A Censura tem sido uma presença constante no Carnaval de Torres (ver AQUI o que escrevemos sobre o tema).
Costumamos estar habituados a uma censura feita "à descarada" e escapa-nos, muitas vezes, a censura mais subtil, muitas vezes exercida nos bastidores.
O que aconteceu este ano enquadra-se neste último caso.
Como todos sabem, o Carnaval de Torres deste ano ficou-se pela inauguração de um monumento, que procurou homenagear os profissionais que têm estado na linha da frente, para combater a epidemia ou manter o país em funcionamento (talvez com um esquecimento mais notado, o da actividade dos professores nesta conjuntura).
Para além do monumento, a crítica social e política habitual neste Carnaval foi, de forma inteligente, incluída no écran de um conjunto de "telemóveis" gigantes, uma referência ao meio de comunicação mais usado pelos cidadãos, obrigados ao confinamento e ao distanciamento físico.
A SIC, no passado dia 12 de Fevereiro, realizou uma reportagem onde deu grande destaque aos "cartoon´s" incluídos num dos lados do tais "telemóveis" gigantes (ver AQUI) .
Ao visionarmos a reportagem, confirmámos o que já desconfiávamos, que não iriam mostrar um desses "cartoon´s", aquele que reproduzimos em cima.
Porque é que não nos espantámos? Porque no dia em estivemos a fotografar o tal monumento estava lá uma equipa da RTP (uma jornalista e um operador de Câmara) e, ainda antes de percebermos o alvo da conversa, ouvimos a jornalista a dizer para o operador :"vamos lá ver se nos deixam passar isto".
O "isto" era o mesmo "cartoon" "censurado" na reportagem da SIC.
Ou seja, o poder da SIC é tal na comunicação social que até condiciona as opções editoriais de outros orgãos de comunicação.
E qual o motivo do subtil acto de censura, na televisão que se acha a campeã da liberdade de informação? Uma alusão à SIC, à TVI e à CMTV como metáfora de uma esquina de prostitutas.
Claro que é um acto subtil de censura, o de optar por não reproduzir um cartoon de Carnaval, quando a reportagem reproduz quase todos, disfarçado de "opção editorial", uma forma civilizada e legal de censura em democracia, mas revelador da forma como se condiciona a informação nalguns órgãos de comunicação social, e até do poder corporativo de um classe profissional como a dos jornalistas.
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