único não
expresso que devia valer alguma coisa, já que manifesta de forma firme um
desagrado ou descontentamento com o actual sistema de partidos, mas respeitando a democracia.
Tirando isso, vamos ao que interessa.
À Direita os partidos que contam e interessam analisar são o Chega, a Iniciativa
Liberal, o Aliança, o CDS e o PSD (o resto é paisagem).
O Chega é uma tentativa atabalhoada de aproveitar a onda populista e
xenófoba que grassa por essa Europa fora, para além de se aproveitar da figura
pública do seu líder. De resto não tem nada de novo para oferecer, a não ser a
retórica racista, intolerante e populista de sempre e, esperamos, não deve conseguir eleger
ninguém. O populismo de extrema-direita felizmente ainda não está maduro em
Portugal…mas pode haver uma surpresa amarga, se esse partido eleger um deputado, o que seria
um sério aviso à democracia.
O Aliança afirma-se à direita, uma direita europeísta e democrática,
com um programa que vai do neoliberalismo à social-democracia, procurando
agrupar à sua volta os eleitores do PSD mais à direita, os herdeiros do “passos-coelhismo”
de má memória. De resto vive do carisma do seu líder, facto que pode pesar mais
na eleição de um ou mais deputados para as legislativas. Nada de mal, e seria
uma lufada de ar fresco à direita.
A Iniciativa Liberal é o primeiro partido a assumir, sem vergonha, um
programa neoliberal, procurando igualmente navegar no eleitorado “passos-coelhista”
descontente com o PSD, não se distinguindo muito da Aliança, o seu principal
concorrente na conquista de eleitores nestas eleições. Para mim o
neoliberalismo é mais perigoso, para o bem estar generalizado dos cidadãos, do
que a extrema-direita populista, sem grande crédito por estes lados. Vai
disputar a conquista de um deputado com a Aliança. O que um ganhar, o outro
perde, ou vice-versa.
O CDS é um partido da Direita bem comportada, o único partido “institucional”
que fez uma oposição coerente de direita à geringonça e que pode continuar a
funcionar como travão à extrema-direita e ao populismo de direita. A sua
situação pode revelar-se dramática se
voltar a ser o “partido do Táxi” ou se estiver a disputar a sua posição, não
com o BE ou o PCP, como pretendia, mas com o PAN.
O PSD apresenta-se fragilizado nas eleições pelo peso da memória “passos-coelhista”
e do “ir além da Troika”. Enquanto os eleitores do centro, da classe média,
alguns do centro-esquerda, que lhe davam as vitórias e as maiorias, se lembrar desses tempos, tudo vai correr mal a esse partido histórico e essencial para a
democracia. Mesmo sendo Rui Rio um dos líderes mais ao centro da sua história e
um crítico dos excessos antissociais do “passos-coelhismo”, isso não parece ser
suficiente para recuperar a sua importância política. Rui Rio tem de enfrentar,
de um lado aqueles eleitores históricos que abandonaram o partido, dividindo o
seu voto entre o PS e a Aliança, e
aqueles outros com saudades de Passos Coelho e do Inferno por ele anunciado e
praticado, que vão dividir o seu voto entre o CDS, a Aliança, a Iniciativa
Liberal ou a abstenção.
Se a direita, no seu todo, partiu para essas eleições como a grande
derrotada, o caso Tancos, a possibilidade de uma maioria absoluta do PS e o
regresso do fantasma de Sócrates podem mobilizar esses eleitores e evitar a
anunciada derrocada.
O pior de tudo, para a direita, era baixar a sua representação
parlamentar para menos de 1/3 e que o seu principal partido ficasse próximo ou
abaixo dos 22%.
Pela nossa parte, esperamos que a direita democrática, isto é, o CDS, o
PSD e, eventualmente, a Aliança, mantenham alguma importância no Parlamento
pois, caso contrário, estamos sujeitos ao regresso do sinistro neoliberalismo
de Passos Coelho, abrindo-se também espaço para o crescimento do populismo de
extrema-direita.
À Esquerda, os partidos que contam são o PS, o PCP, o BE, o Livre e
(vamos coloca-lo aqui) o PAN.
