Vamos lá ver se percebi:
O assalto a paióis do exército era uma “actividade” “vulgar”,
envolvendo muita gente desocupada, muitos antigos militares envolvidos no
submundo do tráfico de armamento e noutros “tráficos”, com a “colaboração” ou conivência
de gente da própria instituição militar.
Vários juízes do Ministério Público, entre eles Ivo Rosa, o mesmo que
vai decidir sobre a “operação marquês”, foram avisados de que ía haver um
importante assalto a Tancos, mas “desvalorizaram” as denuncias.
Naquela noite uma quantidade imensa de material militar foi “roubado”
(ou convenientemente desviado?), sem que ninguém visse (???), Recorde-se, era
uma grande quantidade de material, pesado, que precisava de uma sofisticada
organização no transporte!!!
“Queimado” e pressionado pela tragédia recente do incêndios, o governo
viu aí uma oportunidade para fazer um “brilharete”, tudo “fazendo” para
recuperar as armas.
Assustados com o impacto da situação, os “ladrões” resolveram contactar
alguém dentro da Polícia Judiciária Militar para simular a recuperação das
armas, em troca de imunidade.
Ganhavam os “ladrões”, que escapavam da prisão, ganhava a PJM que fazia
um brilharete, ganhava a instituição militar, que escapava ao ridículo da
situação, ganhava o governo, principalmente o Ministério da Defesa, que mostrava “serviço”.
Contudo algo correu mal nesta farsa e partir daqui tudo se complica e
torna confuso. Eu próprio não sei bem como dar “continuação” a esta história.
Que o assunto deve ser investigado até ao fim, sem esquecer os
verdadeiros ladrões, separando águas nas várias responsabilidades e levando ao
desmantelar de uma prática de longa duração, como é o tráfico de armamento,
todos concordamos.
Isso é uma coisa, outra coisa é o aproveitamento oportunista dessa
situação como tema central de campanha eleitoral.
Uma campanha eleitoral deve fazer-se discutindo projectos e programas
para o país, mostrando o que cada um faria de diferente se chegasse ao poder,
em vez de se ficar pela exploração de casos de justiça e outros ainda mal
esclarecidos.
Não se deve falar em Tancos? Deve-se. Mas este tema não se deve tornar
no centro de uma campanha eleitoral que estava a correr melhor que outras, nos
debates esclarecedores que se conseguiram fazer na comunicação social.
Não se pode admitir que o caso de Tancos se torne mais importante do que
debater o que cada partido pensa sobre a urgência de medidas ambientais, num
país onde a água começa a escassear, sobre a melhoria das condições de vida num
país de salários baixos e trabalho precário, sobre o que se deve fazer para
combater a corrupção que destrói uma parte considerável do rendimento do país,
sobre o que fazer na educação e na saúde,
sectores em degradação acelerada, sobre como melhorar os transportes públicos,
um sector em descalabro, sobre a forma
de “dar a volta” ao preocupante envelhecimento da população, sobre o grave e
dramático problema do direito a uma habitação digna…e tanto mais.
Cada linha e cada frase que, a partir de agora, seja ocupado a discutir
esse mal esclarecido caso de Tancos é menos uma oportunidade para discutir o
que interessa para o futuro do país.
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