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segunda-feira, 20 de novembro de 2017

NOS ÚLTIMOS DIAS DA UNIÃO SOVIÉTICA – LENINEGRADO Julho/Agosto de 1991 (…ou S. Petersburgo…ou…Petrogrado …ou…).


30 de Julho de 1991.

De manhã, ainda antes de apanharmos o avião para Leninegrado, fazemos ainda uma última visita por Minsk.

Vistamos um museu de pintura com obras de vários pintores russos desde o século XVIII ao início do século XIX, e com uma sala dedicada à exposição dos célebres ícones ortodoxos.

Á tarde partimos para o aeroporto para apanhar o avião para Leninegrado, ou S. Petersburgo como começa a ser designada por aqui, onde chagámos após uma viagem tranquila.

Por aquilo que deu para ver na viagem de autocarro do aeroporto até ao hotel, esta parece ser uma bela cidade.






Leninegrado é formada por várias ilhas de uma espécie de delta do rio Neva, entrada do Báltico. Parecendo que não, um rio dá outra graça a uma cidade.

Antiga capital do Império, ex- S. Petersburgo, ex-Petrogrado, passou a chamar-se Leninegrado depois da revolução de Outubro (ou Novembro no nosso calendário), e foi aqui que ocorreram os principais acontecimentos históricos desse período, antes de Moscovo se ter tornado a capital.

Tem cerca de 6 milhões de habitantes.

S. Petersburgo foi fundada por Pedro o Grande em 1703 e foi a capital do Império até 1918. O imperador tentou imitar na cidade o estilo de Amesterdão, embora muita gente compare a cidade com Veneza.

O Nosso Hotel fica na “ilha” de São Basílio, umas das 42 ilhas que formam Leninegrado. Para ligar essas ilhas existem cerca de 600 pontes. Existem igualmente na cidade cerca de 60 canais e afluentes do delta do rio Neva.

Com já era tarde, ficámos pela zona do Hotel, esta noite dei um passeio a pé aos arredores do Hotel, que tem em frente o rio Neva e do outro lado a zona histórica, vendo-se o Hermitage.

Às 22.30 ainda é quase de dia, e via-se a claridade no horizonte. Dizem-me que há um mês a atrás o Sol quase não se punha por estas bandas.

No dia 31 de Julho iniciámos o dia com uma visita geral por Leninegrado, começando pelas célebres colunas dos almirantado, na ilha do nosso hotel, guiados pelo Dima, que tem sido o nosso guia desde o primeiro dia, mas que conhece bem esta cidade, pois habita aqui.

O Dima tem 31 anos, é casado e tem um filho. Já lhe dei algumas cassetes de musica que levava e duas camisolas. Em troca ele prometeu-me uma boa garrafa de vodka.










Durante a visita parámos para tirar fotografias e passear por vários locais, como a chamada Catedral do sangue Derramado, construída junto do lugar onde o czar Alexandre II foi assassinado em 1881, uma catedral ortodoxa com as célebres cúpulas em “cebola”.







Visitámos de seguida a Igreja da “Resina”, assim chamada porque era junto dela que ficavam as fábricas de resina, simbolo da expansão marítima no Báltico iniciada por Pedro o Grande.

Estivemos depois na “Laura” de Leninegrado, ou Convento Smolny, o título mais importante para uma igreja ortodoxa, talvez o equivalente às nossas catedrais. Na União Soviética só existem duas Igrejas com este título, esta e outra em Kiev, que vistámos quando lá estivemos.



Tempo ainda para visitar uma espécie de feira da ladra, o equivalente local à Rua Arbat de Moscovo, onde muitos jovens vendem artesanato e obras de arte.


Leninegrado é uma cidade muito mais ocidentalizada, onde as pessoas vestem melhor e parecem mais arejadas do que nas cidades que já visitámos. Existem mais produtos e em maior variedade à venda e não se vêm as grandes filas nas lojas com vimos noutras cidades.