O PS é o vencedor pré anunciado destas eleições, embora o caso Tancos
venha abalar alguma coisa. Havia há uma semana a possibilidade de obter a
maioria absoluta, pretensão não anunciada mas desejada no seu seio ( e no seio
de alguma direita e dos comentadores neoliberais que viam nisso a possibilidade
desse partido se livrar da influência à sua esquerda).
Uma maioria absoluta do PS seria o regresso aos métodos arrogantes do
socratismo, ao PS dos “negócios” e das “negociatas”, com os custos do costume.
Claro que não existe governo à esquerda sem o PS, com afirmou Manuel
Alegre, mas o PS só governa à esquerda quando depende do apoio dos partidos à
esquerda.
O PCP luta nestas eleições por manter a influência que teve nestes
últimos quatro anos. É o único partido que, de forma coerente e combativa, tem
defendido os mais desfavorecidos e os direitos de quem trabalha, mas não vai
muito longe se mantiver a retórica e a linguagem de “pau” , pouco atractiva e
pouco inovadora, continuando a sonhar com os amanhãs que cantam e sem se
desmarcar do desastre do “socialismo real”. Continuará a ser um voto de
protesto, mas pouco convicto, o que dificulta a sua afirmação junto do eleitorado
mais jovem, necessário à sua renovação. Apesar de tudo é um partido essencial à
democracia. Seria uma tragédia para aqueles que ele defende que este partido se
transformasse, não tanto no partido do Táxi, mas no partido da carrinha de 10 lugares…
O Bloco de Esquerda pode sair destas eleições como o grande vencedor da
noite. Basta-lhe ultrapassar os dois digito, ser o terceiro mais votado e
tornar-se essencial à governação do PS.
O seu discurso mais moderado, o facto de ter na sua liderança uma
figura forte e afirmativa como Catarina Martins, podem atrair muitos eleitores
da esquerda que não querem uma maioria absoluta do PS. Mas este pode ser um dos
perigos para o futuro do partido, tornar-se uma espécie de “ala esquerda” do
PS.
O Livre é talvez o que de mais inovador e interessante apareceu à
esquerda, mas votar nele pode ser um risco de um voto perdido, caso, mais uma
vez, falhe o seu objectivo de eleger, pelo menos, um deputado, possibilidade
que existe no círculo de Lisboa, mas pouco seguro.
A sua presença no parlamento seria uma lufada de ar fresco no sector de
esquerda do hemiciclo.
Deixámos para o fim o PAN, a grande novidade da última legislatura. Não
se definindo nem à esquerda nem à direita, contribui para aumentar a ambiguidade
do seu posicionamento. Para nós a defesa consequente e coerente do ambiente,
bandeira usada da direita à esquerda, só pode ter resultado com politicas à
esquerda, já que só se pode defender a Natureza e o ambiente do perigos que
estão aí à porta combatendo o capitalismo, nomeadamente o interesse das grandes
empresas, os interesses financeiros e as teorias neoliberais e
especulativas, com medidas que reforcem o cooperativismo
sobre o hedonismo. E isto é... de “esquerda”.
O PAN poderá ser um dos vencedores da noite. Negativo seria que esse
partido se tornasse a muleta do PS, como forma de este prescindir do BE e do
PCP.
Pela minha parte, espero que o PS ganhe, mas sem maioria absoluta, que
tenha de negociar com a sua esquerda, BE e PCP, que o PCP não perca influência,
que o BE e o PCP fiquem à frente do CDS, que o PAN aumente a sua representação,
que o LIVRE consiga pelo menos um deputado, que a direita, no seu conjunto, não
tenha maioria absoluta, mas sem descalabro do PSD, que a Aliança possa ter pelo
menos um representante.
Pelo contrário, espero que o PSD e o CDS não consigam formar maioria,
que o CDS não ultrapasse nem o PCP nem o BE, que a Iniciativa Liberal e o Chega
não consigam chegar ao parlamento.
Pessoalmente, vou tentar contribuir para uma vitória da esquerda, mas
sem maioria absoluta do PS e por isso, tendo de decidir entre o BE e o PCP….apesar
de tudo irei vota PCP.
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