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terça-feira, 1 de outubro de 2019

Campanha Eleitoral : Existe mundo para lá de Tancos?



Vamos lá ver se percebi:

O assalto a paióis do exército era uma “actividade” “vulgar”, envolvendo muita gente desocupada, muitos antigos militares envolvidos no submundo do tráfico de armamento e noutros “tráficos”, com a “colaboração” ou conivência de gente da própria instituição militar.

Vários juízes do Ministério Público, entre eles Ivo Rosa, o mesmo que vai decidir sobre a “operação marquês”, foram avisados de que ía haver um importante assalto a Tancos, mas “desvalorizaram” as denuncias.

Naquela noite uma quantidade imensa de material militar foi “roubado” (ou convenientemente desviado?), sem que ninguém visse (???), Recorde-se, era uma grande quantidade de material, pesado, que precisava de uma sofisticada organização no transporte!!!

“Queimado” e pressionado pela tragédia recente do incêndios, o governo viu aí uma oportunidade para fazer um “brilharete”, tudo “fazendo” para recuperar as armas.

Assustados com o impacto da situação, os “ladrões” resolveram contactar alguém dentro da Polícia Judiciária Militar para simular a recuperação das armas, em troca de imunidade.

Ganhavam os “ladrões”, que escapavam da prisão, ganhava a PJM que fazia um brilharete, ganhava a instituição militar, que escapava ao ridículo da situação, ganhava o governo, principalmente o Ministério da Defesa,  que mostrava “serviço”.

Contudo algo correu mal nesta farsa e partir daqui tudo se complica e torna confuso. Eu próprio não sei bem como dar “continuação” a esta história.

Que o assunto deve ser investigado até ao fim, sem esquecer os verdadeiros ladrões, separando águas nas várias responsabilidades e levando ao desmantelar de uma prática de longa duração, como é o tráfico de armamento, todos concordamos.

Isso é uma coisa, outra coisa é o aproveitamento oportunista dessa situação como tema central de campanha eleitoral.

Uma campanha eleitoral deve fazer-se discutindo projectos e programas para o país, mostrando o que cada um faria de diferente se chegasse ao poder, em vez de se ficar pela exploração de casos de justiça e outros ainda mal esclarecidos.

Não se deve falar em Tancos? Deve-se. Mas este tema não se deve tornar no centro de uma campanha eleitoral que estava a correr melhor que outras, nos debates esclarecedores que se conseguiram fazer na comunicação social.

Não se pode admitir que o caso de Tancos se torne mais importante do que debater o que cada partido pensa sobre a urgência de medidas ambientais, num país onde a água começa a escassear, sobre a melhoria das condições de vida num país de salários baixos e trabalho precário, sobre o que se deve fazer para combater a corrupção que destrói uma parte considerável do rendimento do país, sobre  o que fazer na educação e na saúde, sectores em degradação acelerada, sobre como melhorar os transportes públicos, um sector em descalabro,  sobre a forma de “dar a volta” ao preocupante envelhecimento da população, sobre o grave e dramático problema do direito a uma habitação digna…e tanto mais.

Cada linha e cada frase que, a partir de agora, seja ocupado a discutir esse mal esclarecido caso de Tancos é menos uma oportunidade para discutir o que interessa para o futuro do país.

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