Ainda durante a manhã visitámos o Couraçado Aurora, que deu o sinal para a Revolução Russa, tendo combatido na Guerra contra o Japão, e nas duas Guerras Mundiais.



À tarde visitámos o Museu Lenine, que expõe escritos originais e vestuário daquele líder, assim como mobílias originais da sua casa.

Seguimos então numa viagem em Hovercraf pelo golfo da Finlândia até ao Palácio de Verão de Pedro o Grande, "Peterhof", o “Versalhes russo” fundado em 1705, numa viagem que levou cerca de meia-hora, a alta velocidade. Este lugar fica apenas a 50 quilómetros da Finlândia, o lugar mais a norte onde estive até então.

Do palácio sobressaem as grandes cúpulas douradas e os grandes jardins, por onde estão espalhadas várias estátuas douradas, sendo os seus repuxos a grande atracção. Um espaço muito bonito mas que estava todo em obras de restauro. 










Regessámos de autocarro ao nosso Hotel.

À noite fui dar uma volta pelos arredores do Hotel e descobri, a cerca de cinco minutos a pé, um Hotel flutuante com bar pago em dólares, onde se podia ouvir jazz, com um pátio ao ar livre com vista para o Neva e de onde vimos sair o famoso navio Odessa. Este bar é muito frequentado por finlandeses, e por isso as indicações estão em russo e finlandês.

À noite a televisão do nosso Hotel fartou-se da dar reportagens da visita de George Bush a Moscovo, para uma cimeira com Gorbatchev. Pelo meio vídeos musicais, como o célebre tema de Sting “The Russian Love her children too”. No intervalo das reportagens sobre a visita, vão passando vários vídeo-clips sobre a América e a Rússia.

Manhã de 1 de Agosto de 1991.

A manhã é para vistar o Hermitage, o museu mais famoso da Rússia, situado no antigo Palácio de Inverno, um palácio construído na segunda metade do século XVIII, de tilo barroco.

É um edifício quase mítico,  cujo assalto, imortalizado nas cenas do filme Outubro de Eisenstein, foi um dos momentos da história mitificada da revolução Russa ( ao que parece esse assalto não aconteceu na realidade, pelo menos nos moldes épicos do filme).

Muitas cenas desse filme foram filmadas nos imensos corredores e  nas imensas salas e escadarias deste palácio, hoje museu.






No museu do Hermitage visitei apenas algumas salas, pois, como no do Louvre, é impossível visitar tudo de uma vez.

As salas mais importantes que visitei foram as dedicadas aos impressionistas e modernistas , onde se encontram alguns dos quadros mais famosos dessas correntes e outras anteriores. Picasso e Matisse tinham duas salas cada um. Cezanne tinha uma sala e Gauguin outra. Por outras salas encontravam-se igualmente várias obras de Delacroix, Renoir, Van Gogh, Degas e tantos outros. Entre estes o célebre quadro de Delacroix, símbolo da Revolução Francesa.

A tarde foi livre. Houve quem aproveitasse para regressar ao Hermitage. Eu preferi ir deambular pelas ruas de Leninegrado.

Atravessei a grande praça que enquadra o palácio de inverno e fui até à rua mais movimentada e famosa, a “Perspectiva Nevsky”. Uma enorme multidão corre pelos dois lados desta enorme avenida, a perder de extensão, atravessada por vários braços do rio e com edifícios monumentais de ambos os lados. A Avenida está cheia de lojas de todo o género.

Almocei nesta avenida num pequeno café, um café com leite, um pastel de carne e dois bolos…foi o meu almoço.

Aí a meio da avenida encontrei um grande armazém, uma espécie de centro comercial, que percorri nos seus dois andares. É muito maior que o GUM de Moscovo, com muita variedade de produtos, predominando o vestuário e calçado. Comprei uma mala e tive vontade de comprar mais coisas, pois para mim os preços são muito baixos, mas tive de resistir, porque já tenho a mala muito cheia.

Não cheguei ai fim da rua, voltando para trás, porque estava na hora de regressar ao hotel.







Agora em sentido contrário, encontrei muitas livrarias, tendo entrado em três, onde comprei um pequeno livro com mapas da União Soviética e uma colecção de gravuras. Tive de resistir a comprar mais coisas, como catálogos sobre pintores, porque o formato era muito grande, mas os preços eram muito baratos. As livrarias tinham milhares de livros, mas tudo em russo.

Encontrando-me novamente junto ao Ermitage, caiu uma chuva torrencial, durante uns 15 minutos. O tempo aqui tem estado muito quente, acima dos 30 graus. Quando acabou de chover era uma sensação estranha sentir o calor que estava e a àgua da chuva que se evaporava rapidamente com o calor.

Daí até ao hotel levei mais uma hora, atravessando a grande ponte frente ao Ermitage e deslocando-me pela margem do rio Neva., do lado contrário do museu.

Cheguei estourado ao hotel, mas ainda fui ao bar da noite anterios.

Amanhã, depois de uma última vista à cidade, partimos para Moscovo.

2 de Agosto.


Último dia em Leninegrado.
De manhã visitámos a fortaleza de Pedro e Paulo, construída por Pedro o Grande, e que foi uma prisão. Aí existe uma Igreja, espécie de penteão, onde estão sepultados os czares mais famosos, como Pedro o Grande, Catarina I e Catarina II, entre outros.
Estava patente ao público uma exposição sobre a dinastia dos Romanov, derrubada pela Revolução.




Por aqui nota-se algum saudosismo em relação aos czares, pois Leninegrado era a cidade do czares, uma forma de contestar o poder soviético, representado pelo poder central de Moscovo. Entre Leninegrado e Moscovo existe uma grande rivalidade, acima das querelas políticas, um pouco como entre o Porto e Lisboa ou Madrid e Barcelona.

De tarde tivemos duas horas livres. O autocarro deixou-nos a meio da Avenida Nevsky, perto do lugar onde tinha ficado ontem. Aproveitei para percorre a outra metade dessa avenida que não tinha conseguido visitar na véspera. Mesmo assim a avenida é tão grande que não consegui chegar ao fim.

Nesta avenida há muita gente a vender sorvetes, fruta, pepsi-cola, jornais, livros….

Esta avenida é um autêntico formigueiro, como a Baixa de Lisboa à hora de ponta, mas deve ter muito mais que o triplo de extensão desta.

Os prédios são muito bonitos, construídos quase todos depois da segunda Guerra, pois Leninegrado esteve mais de 900 dias cercada pelos nazis, conseguindo resistir-lhes, tendo parado aí o avanço das tropas de Hitler.

No regresso assisti a um meeting numa passagem subterrânea para peões. Um homem dizia frases em forma de poema ou teatral, que percebi serem referências à situação politica actual, e depois tocava baladas de intervenção acompanhado por uma guitarra. Estava muita gente a assistir e as reacções eram positivas, alguns riam com as graças, mas eu não percebi o que ele dizia.

Voltei ao armazém que tinha visitado na véspera e comprei um boné “à Lenine” que me custou 14 rublos (cerca de 70 escudos  […menos de meio euro].

Regressei à camioneta que nos aguardava no sitio combinado.

Ainda fomos visitar o Palácio de Verão de Pedro o Grande, muito diferente dos outros que vistámos. O palácio parece uma pequena vivenda rodeada de um jardim, com uma vista para o Neva.O anterior está mobilado como o deixou Pedro o Grande.





Jantámos ainda no Hotel e partimos então para a estação de comboio, para voltarmos a Moscovo.

De facto, S.Petersburgo é a designação mais adequada para a cidade de Pedro o Grande. A sua memória está por todo o lado.

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